Thay 27/12/2022
ERAGON: UMA JORNADA ÉPICA
Minha paixão pela história de Eragon começa na minha infância, com o filme lançado em 2006. Dragões, criaturas mágicas, magia e aventuras é tudo aquilo que eu mais amo em uma boa história e Eragon, de Christopher Paolini, consegue trazer todos esses elementos de uma forma harmônica e muito envolvente, pelo menos, para mim. O universo de Eragon é fantástico e a narrativa do primeiro livro é a introdução perfeita para todo o contexto, revelando as guerras e conflitos que o personagem e seu mundo estão inseridos, o que justifica a jornada que se estende ao longo das páginas e o conflito final ser mais rápido. Sendo possível supor que a história se desenvolverá muito mais complexa ao longo do Ciclo da Herança. O que me deixa bastante animada!!
Lendo resenhas sobre o primeiro livro do Ciclo da Herança, me deparei com várias críticas acerca da personalidade de Eragon e o absurdo que foi um "velho barbado", referindo-se a Brom, irresponsavelmente acompanhar um adolescente em uma aventura atrás de vingança. Além destas, vi também comentários sobre a lentidão para os acontecimentos e como a narrativa traz somente a jornada do protagonista de uma ponta a outra na terra de Alagaësia. Ao me deparar com esses comentários, fiquei receosa pela leitura do livro, porém, meus sentimentos sobre a obra foram o oposto das críticas, considerando alguns pontos acerca da construção da trama.
Vamos ao primeiro. Eragon foi escrito e criado por Paolini aos 15 anos. Ninguém nessa idade era/é maduro o suficiente e penso que o personagem foi criado a partir de quem era o autor naquela idade, refletindo sua mentalidade e consciência de mundo, o que pode significar que Eragon amadurecerá com o passar do tempo, assim como seu autor. Dessa forma, a personalidade do protagonista e seus feitos, muitos deles impulsivos, são esperados se considerada sua idade e trajetória de vida. Harry Potter era uma criança extremamente complicada, além de encrenqueiro, era um aluno totalmente desinteressado e nada dedicado, o que o colocava e aos outros em risco. Ainda assim, seu destino foi definido desde o dia em que se tornou "o menino que sobreviveu". Nesse sentido, é possível compreendê-lo por sua trágica história de vida que reverbera nos eventos dos sete livros. O mesmo deveria ser considerado sobre Eragon, sendo ele um menino que cresceu sendo criado pelo tio, sem saber nada sobre seus pais - a não ser o nome de sua mãe -, passando dificuldades e vivendo em um reino governado pelo monarca tirano Galbatorix, um antigo, experiente e violento Cavaleiro de Dragão dominador de magia.
O segundo ponto, referente a Brom segui-lo em sua aventura e orientá-lo em sua trajetória para tornar-se um Cavaleiro de Dragão, é uma questão super explicada na trama. Dessa forma, não tem o que questionar sobre a postura e decisões de Brom. Ele se dispôs - como uma missão - a treinar e ensinar Eragon enquanto fosse possível, ao mesmo tempo a própria trama mostra a sensibilidade de Brom diante do destino de Eragon e ao próprio menino a quem se afeiçoa, revelando uma relação de carinho e cuidado. Acredito que a história de Brom e Eragon se estenderá nos próximos livros com algo a mais, isto é, penso que há um motivo maior para o cuidado e atenção de Brom para com o protagonista. Inclusive, considero uma relação muito muito bonita.
O terceiro ponto é sobre os acontecimentos serem lentos. Não concordo, posto que é nítido que Paolini tinha pretenção de dar continuidade à história, basta prestar atenção nas previsões de Angela para a vida de Eragon. Sendo assim, ele utiliza deste livro como uma introdução ao universo épico de Eragon, isto é, mostra as terras da Alagaësia e menciona as terras para além dessa, as criaturas máginas, a política, a organização das cidades, a personalidade dos personagens e principalmente de Eragon e de Saphira. O livro 1 é justamente para mostrar o início de uma nova era de cavaleiros de dragão dentro de um cenário de tirania e violência que deverá ser combatida e Eragon como o centro dessa trama, justificando seu nome e seu destino, pois o primeiro cavaleiro de dragão possuia seu nome. Enfim, os acontecimentos dessa história são para introduzir o leitor nesse mundo. Outra justificativa que tenho sobre não concordar que os eventos são lentos é que tive a impressão que acontecem muito muito rápido, pisquei e os capítulos passaram, os personagem já tinham superado mais uma etapa, atravessado mais uma cidade, passado por mais um problema e aprendendo mais em cada uma delas.
Na minha perspectiva, um ponto fraco na narrativa foi a falta de um plot twist. Talvez ele tenha surgido sutilmente perto do final, com a revelação da identidade de Murtagh, que pode dar uma continuação interessante nos eventos posteriores ao primeiro livro. Fico aguardando ansiosamente um boom em Eldest, que devo começar o quanto antes, pois já tenho em mãos. Os pontos fortes do livro são vários, é uma história que evoca uma jornada épica, cheia de desafios e aprendizados, laços de amizade e parceria, mistério e política, não foca em romance (ainda que eu saiba que isso aparecerá mais para frente), mas em superação e amadurecimento. Os personagens são bem construídos, há diálogos excelentes, reflexões interessantes que me permitiram realmente mergulhar no mundo fantástico criado por Paolini. Saphira é linda e eu amei acompanhar seu crescimento e ver toda sua sabedoria e carinho para com Eragon e a criação de um laço tão forte e mágico. A propósito, se eu já amava dragões antes, com Saphira aprendi a amar mais, especialmente porque ela consegue aparecer na história não como um "animal de estimação" ou uma "arma", mas como um personagem ativo, influente, com desejos, pensamentos, emoções. Amei que ela pode falar, ainda que em pensamento com Eragon, e que seus diálogos tenham ficado tão bem colocados na história, mostrando sua importância nos acontecimentos.
O livro é com-ple-ta-men-te diferente do filme, até onde me lembro. O que me deu mais motivação para continuar a leitura. A edição de 2005 da Rocco é linda, a capa maravilhosa com a carinha da Saphira, o mapa no início é excelente, me peguei várias vezes dando uma olhadinha para ver onde estavam os personagens em determinados momentos de suas jornadas. As folhas não são brancas e a fonte está em tamanho e espaçamento ótimos, mostrando um trabalho de diagramação e editorial perfeito e cuidadoso. Os capítulos e parágrafos são médios, o que não torna a leitura cansativa ou pesada, ainda que o livro seja um pouco denso, considerando suas 466 páginas.
Sem dúvidas é um livro que eu indico para quem gosta de uma aventura jovem, com elementos fantásticos e um cenário medieval, com um final que dá a entender que uma nova aventura surgirá, com novos desafios, possivelmente muito mais complexos, que darão uma visão mais ampla sobre o protagonista, mas também de todos e tudo que o cerca. Eragon é uma história que eu já tinha muito carinho e, com certeza, ganhou muito mais meu coração.