Talita 20/01/2016A mulher que roubou a minha vidaA mulher que roubou a minha vida é dividido em três partes, mas dá pra pensar nele em duas. No primeiro momento sabemos da doença rara que paralisa todos os membros de Stella, a narradora, e que a deixa no hospital por um bom tempo; no segundo momento, ela viaja para Nova York para lançar o livro que escreveu depois de se recuperar. Mas estamos falando de Marian Keyes: a hora do perrengue pode ser engraçada, assim como a da glória pode ser… não tão gloriosa.
Eu li o livro sem saber nadica da história, e foi muito bom, porque era surpresa atrás de surpresa – até a metade eu não tinha a menor ideia do que estava por vir. Achei que a doença rara de Stella ia ser o ponto central da trama, mas me enganei feio. Detestei, depois gostei, depois não gostei do mocinho – e não falo da minha opinião final para não influenciar a sua opinião. Acho que os interesses amorosos são os personagens mais diversificados do universo da Marian Keyes. Não digo mais para não estragar.
Sabe aquela personagem que você adora, mas que é de dar nos nervos? Que dá vontade de estapear e gritar “ACORDA!”? Pois é, Stella é assim. Ela não tem uma autoestima muito boa. Eu sei que muita gente foge de personagens assim, mas acho que acaba sendo um mérito da autora quando ela consegue libertar um sentimento desses no leitor. Não me incomoda acompanhar uma protagonista sem pulso, desde que toda a trama dê um significado para o jeito de ela ser. O importante é ter propósito. E aqui em A mulher que roubou a minha vida, o complexo de inferioridade de Stella e as atitudes resultantes disso fazem todo o sentido.
Ela vem de uma família da classe operária de Dublin e sua criação sempre foi a de uma pessoa pragmática e simples, mas isso acabou sendo tão extremo, que de repente aquilo que era humildade virou falta de amor próprio. Em vários momentos vemos alguém dizer que Stella não é tão boa em algo, e ela simplesmente concorda e não se magoa: apenas concorda, como se isso fosse verdade absoluta e não fosse nada de mais. A única pessoa a dizer o contrário, é claro, é o mocinho da história. Mas como convencer uma mulher, que passou a vida inteira sem saber aceitar elogios, de que ela pode ter muito valor? Essa vai ser a jornada desses dois e, claro, no meio disso muitos outros personagens vão aparecer para atrapalhar, como o filho mimado de Stella e uma “amiga” que quer justamente o que Stella está conseguindo.
Eu adoro os Walsh – a família que aparece em muitos dos romances da Marian Keyes – e tenho um carinho especial pelos livros em que eles dão as caras (Melancia e Férias!, por exemplo) mas encontrei um amor novo pelos personagens de A mulher que roubou a minha vida. O que Stella passou na UTI, assim como a fase da vida em que ela está – que, não por acaso, coincide com a da autora –, tudo conseguiu ser emocionante e engraçado, despretensioso e ao mesmo tempo profundo. Desde que a conheci em 2010, eu já me sentia unha-e-carne com a Marian Keyes. Agora, eu mal posso esperar para encontrá-la de novo.
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