Julia G 26/04/2017Eu e você no fim do mundoSiobhan Vivian já é conhecida dos leitores por ser coautora da série Olho por Olho com Jenny Han. Particularmente, eu nunca tinha lido nada escrito somente por ela. Isso mudou com Eu e você no fim do mundo, um YA amorzinho lançado pela Editora Intrínseca em fevereiro ♡.
Eu jurava que a história de Eu e você no fim do mundo era uma distopia. Não sei ao certo o que me levou a pensar isso, se foi a capa ou o título, mas eu tinha absoluta certeza do gênero, até começar a ler. O fim do mundo, na verdade, não é o fim do mundo literal, mas o fim de tudo aquilo que a protagonista, Keeley, conhecia - sua cidade, sua antiga vida, suas melhores lembranças. O fato de ser um YA e não uma distopia me deixou realmente surpresa, mas não tirou nada do brilho da obra.
Na trama, narrada em primeira pessoa por Keeley, vemos a cidadezinha de Aberdeen sofrer as consequências de um período intenso de chuvas e, como “solução” para o problema, a apresentação de um projeto de alagar a cidade e transformá-la em uma represa. Junto ao receio de ver tudo o que conhece mudar, Keeley ainda precisa enfrentar as descobertas da adolescência, as transformações de suas amizades e as consequências de cada pequena decisão.
Keeley é completamente sem noção, não vejo forma de descrever melhor a personagem. Até entendo sua necessidade de aproveitar todos os momentos em sua cidade antes que seja tarde, se divertir e fazer piadas para aliviar a tensão, mas às vezes ela é bem inconveniente, porque não sabe dosar o momento para esse comportamento. Algumas atitudes da personagem me faziam revirar os olhos, porque eram totalmente inadequadas. Mesmo assim, essa falta de filtro da protagonista trouxe alguns momentos bem divertidos, e acho que é por isso que não dei muita importância a esse inconveniente.
"- Ué, fala. Agora quero saber. - Levi se virou para mim e revirou os olhos. - Qual o problema em se divertir um pouco?
- Porque nem tudo deve ser transformado em diversão, ok? - Ele atravessou o cômodo e se agachou diante de uma máquina, uma espécie de caldeira, e começou a mexer nas válvulas. - Nem sei por que me importo. Tudo bem. Abandone o trabalho e me deixe aqui fazendo tudo sozinho. Vá para a casa da diretora e comece um incêndio, se é o que quer. Divirta-se."
Um aspecto interessante da trama é que ela é leve e densa ao mesmo tempo. Os capítulos do livro não são muito longos, mas Siobhan Vivian é detalhista em sua narrativa, o que dá complexidade à história. Além disso, a autora não se preocupou apenas em descrever situações banais da vida de uma adolescente e quis mostrar coisas mais sérias, como a importância que tem a voz dos cidadãos ao se posicionarem sobre os assuntos que lhes afetam, a relevância da vida em comunidade e os interesses políticos em volta de decisões que visam (em tese) o bem comum.
Mais do que isso, o livro conseguiu mostrar que ninguém está livre de errar, nem mesmo as pessoas em que mais confiamos. E isso só mostra o quanto é preciso reconhecer o erro e crescer com ele, melhorar. Eu vi isso em Keeley, no pai dela, em Jesse, em Morgan, e em vários outros personagens. Acho que essa foi a mensagem mais clara deixada pelo livro: que não importa o quanto doa, as coisas não vão continuar sempre iguais, porque é preciso crescer. E que, diante de novas situações, talvez seja preciso adotar novas atitudes.
"Foi quase perfeito demais que Jesse, naquele momento, tivesse voltado à sua versão piadista padrão. Era mais fácil assim. Também foi uma confirmação imediata de que eu tinha tomado a decisão certa ao não ficar com ele, pois, de repente, eu não estava mais interessada no que era fácil."
Adorei a forma como a autora retratou as transformações da amizade entre Keeley e Morgan e me emocionei em diversas passagens. Achei tocante acompanhar o quanto elas precisaram se afastar para compreender a si mesmas, para somente assim se reencontrarem uma na outra. Também gostei muito do papel de Levi, o único com quem Keeley conseguia demonstrar todo o seu mau humor, seu lado mais crítico, e o fato de fazer isso não a tornou uma pessoa mais chata, e sim mais completa.
Eu e você no fim do mundo trata das transformações trazidas em um período tão crítico que é a adolescência, quando se deixa para trás a criança que era e precisa descobrir o adulto que quer ser. É uma história sobre primeiro amor, sobre amadurecimento e, mais do que tudo, sobre amizade. É fofinha e uma delícia de ler. Isso tudo ainda "embalado" para presente em uma capa linda, com detalhes holográficos e que tem tudo a ver com o enredo.
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