Ju 16/06/2014Quem Teme a MorteNão sei nem como começar a falar sobre esse livro para vocês. Ele não é nada do que eu esperava. Bom, temos a sinopse, que nos diz que a história se passa em uma terra devastada por uma "hecatombe nuclear". Claro que posso ter entendido tudo errado, mas não encontrei nada disso durante a leitura. Ok, hecatombe é o sacrifício de várias vidas - tive que pesquisar -, mas não tenho a menor ideia do que o termo nuclear está fazendo junto dessa palavra.
Também não consegui entender porque foi classificado como distopia. O romance se passa na África, e a única pista que encontrei de que se passa no futuro é que existem equipamentos tecnológicos abandonados em uma caverna, para tentar aplacar a ira de uma espécie de deusa que não gostou nada de eles terem sido criados.
Existem dois povos: os okeke e os nuru. Os okeke, segundo o Grande Livro, que contém informações sobre a criação do mundo e os motivos de ele ser como é, foram os primeiros seres a existir. Após terem irritado a deusa, foram castigados com a criação dos nuru - seu destino, a partir daí, era a escravidão. No mundo em que a autora descreve, existem regiões em que esse destino se concretizou, regiões em que os okeke são constantemente dizimados, e regiões em que vivem livres, sem nem tomar conhecimento da forma em que vive o restante de seu povo.
Nas regiões em que os nuru escolheram dizimar os okeke, muitas vezes eles aparecem com o objetivo de matar os homens e estuprar as mulheres, para que gerem filhos deles. Esses filhos são chamados de ewu, e todos acreditam que o seres desse tipo sempre acabam se tornando pessoas violentas, por serem filhos da violência. A heroína do livro, Onyesonwu (nome que quer dizer "quem teme a morte), é uma ewu. Em seus primeiros anos, viveu no deserto, até que sua mãe decidiu que era hora de as duas irem viver em uma cidade. E é nessa cidade que Onye começa a traçar seu destino.
A protagonista é uma personagem fascinante. Extremamente teimosa, mas de um jeito bom. Não suporta injustiça, não suporta pré-julgamentos. Acompanhamos a vida de Onye mais de perto dos 11 aos 20 anos, mas ela nos conta coisas desde que foi concebida. É obrigada a crescer e a aceitar que seu destino não será nem um pouco parecido com o que ela desejaria. Mas não tenta fugir dele, o encara e segue em frente. Temos várias outras personagens tão fascinantes como ela.
O livro é muito bem escrito. Apesar de ser altamente complexo, tem uma narrativa que me fez ir até o fim e que me manteve interessada durante todos os acontecimentos. Mas ele aborda aspectos da cultura africana e, como não sei nada sobre ela, ficou difícil para mim definir o que seria baseado numa realidade existente e o que foi invenção da autora. Além disso, existem cenas bem violentas e difíceis de digerir.
Não consegui entender o final. É descrita uma coisa, depois é descrita outra completamente diferente. Não sei o que realmente aconteceu até agora. Fui pesquisar a respeito do livro para saber se era uma série e não encontrei nenhuma informação. Como ele foi publicado em 2010 nos Estados Unidos, acredito que se trate mesmo de um livro único, o que quer dizer que terei essa dúvida sempre comigo.
Enfim, gostei da leitura, mas fiquei bem insatisfeita com a forma com que o livro terminou. Prefiro narrativas que apresentem um final em que tudo é bem amarrado; em que os fatos ficam claros e os destinos de todas as pessoas definidos. Isso não aconteceu. Mas, se você não se incomoda com isso, e gosta de ler livros que te apresentem culturas diferentes, leia.
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