Lina DC 16/04/2017A trama é narrada em terceira pessoa e tem como protagonista a inspetora Amaia Salazar, uma mulher na casa dos trinta anos, casada com James, um artista, com quem mora em Pamplona. Amaia é esforçada, dedicada ao trabalho e até mesmo passou um tempo estudando no FBI, onde aprendeu algumas técnicas para realizar perfis. É uma pessoa que se joga de corpo e alma ao que faz, mas que tem passado por turbulências internas, relacionadas ao seu passado e as dificuldades de engravidar.
"Uma maternidade com a qual queria compensar, mesmo em outro ser humano, mas que fosse sangue de seu sangue, a infância feliz que ela não tivera e a ausência de amor que sempre sentira em uma mãe torturada." (p. 120)
Tudo começa quando Amaia e outros inspetores com quem trabalha são chamados a uma cena do crime nos bosques ao redor de Elizondo, onde uma jovem foi encontrada morta.
"Ainhoa Elizasu tivera em vida belos olhos castanhos que agora miravam o espaço infinito suspensos em uma expressão de surpresa. A cabeça estava levemente inclinada para trás, deixando ver uma parte da corda áspera que afundara na carne de seu pescoço até quase desaparecer." (p. 12)
Além de ter sido um homicídio hediondo, o grande problema é que algumas semanas antes outro crime semelhante aconteceu e Carla Huarte, foi encontrada sem vida. A polícia até mesmo prendeu o culpado, seu namorado Miguel Ángel de Andrés, que jura sua inocência. Mas se ele está preso e é o responsável, como explicar a morte de Ainhoa? A resposta lógica é simples: prenderam a pessoa errada e existe um serial killer na área.
Como os crimes ocorreram na jurisdição da cidade de Elizondo, onde Amaia nasceu e cresceu, seu chefe a coloca como líder do caso. Ser colocada como chefe, divide a opinião dos colegas de trabalho que não apenas duvidam de sua capacidade, como desdenham de suas habilidades apenas pelo fato de Amaia ser mulher.
De sua equipe, vão para Elizondo o subinspetor Jonan Extaide, que é antropólogo e arqueólogo e o Inspetor Fermín Montes, um homem divorciado e cheio de ressentimentos. Enquanto que Jonan tenta aproveitar ao máximo para aprender as técnicas de investigação da protagonista, Fermín faz de tudo para atrapalhar a Inspetora e desmoralizá-la diante da polícia local.
Além da complexidade do caso, Elizondo é um vilarejo isolado, uma comunidade onde todos se conhecem e que por estar próxima a bosques e locais, possuí lendas e mitologias próprias. E uma delas acaba se enredando aos crimes, a do basajaun.
"...um basajaun é uma criatura, uma espécie de homem de uns dois metros e meio de altura, com costas largas, longa cabeleira e bastante pelo por todo o corpo. Vive nos bosques, dos quais faz parte e nos quais atua como entidade protetora. Segundo as lendas, ele cuida para que o equilíbrio do bosque se mantenha intacto. E, embora não se mostre muito, costuma ser amistoso com os humanos." (p. 103/104)
Para Amaia, o caso é um marco importante em sua carreira, mas retornar para Elizondo reabre feridas que ela nem mesmo sabia possuir. Ao ficar na cidade, ela precisa lidar com suas duas irmãs: Flora e Rosaura e sua tia Engrasi. Flora é a mais velha e aquela que se acha a perfeição em pessoa, julgando e humilhando as demais enquanto que Rosaura é aquela que aguenta os desaforos calada, aturando cada palavra afiada jogada em sua direção.
A partir da chegada de Amaia à Elizondo, a autora incluí flashbacks da primavera de 1989, período em que a vida da protagonista deu uma guinada.
A trama é muito bem desenvolvida e tem o equilíbrio certo em investigação criminal, a vida pessoal dos personagens e o aspecto sobrenatural.
Os personagens são bem construídos e fica claro que existe tensões entre alguns deles, o que torna o cotidiano complexo e irresistível para os leitores.
Em relação à revisão, diagramação e layout a editora Planeta realizou um ótimo trabalho. A capa chama a atenção e combina com o conteúdo.
"Havia morrido. Soube com a mesma certeza com que antes sabia que estava viva. Havia morrido. E da mesma forma que estava consciente de sua morte, estava consciente de tudo que acontecia ao seu redor. O sangue que ainda brotava de sua cabeça, o coração detido no meio de uma pulsação que nunca mais terminaria." (p. 161)