Sabrina758 20/06/2022
Ao longo de 3 cadernos narrando infância, adolescência e adultez, vamos conhecer a difícil vida de Yozo, com traços autobiográficos do autor. Desde o início, ele sofre com a sua inadequação. Não sabe o que fazer ou como lidar com as situações que se apresentam no dia a dia, por mais simples que sejam, especialmente as suas angústias. Então, seu mecanismo é fazer piada e graça com tudo, ainda que por trás dessa máscara de palhaço ele esteja sofrendo. Não consegue dizer não e teme tanto o convívio com as pessoas que aceita tudo para não ter que lidar com a decepção alheia, participando ativamente no seu sofrimento e se afastando cada vez mais das coisas que poderiam trazê-lo felicidade e satisfação. Ele não entende qual é o sentido de viver, a única coisa que ele sabia fazer era seguir os caminhos que os outros apontavam para ele. Deprimido, dependente de álcool e drogas e comportamento suicida, teve relações problemáticas com mulheres ao longo de sua vida. Foi violado na infância e isso fez com que ele tivesse uma visão igualmente nociva de relacionamentos. Foi uma vida difícil, recheada de tragédias e dor, rasgando de si sua humanidade, padecendo em vida. Eu senti tantas coisas ao longo dessa leitura. É notável o escárnio e desprezo por si mesmo, uma mente adoecida de quem não tinha outra opção a não ser passar pelo que passou. Pensei no tanto que viver, por vezes, é insuportável. Senti tanto por ele, em vários momentos queria poder prová-lo que sim, apesar de tudo, existem pessoas boas e compreensivas nesse mundo. Há esperança e, de fato, tudo passa. Poderia passar horas falando sobre esse livro e, mesmo assim, não conseguiria relatar a experiência que foi lê-lo. Uma escrita dura, sem rodeios, mas de uma forma que nos prende e faz apertar o peito, às vezes até dar risada em meio ao caos. É uma pena que a obra do autor não seja difundida no Brasil, mas com certeza vou atrás dos outros livros em inglês. Recomendo, mas com cautela, tem muitos gatilhos.