Daniel 19/01/2018Sobre PêssegosEste livro tem uma história bastante simples e linear. Não há grandes reviravoltas na trama, a não ser, é claro, no coração adolescente do protagonista narrador. E isso o livro retrata muito bem: aquele verão que muda a vida da pessoa, quando nos apaixonamos pela primeira vez. E dá-lhe sofrimento, dúvidas, insônias... e deleites.
O autor soube captar muito bem a atmosfera daquela passagem conturbada da adolescência para a vida adulta, aquele turbilhão de sensações (negação, reconhecimento, assimilação, aceitação). Soube também com precisão dosar a sensualidade e o erotismo sem parecer grosseiro ou piegas.
Agora, o que realmente me agradou neste livro foi a ausência de violência, homofobia, doença e morte, temas que sempre aparecem em livros com temática gay. É claro que estamos muito distantes de um mundo sem homofobia. É óbvio que a literatura e as artes de um modo geral também servem como denúncia... Alguns leitores até poderão achar que o cenário paradisíaco italiano e os pais do Elio, tão compreensivos, são idealizados demais... Mas achei muito reconfortante ver retratado este outro lado: uma história de amor, de amadurecimento, autoconhecimento. Como aquela nostalgia boa que sentimos de um verão inesquecível.
E sobre o filme, há algumas diferenças com o livro: as cenas de sexo são bem mais pudicas no filme; no filme não há a menina Vimini; no livro a estória continua décadas depois da despedida dos protagonistas. O roteiro bem amarrado, os atores escolhidos (apaixonantes), as lindas locações na Itália, a trilha sonora... Tudo torna um caso raro no qual podemos dizer que o filme é tão bom quanto o livro.