A guerra do fim do mundo

A guerra do fim do mundo Mario Vargas Llosa




Resenhas - A Guerra do Fim do Mundo


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Karamaru 02/02/2019

O MUNDO DA GUERRA SEM FIM
"A guerra do fim do mundo", de Mario Vargas Llosa, é daquelas obras que seguramente se pode afirmar: grandiosa, em todos os sentidos. Há nela tanto material a ser explorado, que tratar sobre ela em poucas linhas é quase um "literacídio".

Registre-se, de pronto, que Llosa não foi o primeiro a se encantar com a história de Canudos. Escritores, sociólogos, historiadores e muitos outros estudiosos já haviam se rendido ao encanto desalentado desse episódio funesto da história brasileira.

Chama a atenção neste "A guerra do fim do mundo", no entanto, a forma de reconstrução do evento histórico: o autor mistura ficção e realidade num grande mosaico em prosa, com exímio potencial narrativo.

A reconstrução é tão convincente que, se nada se soubesse a respeito do Canudos, a obra seria um perfeito romance histórico. É claro que os limites entre ficção e realidade já são postos de lado por estudos mais recentes; é uma discussão bem controvertida e polêmica. Mas fato é que, para escrever sobre Canudos, seria quase impossível prescindir da ficção, de tão surpreendente e instigante que foi a sua realidade.

Llosa não tem pressa para narrar; trata-se de uma narrativa épica e de fôlego, com ares fabulísticos e flertes com fantástico. A primeira e segunda parte consistem em grande medida em "apresentações"; da terceira em diante o foco transmuta-se para as "ações".

Há um grande número de personagens, todos com arcos bem definidos, mesmo que talhados em poucas páginas, e se a leitura não for atenta e contínua, há boas chances de se perder no turbilhão de flashbacks e histórias ao longo da narrativa.

As personagens são bastante emblemáticas, e parece ter sido a intenção do autor conceder a mesma ênfase a todas elas. Talvez, seria incorreto afirmar que Llosa lhes traça uma biografia; ele faz antes recortes precisos de situações marcantes da vida de cada uma delas, como uma espécie de "xilogravura textual", o que é bem interessante.

Tem que se destacar a pesquisa histórica empreendida pelo escritor peruano; o texto parece ter sido redigido por algum autor nacional tamanha a verossimilhança. Há trechos que poderiam perfeitamente ser de um Adonias Filho ou de um Jorge Amado.

Uma das coisas que mais intrigam nesse episódio sertanejo é a resistência de Canudos, que não sucumbiu nas primeiras investidas militares. Para entender esse potencial, o autor paulatinamente descortina como era a vida ali em Belo Monte. Havia uma sociedade organizada, até mesmo hierarquizada, havia pessoas com funções muito bem delimitadas (religiosas e militares, principalmente).

Havia talvez um certo paradoxo estoico: suportava-se o mal até as últimas consequências, mas ao mesmo tempo combatia-o enquanto representação de tudo aquilo que contrariava os mandamentos do Pai, consubstanciados na figura esquálida do Bom Jesus Conselheiro: a República (o próprio Anticristo), os impostos, o censo, o casamento civil...

O grande questionamento do livro e de muitos leitores provavelmente será: o que foi Canudos? Ou: qual era o espírito de Canudos; o que, de fato, movia aquela gente? E mais: por que foram dizimados tão cruelmente? "Qual é a explicação de Canudos? Taras sanguíneas dos caboclos? Falta de cultura? Vocação para a barbárie de gente acostumada com a violência, que resiste à civilização por atavismo? Qualquer coisa a ver com religião, com Deus? Nada o deixa satisfeito." (p. 536, fala do general Oscar).

Llosa não parece querer oferecer respostas fáceis - aliás, o que envolve Fé não pode ser simples... Mas ele oferece sim uma história perturbadora, com momentos de tensão tão verdadeiros e impactantes que seca a garganta, com sua poeira, sua crueza, sua crueldade. Havia em Canudos, apesar de tudo, uma vida "comum", havia, por exemplo, nos recônditos, uma rara mas singela troca de carinho entre um casal apaixonado... A partir da ótica de quem vamos reler a história? Dos que promovem e financiam a guerra ou dos que vivem num mundo em que a guerra pela sobrevivência nunca tem fim?

Imperdível.
Lopes 05/02/2019minha estante
Que resenha preciosa. É um jogo em espiral dos universos recriados por Llosa. E você soube, de forma intensa, descrever os rompantes que eu sinto ao ler tal obra, fundamental para a vida individual e social.


Karamaru 08/02/2019minha estante
Obrigado! Não vejo a hora de ler sua resenha! Que obra, não é mesmo? Como sempre, você trazendo preciosas indicações. Abraços!


Yuri.Nogueira 01/03/2019minha estante
Você me deixou com MUITA vontade de ler esse livro. Sério.


Karamaru 02/03/2019minha estante
Leia essa obra-prima contemporânea!!


Val | @livre_se_clube 19/03/2019minha estante
Resenha maravilhosa e detalhada... estou pegando este livro para iniciar a leitura, sua resenha foi valiosa.


Karamaru 26/03/2019minha estante
Olá, Val | @livre_se_clube! Muito obrigado pelos elogios. Espero que você tenha uma ótima experiência com essa leitura. Forte abraço!


Marlo R. R. López 05/12/2019minha estante
Excelente! O tipo de livro que deve ser lido em férias, com tempo de sobra para degustá-lo.


Alê | @alexandrejjr 07/01/2022minha estante
Realmente, uma excelente transposição da tua experiência literária. Baita texto! Parabéns!


Karamaru 07/01/2022minha estante
Oh querido, muito obrigado ??




Filipe 03/02/2013

Os Sertões de Vargas Llosa
Após ler Os Sertões de Euclides da Cunha, o grande escritor peruano Mário Vargas Llosa ficou de tal maneira impressionado, que acabou por embrenhar-se, ele mesmo, pelas veredas do sertão brasileiro. Fruto das infinitas horas de pesquisa em bibliotecas e, inclusive, de viagens ao Brasil para ver Canudos de perto, eis que nasce A Guerra do Fim do Mundo.

Mal pude acreditar ao descobrir que uma obra que se impõe com tamanha audácia pudesse contar trinta anos. Sua relevância é absoluta e serve apenas para atestar a maestria da mão que a trouxe à luz.

Dialogando constantemente com a obra canônica de Euclides da Cunha, A Guerra do Fim do Mundo aborda o mais sangrento conflito político da história do Brasil a partir de uma perspectiva literária. E o resultado não poderia ser outro: o livro nos desnuda o caos, a violência, a miséria e, acima de tudo, a ignorância - dos sertanejos, dos militares, dos políticos, dos intelectuais, de todos os brasileiros em entender o que foi Canudos. 

Finda a leitura, não sei o que me impressiona mais: se o realismo das batalhas, que se desenrolam numa sofreguidão e dinamismo cinematográficos; se a vivacidade e cor com que Llosa delinea seus personagens, tão memoráveis e assustadoramente brasileiros; se a narrativa multifacetada, sinuosa, que ora nos conduz pela senda política, ora nos abandona no sertão, em companhia dos obstinados e inescrutáveis sertanejos, para em seguida resgatar-nos e levar-nos de volta ao ponto de partida e destino final: à terra santa, mística, espartana de Antônio Conselheiro e seus apóstolos. 

Talvez o que de fato mais me impressiou tenha sido a sagacidade do autor ao apresentar-nos um Euclides míope, frágil, excêntrico. O jornalista aspirante que se lançou a Canudos com o nobre intuito de oferecer um relato apurado acerca do fenômeno que tanto atemorizava todo o país é incapaz de compreender o que viu. Apesar de ter estado lá, na guerra, na poeira, no sangue, o Euclides de Llosa é incapaz de explicar Canudos. Quebraram-se-lhe os óculos a meio caminho e, cego, ele passa a tatear na escuridão o desenrolar da guerra, tentando tão-somente sobreviver, a fim de poder contar não o que viu, mas o que ouviu, sentiu, sofreu. Pois ao ler A Guerra do Fim do Mundo, pude eu também sentir no rosto o calor das chamas que engolfaram o sertão baiano e clamaram tantas vidas. E tal qual o jornalista míope, ao fim da jornada, também eu não tenho palavras para contar o que vi. A guerra em Canudos retém, ainda hoje, aquele ar dúbio de mito - foi absurda demais para ser verdade, e por demais absurda para não o ser.
fsamanta (@sam_leitora) 02/02/2013minha estante
uau, ótima resenha! fiquei com vontade de ler.


Luiza 24/03/2014minha estante
Parabéns pela ótima resenha! Foi ótimo ler seus comentários sobre o livro - eu já estava interessada nesta obra quando estava lendo o início de OS SERTÕES, mas agora vou correndo me debruçar na história escrita por Vargas Llosa, pois esta deve ser muitíssimo mais envolvente! :-)


Ale 22/01/2017minha estante
Meus parabéns pela resenha.


Camis 20/04/2018minha estante
Engraçado que eu nunca quis ler Os Sertões porque sinto por esta obra um grande desprezo por ser ela, para mim, uma afronta ao povo sertanejo e à memória de Antônio Conselheiro. Agradeço-lhe pela excelente resenha e aproveito para indicar-lhe a leitura dos 2 volumes de Antônio Conselheiro por ele mesmo, os quais encontro-me a ler. Após terminá-los pretendo ler A guerra do fim do mundo.


Lilly 11/01/2021minha estante
Grandioso, surpreendente, trágico!! Eu ignorava que na história brasileira pessoas já tivessem se batido com tanta coragem para defender um ponto de vista, um modo de vida.


Leonardo.Moura 16/04/2021minha estante
Kepler, parabéns pela resenha!! Só gostaria de acrescentar que estamos falando de um Prêmio Nobel de literatura e de um jornalista, em nenhum momento estou desmerecendo Euclides da Cunha, pelo contrário, fez uma magnífica obra. No entanto, na orquestra da ?pena?, Vargas Llosa, consegue calibrar melhor toda composição literária (em função de toda sua bagagem). Dito isto, acredito que devemos analisar ambas com estes filtros. Belíssimas obras ????


Khadija.Slemen 20/01/2024minha estante
Obrigada pela sua resenha, esclarecedora e permitindo que a gente possa ter contato com o conteúdo do livro. Começo a ler hoje




Luis 02/11/2013

Quando um grande narrador encontra uma história imortal.
Ao fim das quase 800 páginas de “A Guerra do Fim do Mundo”, a sensação que me invade, embora para muitos soe como um sacrilégio, é a de que o grande mérito de “Os Sertões” foi ter inspirado Mário Vargas Llosa a recriar a magistral saga de Canudos.
Um comentário de poucas e pobres linhas como esse, é literalmente incapaz de dar conta, ainda que resumidamente, da grande realização do genial autor peruano, seguramente, o maior ficcionista vivo do planeta.
Partindo do impacto profundo que lhe provocou a leitura de Euclides da Cunha, em 1972, Vargas Llosa decide pesquisar a fundo o episódio e dar a sua versão da aventura de Antônio Conselheiro e seus seguidores em uma narrativa tão rica quanto fluente, dando asas à sua vocação quase sobrenatural de contador de histórias.
Chama a atenção não só a reconstrução dos chamados “personagens reais” no qual se destacam o próprio Conselheiro e um dramático Coronel Moreira César, como o elenco de figuras criadas pelo autor que conduzem o romance sobre vários pontos de vistas diferentes : Os jagunços que tocados pela mensagem do divino, desviam sua trajetória em 180° para defender Canudos a todo custo, Pajeú, João Abade (ex- João Satâ), o ex escravo João Grande. As figuras excêntricas ou renegadas que foram adotadas pelo Conselheiro, o Beatinho, o disforme Leão de Natuba, a filicida Maria, que em Canudos vira a “mãe dos homens” e em especial do Leão, e até um padre que, ignorando a posição da Igreja oficial, substitui a autoridade papal pela palavra que emana do líder dos sertões baianos.
Llosa dá vida também a Galileo Gall, um escocês errante e idealista que vê em Canudos a possibilidade real da revolução sonhada , ainda que inconsciente, dos oprimidos sobre os opressores. A fragorosa batalha entre carne e espírito (vencida pela primeira) que atormenta o forasteiro, sozinha já daria um grande romance. Candidato fortíssimo a personagem maior da narrativa.
Há espaço ainda para a inserção de figuras líricas como os membros do Circo do Cigano, personificação das atrações mambembes que rodam o Brasil desde tempos imemoriais. Composto por uma mulher barbada, por um alienado que faz às vezes de homem elástico e por um anão contador de causos, além do próprio Cigano, o desmonte progressivo e a decadência do Circo fazem um paralelo à derrocada de Canudos, palco final da atração.
Mas Mário Vargas Llosa não se contenta só em nos enviar notícias do front, as querelas e implicações políticas entre Monarquistas e Republicanos, que tentam fazer de Canudos uma bandeira pró ou contra seus interesses de bastidores, nos legam alguns dos melhores momentos de “A Guerra do Fim do Mundo”. O universo do jornalismo servindo de fantoche à esfera política, ilustrados pelas figuras aparentemente antagônicas de Epaminondas Gonçalves e do Barão de Canabrava, dá a dimensão exata da extensão e compreensão do tema por parte do ganhador do Nobel de 2010.
Desse núcleo sai ainda o personagem alter ego do autor. O jornalista míope, tímido, desajeitado, anônimo, vivendo de colocar seu intelecto e sua pena a serviço de causas que não são as suas, de repente, de mero espectador distanciado dos acontecimentos, se descobre parte integrante da poeira do sertão, compartilhando das mesmas misérias que afligem aquela gente, através da qual terá a sua ansiada redenção, redenção da carne (a mesma que derrotou Galileo Gal) e da alma.
Os grandes romances são assim : nós levam à impressões múltiplas que podem ser subvertidas a cada releitura. O fato é que se aventurar pelas páginas de “A Guerra do Fim do Mundo” não deixará o leitor imune, mesmo aqueles habituados aos mares revoltos que, um dia, foram sertões.

Renata CCS 05/11/2013minha estante
Depois desta resenha apaixonante, como não ler esta obra?


Luis 02/01/2014minha estante
Obrigado Renata. Um abraço.


VICKY 22/01/2014minha estante
Excelente resenha! Deu até vontade de reler esta obra.


Ren@t@ 23/01/2014minha estante
Eu tb adorei este livro. Maravilhoso!


Luis 15/02/2014minha estante
Obrigado pelos comentários. R&n@t@ e Vicky. Abraços.


Luiza 24/03/2014minha estante
Foi ótimo ler sua resenha - eu já estava interessada neste livro, quando estava lendo o início de OS SERTÕES, mas agora vou correndo me debruçar na obra de Vargas Llosa, pois esta deve ser muitíssimo mais envolvente!




Julio.Argibay 03/08/2017

Meu povo, minha origem.
Um excelente livro. O que o torna tão relevante eh que o mesmo foi escrito por um estrangeiro. Eu me pergunto: como pode alguém saber tanto sobre um povo, uma região e uma cultura tão diversa da sua? A obra em si eh fantástica. Que personagens fortes! Que pesquisa! Fiquei surpreso. Um mergulho na saga do sertanejo.
jonatas.brito 03/08/2017minha estante
Por seu comentário, já coloquei em minha lista de futuras aquisições.


Julio.Argibay 03/08/2017minha estante
Se quiser mando pelo ZAP.


jonatas.brito 03/08/2017minha estante
vlw, mas pretendo comprar a versão física, mesmo. abraços.


Julio.Argibay 08/08/2017minha estante
Rssss




spoiler visualizar
marilia p. 18/01/2024minha estante
ótima resenha!


aline203 18/01/2024minha estante
Obrigada!




Rosane 30/09/2009

Este livro conta a historia da Guerra de Canudos, magistralmente contada por ninguem menos que Mario Vargas LLosa. Nao ha muito que comentar...leiam!
hanover 19/07/2011minha estante
desculpa, cliquei em não gostei sem querer




Wilton 07/09/2015

História densa
Mario Vargas LLhosa brinda-nos com uma saga irrepreensível sobre Canudos. Não escreveu uma obra jornalística ou um ensaio, mas um romance. Nele misturou personagens reais e fictícios fazendo-os conviver como se, de fato, participassem juntos dos fatos narrados. Talvez haja faltado uma melhor caracterização de Antônio Conselheiro, o que pode ter sido proposital, porque o autor preocupou-se em dar vida a seres que de uma forma ou de outra sofreram na carne com a ocupação e posterior derrocada de Canudos. Nem a cultura, nem a riqueza deixaram as personagens passar incólumes pelo drama de Canudos. O Rico Barão de Canabrava, o culto jornalista míope, os jagunços, o Padre Joaquim, o Coronel Moreira César, enfim, os representantes de todas as classes sociais e políticas ficaram com marcas indeléveis deixadas pelo conflito. O livro é movimentado e nele o autor usa obviamente a linguagem escrita, mas com forte apelo visual, relatando cenas que poderiam figurar, sem retoques, em cenas de filmes. Gostei da leitura e recomendo-a.
Wanderreis 28/11/2017minha estante
O escritor começou realmente esta obra como roteiro para um filme, que, infelizmente, não foi realizado.




Fabio Martins 07/08/2015

A guerra do fim do mundo
Nasci e moro em São Paulo. Apesar do trânsito caótico, da superlotação, da poluição e dos preços exorbitantes, São Paulo é uma cidade realmente imponente e completa. É o centro financeiro do Brasil, além de ser o lugar em que se encontra tudo a qualquer hora. E por ser um lugar tão heterogêneo e eclético, me passa uma impressão de que não tem identidade. Não há um trejeito marcante ou um modo de linguagem tradicional que marque permanentemente o paulistano. São Paulo também não tem aquela força cultural, aquela “magia” que engloba um lugar.

E é aí que entra a minha admiração pelo nordeste do Brasil. Essa região é recheada de crenças, culturas, folclore e histórias. Em minha opinião, as situações mais interessantes da história do nosso país aconteceram no nordeste. E um dos exemplos mais marcantes foi a Guerra de Canudos.

Em meados do século 19, Antônio Conselheiro saiu em peregrinação por diversas cidades nordestinas, passando a imagem de ser o mensageiro de Deus na Terra. Sempre muito generoso e atencioso aos pobres, rapidamente ganhou adeptos que passaram a segui-lo, chamando a atenção de autoridades locais.

Aos poucos, o número de seguidores cresceu e Antônio Conselheiro decidiu instalar-se em Canudos, interior da Bahia. Em suas pregações, dizia que a República, recém-instaurada, assim como os impostos cobrados pelo Governo, eram coisas do diabo. O povo de Conselheiro não pagava impostos, roubava terras e coisas, e sobrevivia dessa forma em seus domínios.

Antônio Conselheiro criou seu próprio “país” independente em pleno sertão nordestino. Dizem que a população de Canudos nessa época chegou a mais de 30 mil pessoas, todos seguidores do “mensageiro de Deus” na Terra. Essas pessoas geralmente viviam na miséria e encontraram em Canudos um lugar sem luxo, mas com casas próprias e comida. Em troca, trabalhavam para a comunidade.

Preocupado, o Governo resolveu acabar com os rebeldes e, após quatro incursões (três derrotas vexatórias), os seguidores de Conselheiros foram dizimados. De um lado soldados matando em nome do país, do outro sertanejos matando em nome de Deus. Para mim, essa é a passagem mais fantástica da curta história do Brasil. chamando a atenam a segui-lo. o aos pobres, rapidamente ganhou adeptos que passaram a segui-lo

Fascinado pela façanha de Antônio Conselheiro, o escritor peruano vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2010, Mario Vargas Llosa, passou meses em Canudos em busca de inspiração para o seu romance sobre o tema. E a inspiração veio. Em 1981, ele finalmente publicou o livro A guerra do fim do mundo.

Seguindo fielmente a linha histórica da guerra, Llosa deu novos tons, histórias e nuances a este acontecimento. Criou personagens pontuais excêntricos, como Galileu Gall, europeu que desejava chegar a Canudos para ver esse incrível acontecimento na história do Brasil. Beatinho, garoto de Pombal, que provou sua devoção por Conselheiro ao ficar com um arame preso à sua cintura por vários meses. Maria Quadrado, carregou por três semanas uma cruz em suas andanças até encontrar o mestre. Em Canudos, se torna a “mãe de todos”. Pajeú, ex-cangaceiro, João Grande, Leão de Natuba e outros personagens marcantes, são os personagens criados por Llosa que acompanham de perto Antônio Conselheiro.

A guerra do fim do mundo é um livro agradável de ler, cheio de histórias paralelas incríveis e com uma riqueza de detalhes que impressiona. Mario Vargas Llosa tem muita facilidade em descrever as passagens, ilustrando perfeitamente com suas palavras as cenas saídas da história misturadas com as que saíram de sua mente. Apesar de ser ligeiramente confusa pelos inúmeros personagens, a obra vale a pena ser lida por ter sido feita cuidadosamente por um dos grandes gênios da literatura moderna.

site: lisobreisso.wordpress.com
Wanderreis 28/11/2017minha estante
Beatinho, Pajeú e João Grande não são personagens fictícios.




HARRY BOSCH 18/01/2010

CANUDOS
Mario Vargas neste belo romance historico,leva o leitor aos bastidores da guerra de canudos e nos da a oportunidade de conhecer o grande Antonio Conselheiro e outros personagens.Vamos conhecer as causas e consequências deste grande marco da historia Brasileira,a obra lembra muito o Grande Sertão Veredas de Guimarâes Rosa devido aos aspectos culturais dos personagens.
É uma grande obra Historica
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cliffoliveira 01/07/2012

Uma grande aventura
A Guerra do Fim do mundo é uma grande aventura, só que no lugar de Hobbits, cavaleiros ou elfos, temos jagunços, soldados, gente pobre e feia.
A história de Canudos é pintada com cores fortes de personagens diversos e desafiadores, mas ao mesmo tempo reais.
Os jogos políticos, o fanatismo religioso e a desesperança de uma gente que não tem como viver é o cenário dessa trama.
Acaba-se o livro sabendo-se um pouco mais do Brasil e da alma humana, quando exposta a todo tipo de dificuldade.
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André 26/11/2012

A Ousadia de Mario Vargas Llosa
Somente um escritor do quilate de Vargas Llosa se embrenharia numa história em outra nação onde a temática simplesmente já tem a chancela de maior obra literária do país, Os Sertões - Euclides da Cunha. Apesar de algumas características terem muitos paralelos no mundo: O fanatismo religioso, a violência e a misteriosa cultura dos sobreviventes das chagas climáticas, a responsabilidade era muito grande. Mas ele conseguiu fazer uma obra do mesmo nível: Envolvente e épica, de titãs desfigurados. Um tema tão rico como a Guerra de Canudos sempre poderá ter uma releitura e uma reescrita...
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Flavia 18/04/2024

Quando a realidade supera a ficção
Adorei o livro
Sabia muito pouco sobre a guerra de canudos e nunca li Os Sertões, então me permiti que Mário Vargas Llosa me contasse sobre esse evento que parece mais saído da ficção para a realidade do que o contrário.
A narrativa é fluída e, apesar de ser um livro bastante extenso, não é cansativo, não "enrola" em nenhum momento, mas acompanha diversas trajetórias de personagens envolvidas no fato histórico, inclusive Euclides da Cunha, que aqui é personagem.
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Andre 23/07/2014

Texto espetacular.
Ótimo texto. Fiquei fascinado quando vi Vargas Llosa contando que morou em Salvador por um tempo e viajou pelo sertão baiano para escrever o romance. Ele mistura personagens reais da Guerra de Canudos, com outros criados e dá um tom ainda mais dramático a essa parte tão expetacular e trágica de nossa história. Belo trabalho do autor peruano.
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Sekh 07/08/2014

Canudos como você nunca imaginaria...
"“Escatologia” é uma palavra que estamos mais acostumados a ver escrita do que a ouvir. Significa, literalmente, o estudo das últimas coisas, ou, de forma mais elaborada, é o ramo da teologia e da filosofia que se debruça sobre o destino final da raça humana. Na tradição cristã, que herdou sua direção escatológica do judaísmo, as últimas coisas são morte, julgamento, paraíso e inferno.

E o que isso tem a ver com “Guerra do fim do mundo”? É, esta é uma excelente pergunta.

“Guerra...”, novela escrita por Mario Vargas Llosa, é tão poderosa quanto assombrosa. Baseada nos já deveras conhecidos eventos de Canudos, é extremamente bem-sucedida em examinar os significados e impactos que Conselheiro e seu povo tiveram no Brasil do séc. XIX. A ficção de Llosa é distinguida por sua inteligência, seu gosto pela ironia e sua disposição em se engajar nas complexidades existenciais com uma percepção que desdenha do rigor ideológico.

Vargas Llosa é peruano, mas “Guerra…” se passa no sertão baiano, no ano de 1897. O advento do século XX se aproxima e traz consigo grandes mudanças para o Brasil, que borbulha com as promessas de um futuro sem limitações e, ao mesmo tempo, sofre o peso de seu passado – que ainda é bastante presente: sacerdócio retrógrado, colonialismo primitivo, escravidão. A liberdade individual per si é uma novíssima experiência para milhões de negros, uma vez que passaram-se apenas 10 anos desde a abolição da escravatura. A república, ainda cambaleante, encara o futuro sobre o lema de “Ordem e Progresso”.

Em meio ao final de um século conturbado, uma figura misteriosa, barbada e vestida numa túnica roxa, aparece no sertão. Ele fala de amor, paz e penitência. Ele fala de morte e julgamento, céu e inferno. O nome do estranho é Antônio e ele é conhecido por seus seguidores como Conselheiro; isto é tudo o que os leitores saberão sobre sua origem ou identidade. Numa primeira análise, sua doutrina parece reacionária e ultra-ortodoxa, mais católica que o Papa, ou, ao menos, mais conservadora.

À medida em que os pobres mais pobres – marginais, doentes e deformados, bandidos, assassinos, rebeldes, fugitivos – juntam-se à horda sempre crescente dos seguidores arrebatados pela intensidade espiritual de Conselheiro, ele prega sua mensagem de salvação milenar. A república, diz ele aos cangaceiros, não é um veículo de libertação, mas uma abominação nascida da união entre Maçonaria e Protestantismo; suas inovações – casamento civil, separação entre igreja e estado, o sistema métrico – não são medidas de progresso, mas ferramentas satânicas do anticristo; o senso nacional proposto, com suas questões pertinentes à religião e raça, não é uma tentativa de conhecimento avançado da nação, mas um mecanismo diabólico que caçará os negros do Brasil, e os escravizará novamente.

Numa história que se passa à aurora de um novo século, “Guerra...” parece olhar para frente e para trás; as forças nele representadas são eternas e elementais. Não é uma competição de múltiplas ideologias que aflige o mundo, diz Llosa; é apenas uma, sempre a mesma, denominando-se de diferentes maneiras; é o herói mostrando mil faces, assombrando eternamente a paz de presidentes, generais e ministros, ameaçando seus benefícios, salários, palácios e tronos em nome da liberdade, igualdade e de uma vida mais abundante. Esposando o governo do Messias, o Cristo, as pessoas perseguem um ideal imutável – a liberação da humanidade das garras do mal, o sofrimento – praga antiga – finalmente aplacado; mil e uma revoluções em nome daquela resolução.

Das muitas personagens apresentadas neste livro maravilhoso e memorável, uma das mais fortes, pois serve para reforçar o argumento da novela, é o escocês Galileo Gall. Enquanto os liberais exigem a destruição de Conselheiro, Gall aproxima-se do principal jornal de Salvador com um anúncio clamando por uma “demonstração pública de solidariedade cm os ideais de Canudos”. O escocês é um anarcosocialista, revolucionário veterano que lutou nas comunas de Paris em 1870. Tal qual as autoridades da igreja, Gall é rápido para detector aquilo que os auto-entitulados jacobinos do Rio e Salvador não conseguiram: a doutrina revolucionária nos ensinamentos de Conselheiro.

Tropas e mais tropas são arremessadas contra os jagunços de Canudos. Todas encontram desastre. O país inteiro entra em pânico e o governo no Rio entra em uma crise que ameaça derrubá-lo. Dentro dessa tensa textura, um fio de personagens rica e vivamente trabalhadas são pegas no meio do turbilhão que se move como as formigas carnívoras sertanejas. Na guerra no fim do mundo luta-se sem pausas. Vidas, amores e ambições são descartados.

O trabalho de Llosa é de tal amplitude, seu manejo das grandes questões tão confiante e intelectualmente excitante, que há um certo receio em criticá-lo. O livro é longo. E poderia ser um pouco mais curto. Esta é uma característica comumente encontrada em livros tão ambiciosos como “Guerra...”. Um dos pontos negativos é a escolha de Mário em relação às cenas curtas e anticlimáticas, vacilantes após finais explosivos.

É difícil ler um livro como este, tratando como o faz de um sistema mítico no qual nossas crenças e nossas histórias são misturadas, sem serem forçadas a um reexame dos princípios que nos serviram de guia em seus labirintos.

É inevitável traçar uma comparação com outra obra – clássico brasileiro de indispensável leitura – que também trata do conflito de Canudos: Os Sertões, de Euclides da Cunha. Embora possuam o mesmo conflito como inspiração, são livros bastante diferentes. Euclides caracterizou de forma ímpar o sertanejo, personagem intrínseca ao Brasil.. Llosa, por sua vez, optou por uma retratação mais abstrata, focando nos conflitos e seus impactos emocionais e espirituais.

Llosa tem a ousadia de questionar a singularidade do mito revolucionário. Implicitamente, atribuindo à revolução seu lugar entre os dramas rituais da história, ele questiona sua função salvadora. Assim, ele assume a postura cético liberal, que não deve ser confundida com pessimismo. Esta, como a do revolucionário, é uma perspectiva histórica e tradicional. Longe de ser uma postura de desespero, é uma história de fé e esperança, mais esperança do que muitos de nós somos capazes de realizar. Há uma máxima que declara “a capacidade do homem de suportar é proporcional à sua visão histórica”. Numa época em que, como os viajantes polares, passamos por terreno perigoso, ameaçados por um sono que não só contém monstros, mas o abismo, a clareza de visão e fé na razão implícita na convocação maravilhoso de Mario Vargas Llosa pode representar a esperança de um despertar mais segura de um despertar.

site: http://madrugadadelirante.com.br/?p=434
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