Nu e As 1001 Nuccias 22/07/2016Resenha do Blog As 1001 NucciasEm vários momentos da minha vida de leitora (quase toda minha vida, diga-se de passagem), eu já me deparei com livros que você termina de ler e fica parada olhando pro nada, sem saber muito bem como reagir, se é que dá pra reagir. Você tenta começar outros livros e não consegue. É a famosa ressaca literária e é a 2ª vez que a tenho em menos de 2 meses!
Em Uma Canção para a Libélula Parte 1, somos apresentados a Vanessa Santos, uma famosa pianista, nascida no Brasil, mas morando há 13 anos com seus tios em Londres, Inglaterra. Aos poucos, sua personalidade e sua história são desnudadas aos leitores. Vanessa está sempre fingindo: detesta ser o centro das atenções, ter todo aquele público olhando para si, ter de participar de coquetéis exibindo um sorriso marmóreo à pessoas a quem nunca conheceria de verdade.
E então tem de enfrentar um desafio: dizer ao namorado que recusava seu pedido de casamento. Há no passado de Vanessa coisas que ela tenta não se lembrar, mas que não saem de sua mente momento algum. E quando ela recebe a notícia que tem de voltar ao Brasil para acompanhar e cuidar um pouco da saúde do pai, tudo retorna e retorna com força. Mas a Vilã Cinzenta não tinha se afastado, nem em sonhos.
anessa é uma personagem quase indescritível. Sempre introspectiva e pouco social, é sob sua ótica que conhecemos seu mundo, seu passado, suas dores e traumas, sua visão da família e dos acontecimentos. É sob sua ótica que entendemos o amor que tem pelos tios e pela prima Becca que a acolheram sem pensar 2 vezes, pelo pai que sempre tentou cuidar dela (mas não fez isso muito bem) e é sob sua ótica que somos apresentadas à sua mãe, Valéria.
Valéria é, no mínimo, instável. Quando se descobriu grávida de Vanessa, estava quase assinando contrato com uma agência de modelos. A gravidez impediu; a culpa e frustração foram todas jogadas nos ombros da filha. Não há um minuto em que Valéria não esnobe ou desmereça Vanessa, ao mesmo tempo em que enaltece André, o mais velho.
Não é que seu pai não a amava. Amava, sim, muito mesmo, mas sempre deu à esposa toda sua atenção, ignorando sua influência sobre a filha, ignorando tudo que a filha deveria estar sentindo. Quando sua irmã levou Vanessa para Londres, ele apenas agradeceu, concordou com visitas esporádicas e telefonemas em datas especiais.
Então agora, só resta dar minha opinião. Eu ainda estou meio sem saber o que dizer deste livro incrível! Jubs pegou suas experiências pessoais, uniu ao conhecimento acadêmico (em psicologia) e criou livros peculiares, que mostram os sentimentos por dentro.
Com uma escrita cadenciada, simples e bonita, quiçá uma prosa poética, o livro tem um tema pra lá de atual que foi escrito esmiuçando um pouco do lado obscuro, desconhecido e muitas vezes incompreendido da mente humana.
Se não fosse por esse livro, eu nunca teria confirmado que tive realmente uma leve depressão no início da surdez. As sensações estavam todas lá: a raiva inicial, a apatia, o desgosto, a vontade de não pensar ou se importar (ou seria melhor dizer a ausência de vontade para tentar mudar).
Da mesma forma que a personagem, eu lutei para não ir ver alguém que pudesse me ajudar, pelo exato mesmo motivo: não me achava com problema algum. Mas diferente dela, quando fui, me empenhei realmente na conversa, na análise e não precisei de medicação.
Jubs mostrou cada sentimento, cada sensação, cada visão que Vanessa teve ao longo de sua vida, o que a levou a estar assim e o que a família fez que só piorou seu estado. A narrativa em primeira pessoa nos ajuda a imergir no mundo sombrio de Vanessa e nos põe muitas vezes para pensar se era apenas ela, ou se a autora ou você estavam no livro também.
A impressão inicial que temos é a de que Jubs criou a personagem Valéria, a mãe, de forma meio forçada, deixando-a um pouco previsível, mas como a história deixa pontas soltas (como qual foi o trauma inicial, por exemplo), e há um prólogo bastante significativo, escrito sob o ponto de vista da Valéria, creio que tudo será explicado no segundo e último livro.
E o final? A história para no auge, lembrem que esta é apenas a parte 1. Se não fossem tantos prazos e trabalhos (afinal, meu emprego continua, né...), juro que já teria devorado a parte 2, mas prometo (palavra de bandeirante!) que a resenha sai ainda em agosto!
Não é o primeiro sick-lit de que gosto (sim, tem pelo menos 1 ou 2, nada tão chocante assim), nem o primeiro drama, mas com certeza absoluta é o primeiro que favoritei. E se reclamar, favorito de novo!
Por fim, gostaria de enfatizar que eu não só recomendo o livro, como ainda faço a maior questão de subir em um palanque e discursar sobre a beleza das palavras usadas, a forma como foi escrito, sobre a importância dele e de seu tema para a sociedade hoje em dia. Não dá mais pra esconder, não é certo deixar pra lá.
**Leia a resenha completa no blog, com fotos e citações!
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