A guerra do fim do mundo

A guerra do fim do mundo Mario Vargas Llosa




Resenhas - A Guerra do Fim do Mundo


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Beatriz 26/08/2016

Mistura de ficção com realidade. É um romance vivido durante a guerra de canudos! Muito bom para saber mais sobre a guerra!
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Carol Poupette 08/06/2016

Sobre o fanatismo.
Ótima leitura. Fascinante relato sobre essa guerra , tão absurda e ao mesmo tempo tão fantástica e triste, já que se trata de nordestinos esfomeados e esqueléticos que a única coisa que possuem é a fé
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Eric 28/01/2016

Mario Vargas Llosa é um escritor mundialmente renomado, vencedor do Nobel e de extrema maestria e criatividade na hora de produzir seus romances. Depois de ter lido sua primeira obra, A Cidade e os Cachorros, e ficado fascinado com sua escrita e sua inteligencia absurda, resolvi ler Guerra do Fim do Mundo, que ira retratar a épica Guerra de Canudos.
Fascinado com o livro Os Sertões de Euclides da Cunhas, Llosa decide refazer os passos do revolucionário Antonio Conselheiro, para isso, o autor percorreu o sertão nordestino, colhendo informações sobre Canudos e seu líder beato Conselheiro. O resultado é a publicação de um romance estonteante que deixa o leitor impressionado logo no primeiro capitulo.
Antonio Conselheiro lutou contra a Republica, alegando diversas irregularidades e covardia que este sistema politico causava no Brasil. A exploração de um povo pobre vivendo em extrema miséria em uma região quase que inóspita, enxergavam em Antonio uma luz que o transformava quase em um Santo, uma pequena luz que, ao longo da trajetória do romance, se torna uma grandiosa chama de esperança para uma sociedade melhor e igualitária. Para isso, precisavam combater o Anticristo ( A Republica), que separou a Igreja do Estado, decretou o casamento civil e aniquilou o sistema monárquico, porem a guerra não seria fácil, precisavam de formar um exercito. Dessa forma, Antonio passa a perambular pelos pequenos povoados que se estende pelo cruel sertão nordestino em busca de seguidores. Com seus discursos religiosos altamente persuasivos, Conselheiro conquistava o corações dos mais pobres ate o mais violentos como os dos Cangaceiros que aterrorizavam a populações com as barbaridades cometidas. Uma historia repleta de honra e vingança, poder e paixão, fé e loucura
Guerra do Fim do Mundo é um retrato profundo e sangrento da histórica Guerra de Canudos, o autor soube muito bem recontar este episodio da historia brasileira com extremo realismo. Apesar de alguns críticos não gostarem desse livro porque um peruano recontou uma historia que não era da sua nacionalidade, isso não tira o mérito da obra.
A narrativa não é linear, ou seja, não sabemos em que momento exato esta ocorrendo as historias narradas, com isso, Mario reconta os mesmos ocorridos em visões diferentes, essa estrutura narrativa ficou um pouco cansativa e bagunçada, porem essa é a forma que o autor escreve seus livros. Esta técnica diferente me deixou um pouco confuso e cansado, fazendo com que eu deixasse o livro de lado por uns momentos.
O livro possui ficção e realidade misturada, Mario cria personagens que marcam leitor durante a leitura, como Maria Quadrado, João Satã e Beatinho. O livro possui historias paralelas, como a de um jornalista míope que acompanha os soldados e jagunços no percorrer da guerra, esse jornalista é o personagem que Mario cria para representar o Euclides da Cunha, tem também um estrangeiro que foge das prisões francesas para o Brasil e vê em Canudos a esperança de participar de uma verdeira revolução. Enfim, vamos conhecer muitos personagens na trajetória deste calhamaço ( 791 paginas), e o que devemos fazer é não se apegar com nenhum, aos poucos vão morrendo das formas mais horrendas.
Guerra do Fim do Mundo é um verdadeiro clássico da literatura universal, um livro espetacular que enriquece nosso conhecimento, que nos deixa com brilhos nos olhos e me fez inciar esse ano com uma vontade mais avida por clássicos. Recomendo para todos os leitores
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Wilton 07/09/2015

História densa
Mario Vargas LLhosa brinda-nos com uma saga irrepreensível sobre Canudos. Não escreveu uma obra jornalística ou um ensaio, mas um romance. Nele misturou personagens reais e fictícios fazendo-os conviver como se, de fato, participassem juntos dos fatos narrados. Talvez haja faltado uma melhor caracterização de Antônio Conselheiro, o que pode ter sido proposital, porque o autor preocupou-se em dar vida a seres que de uma forma ou de outra sofreram na carne com a ocupação e posterior derrocada de Canudos. Nem a cultura, nem a riqueza deixaram as personagens passar incólumes pelo drama de Canudos. O Rico Barão de Canabrava, o culto jornalista míope, os jagunços, o Padre Joaquim, o Coronel Moreira César, enfim, os representantes de todas as classes sociais e políticas ficaram com marcas indeléveis deixadas pelo conflito. O livro é movimentado e nele o autor usa obviamente a linguagem escrita, mas com forte apelo visual, relatando cenas que poderiam figurar, sem retoques, em cenas de filmes. Gostei da leitura e recomendo-a.
Wanderreis 28/11/2017minha estante
O escritor começou realmente esta obra como roteiro para um filme, que, infelizmente, não foi realizado.




Fabio Martins 07/08/2015

A guerra do fim do mundo
Nasci e moro em São Paulo. Apesar do trânsito caótico, da superlotação, da poluição e dos preços exorbitantes, São Paulo é uma cidade realmente imponente e completa. É o centro financeiro do Brasil, além de ser o lugar em que se encontra tudo a qualquer hora. E por ser um lugar tão heterogêneo e eclético, me passa uma impressão de que não tem identidade. Não há um trejeito marcante ou um modo de linguagem tradicional que marque permanentemente o paulistano. São Paulo também não tem aquela força cultural, aquela “magia” que engloba um lugar.

E é aí que entra a minha admiração pelo nordeste do Brasil. Essa região é recheada de crenças, culturas, folclore e histórias. Em minha opinião, as situações mais interessantes da história do nosso país aconteceram no nordeste. E um dos exemplos mais marcantes foi a Guerra de Canudos.

Em meados do século 19, Antônio Conselheiro saiu em peregrinação por diversas cidades nordestinas, passando a imagem de ser o mensageiro de Deus na Terra. Sempre muito generoso e atencioso aos pobres, rapidamente ganhou adeptos que passaram a segui-lo, chamando a atenção de autoridades locais.

Aos poucos, o número de seguidores cresceu e Antônio Conselheiro decidiu instalar-se em Canudos, interior da Bahia. Em suas pregações, dizia que a República, recém-instaurada, assim como os impostos cobrados pelo Governo, eram coisas do diabo. O povo de Conselheiro não pagava impostos, roubava terras e coisas, e sobrevivia dessa forma em seus domínios.

Antônio Conselheiro criou seu próprio “país” independente em pleno sertão nordestino. Dizem que a população de Canudos nessa época chegou a mais de 30 mil pessoas, todos seguidores do “mensageiro de Deus” na Terra. Essas pessoas geralmente viviam na miséria e encontraram em Canudos um lugar sem luxo, mas com casas próprias e comida. Em troca, trabalhavam para a comunidade.

Preocupado, o Governo resolveu acabar com os rebeldes e, após quatro incursões (três derrotas vexatórias), os seguidores de Conselheiros foram dizimados. De um lado soldados matando em nome do país, do outro sertanejos matando em nome de Deus. Para mim, essa é a passagem mais fantástica da curta história do Brasil. chamando a atenam a segui-lo. o aos pobres, rapidamente ganhou adeptos que passaram a segui-lo

Fascinado pela façanha de Antônio Conselheiro, o escritor peruano vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2010, Mario Vargas Llosa, passou meses em Canudos em busca de inspiração para o seu romance sobre o tema. E a inspiração veio. Em 1981, ele finalmente publicou o livro A guerra do fim do mundo.

Seguindo fielmente a linha histórica da guerra, Llosa deu novos tons, histórias e nuances a este acontecimento. Criou personagens pontuais excêntricos, como Galileu Gall, europeu que desejava chegar a Canudos para ver esse incrível acontecimento na história do Brasil. Beatinho, garoto de Pombal, que provou sua devoção por Conselheiro ao ficar com um arame preso à sua cintura por vários meses. Maria Quadrado, carregou por três semanas uma cruz em suas andanças até encontrar o mestre. Em Canudos, se torna a “mãe de todos”. Pajeú, ex-cangaceiro, João Grande, Leão de Natuba e outros personagens marcantes, são os personagens criados por Llosa que acompanham de perto Antônio Conselheiro.

A guerra do fim do mundo é um livro agradável de ler, cheio de histórias paralelas incríveis e com uma riqueza de detalhes que impressiona. Mario Vargas Llosa tem muita facilidade em descrever as passagens, ilustrando perfeitamente com suas palavras as cenas saídas da história misturadas com as que saíram de sua mente. Apesar de ser ligeiramente confusa pelos inúmeros personagens, a obra vale a pena ser lida por ter sido feita cuidadosamente por um dos grandes gênios da literatura moderna.

site: lisobreisso.wordpress.com
Wanderreis 28/11/2017minha estante
Beatinho, Pajeú e João Grande não são personagens fictícios.




LucasMiguel 20/05/2015

Um gigante narrando um épico
Sempre tive predileção por literatura latino americana. Sempre fez mais sentido aos meus sentidos o estilo latido de escrever.
Mas este livro, escrito pelo nobel de literatura peruano sobre a resistência do arraial de canudos, é um caleidoscópio de sensações literárias.
O espaço temporal não linear com que o autor conduz a história, dividindo a perspectiva do olhar em vários ‘personagens’, indo e vindo para que o mesmo episódio seja contado e recontado por deferentes pontos de vista, produz uma teia narrativa e uma experiência literária magnífica.
Magnífica também por seu texto irretocável. Há momentos de extremo realismo - um verdadeiro relato histórico que faz parecer que o escritor foi testemunha dos fatos narrados - e outros momentos de profunda poesia e lirismo, onde o fluxo de consciência dos personagens produz tanta profundidade às suas personalidades, que o leitor adota estas figuras como conhecidos de longa data. E como é difícil se separar deles!
Quanto ao enredo em si, o livro é um épico sobre a resistência de Canudos, região do sertão baiano que, sob a liderança do líder espiritual Antônio Conselheiro, um grupo de miseráveis sertanejos se agrupam e constroem uma ‘sociedade’ religiosa; anti republicana, sistema recém instituído no Brasil; solidária e anarquista.
Seguindo vários pontos de vista diferentes, dentre eles Galileo Gall, jovem revolucionário escocês que vislumbra em Canudos uma vanguarda mundial de sociedade sem Estado e solidária; chefes da expedição militar brasileira que investiram contra Canudos, entre eles Moreira César e Artur Oscar e um tal ‘jornalista míope’, personagem peculiar que acompanha a expedição militar até Canudos.
Sobre este último em particular, é extremamente interessante perceber a mudança interna sofrida por ele. Até então nomeado para registrar a destruição de uma organização criminosa, monarquista e fanática, o personagem se depara com um grupo de pessoas absolutamente desamparada, ignorante dos termos ‘república’ ou ‘monarquia’, que se agruparam para suportar as atrozes dilacerações da aridez do sertão e do esquecimento do Estado.
No decorrer do romance, não é difícil perceber que o autor transformou em personagem o grande escritor brasileiro Euclides da Cunha.
Temas como vingança, honra, fanatismo religioso, devoção, resignação e intrigas políticas povoam todo o livro, desenhando um perfeito quadro do Brasil na aurora do século XX e mostrando que muitos problemas não solucionados lá, ainda se arrastam vergonhosamente até hoje.
O livro é atual, belo, chocante, comovente, trágico...enfim, é um nobel de literatura.
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ÃLINHO 03/04/2015

O autor ganhou premio Nobel merecidamente. Muito bom esse livro.
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Sekh 07/08/2014

Canudos como você nunca imaginaria...
"“Escatologia” é uma palavra que estamos mais acostumados a ver escrita do que a ouvir. Significa, literalmente, o estudo das últimas coisas, ou, de forma mais elaborada, é o ramo da teologia e da filosofia que se debruça sobre o destino final da raça humana. Na tradição cristã, que herdou sua direção escatológica do judaísmo, as últimas coisas são morte, julgamento, paraíso e inferno.

E o que isso tem a ver com “Guerra do fim do mundo”? É, esta é uma excelente pergunta.

“Guerra...”, novela escrita por Mario Vargas Llosa, é tão poderosa quanto assombrosa. Baseada nos já deveras conhecidos eventos de Canudos, é extremamente bem-sucedida em examinar os significados e impactos que Conselheiro e seu povo tiveram no Brasil do séc. XIX. A ficção de Llosa é distinguida por sua inteligência, seu gosto pela ironia e sua disposição em se engajar nas complexidades existenciais com uma percepção que desdenha do rigor ideológico.

Vargas Llosa é peruano, mas “Guerra…” se passa no sertão baiano, no ano de 1897. O advento do século XX se aproxima e traz consigo grandes mudanças para o Brasil, que borbulha com as promessas de um futuro sem limitações e, ao mesmo tempo, sofre o peso de seu passado – que ainda é bastante presente: sacerdócio retrógrado, colonialismo primitivo, escravidão. A liberdade individual per si é uma novíssima experiência para milhões de negros, uma vez que passaram-se apenas 10 anos desde a abolição da escravatura. A república, ainda cambaleante, encara o futuro sobre o lema de “Ordem e Progresso”.

Em meio ao final de um século conturbado, uma figura misteriosa, barbada e vestida numa túnica roxa, aparece no sertão. Ele fala de amor, paz e penitência. Ele fala de morte e julgamento, céu e inferno. O nome do estranho é Antônio e ele é conhecido por seus seguidores como Conselheiro; isto é tudo o que os leitores saberão sobre sua origem ou identidade. Numa primeira análise, sua doutrina parece reacionária e ultra-ortodoxa, mais católica que o Papa, ou, ao menos, mais conservadora.

À medida em que os pobres mais pobres – marginais, doentes e deformados, bandidos, assassinos, rebeldes, fugitivos – juntam-se à horda sempre crescente dos seguidores arrebatados pela intensidade espiritual de Conselheiro, ele prega sua mensagem de salvação milenar. A república, diz ele aos cangaceiros, não é um veículo de libertação, mas uma abominação nascida da união entre Maçonaria e Protestantismo; suas inovações – casamento civil, separação entre igreja e estado, o sistema métrico – não são medidas de progresso, mas ferramentas satânicas do anticristo; o senso nacional proposto, com suas questões pertinentes à religião e raça, não é uma tentativa de conhecimento avançado da nação, mas um mecanismo diabólico que caçará os negros do Brasil, e os escravizará novamente.

Numa história que se passa à aurora de um novo século, “Guerra...” parece olhar para frente e para trás; as forças nele representadas são eternas e elementais. Não é uma competição de múltiplas ideologias que aflige o mundo, diz Llosa; é apenas uma, sempre a mesma, denominando-se de diferentes maneiras; é o herói mostrando mil faces, assombrando eternamente a paz de presidentes, generais e ministros, ameaçando seus benefícios, salários, palácios e tronos em nome da liberdade, igualdade e de uma vida mais abundante. Esposando o governo do Messias, o Cristo, as pessoas perseguem um ideal imutável – a liberação da humanidade das garras do mal, o sofrimento – praga antiga – finalmente aplacado; mil e uma revoluções em nome daquela resolução.

Das muitas personagens apresentadas neste livro maravilhoso e memorável, uma das mais fortes, pois serve para reforçar o argumento da novela, é o escocês Galileo Gall. Enquanto os liberais exigem a destruição de Conselheiro, Gall aproxima-se do principal jornal de Salvador com um anúncio clamando por uma “demonstração pública de solidariedade cm os ideais de Canudos”. O escocês é um anarcosocialista, revolucionário veterano que lutou nas comunas de Paris em 1870. Tal qual as autoridades da igreja, Gall é rápido para detector aquilo que os auto-entitulados jacobinos do Rio e Salvador não conseguiram: a doutrina revolucionária nos ensinamentos de Conselheiro.

Tropas e mais tropas são arremessadas contra os jagunços de Canudos. Todas encontram desastre. O país inteiro entra em pânico e o governo no Rio entra em uma crise que ameaça derrubá-lo. Dentro dessa tensa textura, um fio de personagens rica e vivamente trabalhadas são pegas no meio do turbilhão que se move como as formigas carnívoras sertanejas. Na guerra no fim do mundo luta-se sem pausas. Vidas, amores e ambições são descartados.

O trabalho de Llosa é de tal amplitude, seu manejo das grandes questões tão confiante e intelectualmente excitante, que há um certo receio em criticá-lo. O livro é longo. E poderia ser um pouco mais curto. Esta é uma característica comumente encontrada em livros tão ambiciosos como “Guerra...”. Um dos pontos negativos é a escolha de Mário em relação às cenas curtas e anticlimáticas, vacilantes após finais explosivos.

É difícil ler um livro como este, tratando como o faz de um sistema mítico no qual nossas crenças e nossas histórias são misturadas, sem serem forçadas a um reexame dos princípios que nos serviram de guia em seus labirintos.

É inevitável traçar uma comparação com outra obra – clássico brasileiro de indispensável leitura – que também trata do conflito de Canudos: Os Sertões, de Euclides da Cunha. Embora possuam o mesmo conflito como inspiração, são livros bastante diferentes. Euclides caracterizou de forma ímpar o sertanejo, personagem intrínseca ao Brasil.. Llosa, por sua vez, optou por uma retratação mais abstrata, focando nos conflitos e seus impactos emocionais e espirituais.

Llosa tem a ousadia de questionar a singularidade do mito revolucionário. Implicitamente, atribuindo à revolução seu lugar entre os dramas rituais da história, ele questiona sua função salvadora. Assim, ele assume a postura cético liberal, que não deve ser confundida com pessimismo. Esta, como a do revolucionário, é uma perspectiva histórica e tradicional. Longe de ser uma postura de desespero, é uma história de fé e esperança, mais esperança do que muitos de nós somos capazes de realizar. Há uma máxima que declara “a capacidade do homem de suportar é proporcional à sua visão histórica”. Numa época em que, como os viajantes polares, passamos por terreno perigoso, ameaçados por um sono que não só contém monstros, mas o abismo, a clareza de visão e fé na razão implícita na convocação maravilhoso de Mario Vargas Llosa pode representar a esperança de um despertar mais segura de um despertar.

site: http://madrugadadelirante.com.br/?p=434
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Andre 23/07/2014

Texto espetacular.
Ótimo texto. Fiquei fascinado quando vi Vargas Llosa contando que morou em Salvador por um tempo e viajou pelo sertão baiano para escrever o romance. Ele mistura personagens reais da Guerra de Canudos, com outros criados e dá um tom ainda mais dramático a essa parte tão expetacular e trágica de nossa história. Belo trabalho do autor peruano.
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Luis 02/11/2013

Quando um grande narrador encontra uma história imortal.
Ao fim das quase 800 páginas de “A Guerra do Fim do Mundo”, a sensação que me invade, embora para muitos soe como um sacrilégio, é a de que o grande mérito de “Os Sertões” foi ter inspirado Mário Vargas Llosa a recriar a magistral saga de Canudos.
Um comentário de poucas e pobres linhas como esse, é literalmente incapaz de dar conta, ainda que resumidamente, da grande realização do genial autor peruano, seguramente, o maior ficcionista vivo do planeta.
Partindo do impacto profundo que lhe provocou a leitura de Euclides da Cunha, em 1972, Vargas Llosa decide pesquisar a fundo o episódio e dar a sua versão da aventura de Antônio Conselheiro e seus seguidores em uma narrativa tão rica quanto fluente, dando asas à sua vocação quase sobrenatural de contador de histórias.
Chama a atenção não só a reconstrução dos chamados “personagens reais” no qual se destacam o próprio Conselheiro e um dramático Coronel Moreira César, como o elenco de figuras criadas pelo autor que conduzem o romance sobre vários pontos de vistas diferentes : Os jagunços que tocados pela mensagem do divino, desviam sua trajetória em 180° para defender Canudos a todo custo, Pajeú, João Abade (ex- João Satâ), o ex escravo João Grande. As figuras excêntricas ou renegadas que foram adotadas pelo Conselheiro, o Beatinho, o disforme Leão de Natuba, a filicida Maria, que em Canudos vira a “mãe dos homens” e em especial do Leão, e até um padre que, ignorando a posição da Igreja oficial, substitui a autoridade papal pela palavra que emana do líder dos sertões baianos.
Llosa dá vida também a Galileo Gall, um escocês errante e idealista que vê em Canudos a possibilidade real da revolução sonhada , ainda que inconsciente, dos oprimidos sobre os opressores. A fragorosa batalha entre carne e espírito (vencida pela primeira) que atormenta o forasteiro, sozinha já daria um grande romance. Candidato fortíssimo a personagem maior da narrativa.
Há espaço ainda para a inserção de figuras líricas como os membros do Circo do Cigano, personificação das atrações mambembes que rodam o Brasil desde tempos imemoriais. Composto por uma mulher barbada, por um alienado que faz às vezes de homem elástico e por um anão contador de causos, além do próprio Cigano, o desmonte progressivo e a decadência do Circo fazem um paralelo à derrocada de Canudos, palco final da atração.
Mas Mário Vargas Llosa não se contenta só em nos enviar notícias do front, as querelas e implicações políticas entre Monarquistas e Republicanos, que tentam fazer de Canudos uma bandeira pró ou contra seus interesses de bastidores, nos legam alguns dos melhores momentos de “A Guerra do Fim do Mundo”. O universo do jornalismo servindo de fantoche à esfera política, ilustrados pelas figuras aparentemente antagônicas de Epaminondas Gonçalves e do Barão de Canabrava, dá a dimensão exata da extensão e compreensão do tema por parte do ganhador do Nobel de 2010.
Desse núcleo sai ainda o personagem alter ego do autor. O jornalista míope, tímido, desajeitado, anônimo, vivendo de colocar seu intelecto e sua pena a serviço de causas que não são as suas, de repente, de mero espectador distanciado dos acontecimentos, se descobre parte integrante da poeira do sertão, compartilhando das mesmas misérias que afligem aquela gente, através da qual terá a sua ansiada redenção, redenção da carne (a mesma que derrotou Galileo Gal) e da alma.
Os grandes romances são assim : nós levam à impressões múltiplas que podem ser subvertidas a cada releitura. O fato é que se aventurar pelas páginas de “A Guerra do Fim do Mundo” não deixará o leitor imune, mesmo aqueles habituados aos mares revoltos que, um dia, foram sertões.

Renata CCS 05/11/2013minha estante
Depois desta resenha apaixonante, como não ler esta obra?


Luis 02/01/2014minha estante
Obrigado Renata. Um abraço.


VICKY 22/01/2014minha estante
Excelente resenha! Deu até vontade de reler esta obra.


Ren@t@ 23/01/2014minha estante
Eu tb adorei este livro. Maravilhoso!


Luis 15/02/2014minha estante
Obrigado pelos comentários. R&n@t@ e Vicky. Abraços.


Luiza 24/03/2014minha estante
Foi ótimo ler sua resenha - eu já estava interessada neste livro, quando estava lendo o início de OS SERTÕES, mas agora vou correndo me debruçar na obra de Vargas Llosa, pois esta deve ser muitíssimo mais envolvente!




Silvio 21/09/2013

Sinopse
Conta Mario Vargas Llosa que “A Guerra do Fim do Mundo” foi inicialmente um roteiro de um filme de Ruy Guerra, mas que não foi levado adiante pela produtora Paramount. Llosa viu no malogro uma oportunidade de se aprofundar na história de Canudos, um dos mais violentos conflitos ocorridos na América do Sul na virada do século 19 para o 20, através de um romance.

Opinião / Por que ler
"Os Sertões" de Euclides da Cunha aborda esta tragédia de forma tão definitiva que desestimula qualquer autor brasileiro a escrever sobre o tema, sob o risco de sempre ser comparado a este clássico da nossa literatura. Porém, o texto difícil, influenciado pelo naturalismo da época, sempre assustou os leitores. Peruano, Vargas Llosa teve a liberdade para "ficcionalizar" esta história e desenvolver personagens e linha narrativa sob o seu ponto de vista de escritor, sem o peso da crítica literária brasileira.

O resultado é um dos melhores livros que já foram escritos sobre Canudos. A Guerra do Fim do Mundo não compete com Os Sertões; as duas obras se complementam. Enquanto Euclides da Cunha é científico na descrição do conflito, Llosa aborda o drama “humano” através de personagens inesquecíveis (Leão de Natuba, João Abade/Satã, João Grande, Barão de Canabrava e o próprio Conselheiro, entre tantos outros), respeitando sempre os fatos históricos.

Impressões

A primeira leitura de A Guerra do Fim do Mundo me causou uma grande comoção. Impossível não se sensibilizar com o sofrimento dos sertanejos representados pelos personagens que, após tanta luta, esperança e esforço na construção de uma nova cidade, são massacrados pelas expedições militares da recém instituída República Brasileira. Impossível não se revoltar com o absurdo da situação.

Relendo o livro depois de 22 anos, minha atenção se concentrou mais no contexto histórico do momento, tanto em relação ao Brasil quanto internacionalmente. Também neste aspecto Vargas Llosa foi feliz em caracaterizar o momento por meio de seus personagens: o Barão de Canabrava representando o velho Brasil monárquico das oligarquias; o dono do jornal Epaminondas Gonçalves a burguesia emergente republicana e o insurgente Galileu Gal o anarquismo libertário em voga na época.

Reler o livro após tanto tempo também serviu para me conscientizar que Canudos é uma história que não pode ser esquecida porque continua se repetindo. Revivemos sua tragédia a cada chacina em uma favela ou nas periferias dos grandes centros urbanos; a cada manifestação dos mais humildes e esquecidos que é rechaçada com violência pelas autoridades. Basta lembrar que “favela” é uma planta da caatinga que também dava nome a uma das vilas de Canudos, o Morro da Favela. Soldados que regressaram ao Rio de Janeiro e que não receberam o soldo instalaram-se em construções provisórias, que passaram a ser chamadas de “favelas”. É irônico pensar que as mesmas pessoas que acabaram com Canudos acabaram se tornando suas herdeiras.

Trecho

"Mas a imagem que agressivamente se armara e iluminara diant, ele de seus olhos, ele não tinha ouvido falar dos lábios de seus visitantes(…). Foi o velho Coronel Murau, que lhe contou, tomando um porto, na última vez que se encontraram, aqui em Salvador, fato que ouvira do dono da fazenda Formosa, uma das tantas arrasadas pelos jagunços. O homem permanecera lá, apesar te tudo, por amor à sua terra ou por não saber aonde ir. E lá tinha ficado durante toda a guerra, mantendo-se graças ao comércio com os soldados. Quando soube que tudo havia terminado, Canudos havia caído, apressou-se a ir para lá, com um grupo de peões para prestar ajuda. O exército já não estava mais lá quando avistaram os morros da antiga cidade jagunça. Surpreendera-os, à distância, contou-lhe o Coronel Murau e aí estava o Barão ouvindo-o, o estranho, indefinível, inencontrável fragor, tão forte que permanecia no ar. E aí estava, também, o poderosíssimo odor que desarranjava o estômago. Mas só ao transpor a costa pedregosa, pardacenta, do Poço Trabubu e se encontrar com o que tinha deixado de ser Canudos e era o viam, que aquele fragor era o adejar e as bicadas de milhares de urubus, desse mar interminável, de ondas pardacentas, negruscas, devoradoras, abarrotadas, que tudo cobria e, ao mesmo tempo em que se saciava, dava conta do que ainda não pudera ser pulverizado pela dinamite nem pelas balas nem pelos incêndios: esses membros, extremidades, cabeças, vértebras, vísceras, peles que o fogo respeitou ou carbonizou parcialmente e esses vorazes animais trituravam agora, despedaçavam, engoliam, deglutiam."


site: mario vargas llosa, a guerra do fim do mundo, literatura brasileira
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deniseritta 18/04/2013

vargas llosa entrando pelos canudos
olha, sou superfã do vargas llosa, mas tentei ler este a guerra no fim do mundo duas vezes e por duas vezes, abandonei. Uma no primeiro sexto, outra já faltando só um terço. O que me prende no estilo do escritor é o seu humor ferino e discretíssimo, o que não aparece nunca nesta história de Canudos. Não sei se ele ficou com receio de "aparecer" sobre a história mas isso a deixou maçante, sem sal. Minha vontade secreta? Que ele aproximasse mais a câmera, fosse satírico e explícito, mostrasse a opinião. Para ler um vargas llosa de ficção com ares de não-ficção burocrática prefiro nem começar.
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RafaelW 10/03/2013

Em Canudos nada era normal. Sobrou coragem aos habitantes e covardia ao exército.
"- Porém, mais que na possível divindade do Conselheiro, pensei nesse espirito solidário, fraterno, no vínculo inquebrantável que consegui forjar entre aquela gente - disse o jornalista míope, em um tom patético. - Assombroso, comovedor. Depois do 18 de julho, só os caminhos de Chorrochó e Riacho Doce permaneceram abertos. O que teria sido lógico? Que toda aquela gente tentasse sair, fugir por aqueles caminhos antes que também fossem fechados, não é verdade? Mas aconteceu o contrário. As pessoas tentavam entrar em Canudos, continuavam vindo de todas as partes, desesperadas, apressadas, para se meter na ratoeira, no inferno, antes que os soldados completassem o cerco. Está vendo? Em Canudos nada era normal." (fl. 526)
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Filipe 03/02/2013

Os Sertões de Vargas Llosa
Após ler Os Sertões de Euclides da Cunha, o grande escritor peruano Mário Vargas Llosa ficou de tal maneira impressionado, que acabou por embrenhar-se, ele mesmo, pelas veredas do sertão brasileiro. Fruto das infinitas horas de pesquisa em bibliotecas e, inclusive, de viagens ao Brasil para ver Canudos de perto, eis que nasce A Guerra do Fim do Mundo.

Mal pude acreditar ao descobrir que uma obra que se impõe com tamanha audácia pudesse contar trinta anos. Sua relevância é absoluta e serve apenas para atestar a maestria da mão que a trouxe à luz.

Dialogando constantemente com a obra canônica de Euclides da Cunha, A Guerra do Fim do Mundo aborda o mais sangrento conflito político da história do Brasil a partir de uma perspectiva literária. E o resultado não poderia ser outro: o livro nos desnuda o caos, a violência, a miséria e, acima de tudo, a ignorância - dos sertanejos, dos militares, dos políticos, dos intelectuais, de todos os brasileiros em entender o que foi Canudos. 

Finda a leitura, não sei o que me impressiona mais: se o realismo das batalhas, que se desenrolam numa sofreguidão e dinamismo cinematográficos; se a vivacidade e cor com que Llosa delinea seus personagens, tão memoráveis e assustadoramente brasileiros; se a narrativa multifacetada, sinuosa, que ora nos conduz pela senda política, ora nos abandona no sertão, em companhia dos obstinados e inescrutáveis sertanejos, para em seguida resgatar-nos e levar-nos de volta ao ponto de partida e destino final: à terra santa, mística, espartana de Antônio Conselheiro e seus apóstolos. 

Talvez o que de fato mais me impressiou tenha sido a sagacidade do autor ao apresentar-nos um Euclides míope, frágil, excêntrico. O jornalista aspirante que se lançou a Canudos com o nobre intuito de oferecer um relato apurado acerca do fenômeno que tanto atemorizava todo o país é incapaz de compreender o que viu. Apesar de ter estado lá, na guerra, na poeira, no sangue, o Euclides de Llosa é incapaz de explicar Canudos. Quebraram-se-lhe os óculos a meio caminho e, cego, ele passa a tatear na escuridão o desenrolar da guerra, tentando tão-somente sobreviver, a fim de poder contar não o que viu, mas o que ouviu, sentiu, sofreu. Pois ao ler A Guerra do Fim do Mundo, pude eu também sentir no rosto o calor das chamas que engolfaram o sertão baiano e clamaram tantas vidas. E tal qual o jornalista míope, ao fim da jornada, também eu não tenho palavras para contar o que vi. A guerra em Canudos retém, ainda hoje, aquele ar dúbio de mito - foi absurda demais para ser verdade, e por demais absurda para não o ser.
fsamanta (@sam_leitora) 02/02/2013minha estante
uau, ótima resenha! fiquei com vontade de ler.


Luiza 24/03/2014minha estante
Parabéns pela ótima resenha! Foi ótimo ler seus comentários sobre o livro - eu já estava interessada nesta obra quando estava lendo o início de OS SERTÕES, mas agora vou correndo me debruçar na história escrita por Vargas Llosa, pois esta deve ser muitíssimo mais envolvente! :-)


Ale 22/01/2017minha estante
Meus parabéns pela resenha.


Camis 20/04/2018minha estante
Engraçado que eu nunca quis ler Os Sertões porque sinto por esta obra um grande desprezo por ser ela, para mim, uma afronta ao povo sertanejo e à memória de Antônio Conselheiro. Agradeço-lhe pela excelente resenha e aproveito para indicar-lhe a leitura dos 2 volumes de Antônio Conselheiro por ele mesmo, os quais encontro-me a ler. Após terminá-los pretendo ler A guerra do fim do mundo.


Lilly 11/01/2021minha estante
Grandioso, surpreendente, trágico!! Eu ignorava que na história brasileira pessoas já tivessem se batido com tanta coragem para defender um ponto de vista, um modo de vida.


Leonardo.Moura 16/04/2021minha estante
Kepler, parabéns pela resenha!! Só gostaria de acrescentar que estamos falando de um Prêmio Nobel de literatura e de um jornalista, em nenhum momento estou desmerecendo Euclides da Cunha, pelo contrário, fez uma magnífica obra. No entanto, na orquestra da ?pena?, Vargas Llosa, consegue calibrar melhor toda composição literária (em função de toda sua bagagem). Dito isto, acredito que devemos analisar ambas com estes filtros. Belíssimas obras ????


Khadija.Slemen 20/01/2024minha estante
Obrigada pela sua resenha, esclarecedora e permitindo que a gente possa ter contato com o conteúdo do livro. Começo a ler hoje




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