Renata CCS 20/05/2014Seca pela falta de chuva, de esperanças, oportunidades, justiça, respeito, educação e civilidade.
“Se a igualdade entre os homens - que busco e desejo - for o desrespeito ao ser humano, fugirei dela.” (Graciliano Ramos)
VIDAS SECAS conta a famosa história de uma família de retirantes impelida pela seca nordestina. Fabiano, monossilábico e rústico, grunhe e resmunga, não tem estudo algum. É branco, ruivo e de olhos azuis, e extremamente seco, A esposa, sinhá Vitória, é quem sabe de alguma coisa, e sua sina é almejar a estabilidade. Ela quer uma vida melhor e expressa isso no desejo de ter uma cama. São acompanhados pelos filhos, o menino mais novo e o menino mais velho. Não são atribuídos nomes aos meninos pelo autor, enfatizando sua total falta de identidade ou raízes. A cachorra Baleia, ao longo de todo o romance, sonha, sente alegria, tristeza e dor, ganha um belo e triste capítulo à parte. Cabe a ela o momento mais dramático da narrativa, e coloca sua “visão” com relação a sua condição humanizada.
Graciliano Ramos não trata apenas dos problemas da seca, ele apresenta as mazelas vividas por homens simples totalmente oprimidos pela natureza e pela sociedade. Estamos diante de um romance triste: cheio de tensões críticas entre o homem e o seu meio, um meio natural, hostil e seco. Muito seco. Mas o livro favorece uma excelente reflexão acerca do que é ser homem e de sua existência em um meio pouco favorável.
A linguagem utilizada é tão concisa e dura quanto é a história escrita. Há um traço pessimista, mas também uma tênue esperança. É uma prosa moderna muito bem delimitada: o romance traz uma concepção geral sobre o que é o Brasil em suas entranhas, suas riquezas e pobrezas, uma cultura própria e original do povo brasileiro. Graciliano Ramos não fez apenas uma literatura que aborda uma região do Brasil, mas a realidade como um todo.
Vozes deslocadas e sem ouvintes, seca e fome andarilhas, diálogos magros em gordas narrativas, onde tudo é ruína, perda. É assim que GR nos presenteia com sua obra e faz-nos encontrar um olhar crítico sobre o mundo que retrata. O livro é daqueles para ser lido e relido, para ser apreciado a cada frase, um livro que fica conosco para sempre.
Por esta obra única e por tudo que represente na literatura nacional, Graciliano é leitura indispensável!