Ju 03/03/2013Garota TempestadeImagine um lugar em que as opções para um passeio à noite são: a lanchonete Chicqueirão, o bar/ danceteria Pocilga, e o Bucho Cheio Bar e Churrascaria (esse é um restaurante de luxo e só abre no verão). Essa é Rockabill, a pacata cidade em que Jane mora.
Agora imagine como é ter uma mãe que surgiu misteriosamente e desapareceu da mesma forma. Visualize as pessoas fofoqueiras te apontando na rua e deixando bem claro no olhar delas que não se sentem nem um pouco solidárias por você ter sido abandonada aos 6 anos. Muito pelo contrário, pensam que pelo menos agora é só uma esquisita que mora na cidade. Essa é a vida de Jane True, 26 anos. Muitas pessoas a evitam ou olham torto pra ela. Em Rockabill, o passado realmente condena. E o de Jane não ajuda em nada na sua inclusão na sociedade.
"Eu sabia que era meio digna de pena, mas seria tanto assim?
Talvez, respondeu uma voz interior irritante.
Não enche, mentalizei, completando em seguida: estou mesmo precisando parar de falar sozinha."
Além da história da mãe, dizem que ela matou seu primeiro (e único) namorado. Obviamente, isso faz com que não exista a possibilidade de um relacionamento amoroso para a garota. Jane tem 26 anos, e há oito não sabe o que é isso.
"Por causa de Jason, eu sabia o que era o amor e, por saber o que era o amor, eu sabia quem eu era."
Tem poucas pessoas na cidade que ela pode considerar amigas. E duas pessoas, em especial, que praticamente dedicam sua vida a infernizá-la.
Minha espécie sabe tudo sobre a convivência com humanos, e posso lhe garantir que são como animais selvagens. Se os deixar sentir que você tem uma fraqueza, eles irão se aproveitar dela para machucá-la.
A Jane é divertida, generosa e corajosa - chega a arriscar sua vida para ajudar outra pessoa. É uma garota excepcional, mas super incompreendida. Não consegue se encaixar completamente na cidade, até que um dia suas perguntas começam a ser respondidas - uma pessoa morre em Rockabill em circunstâncias suspeitas, e um investigador bem diferente é enviado para descobrir o que aconteceu: Ryu. Isso porque o morto, Peter, era meio-humano, e o mundo sobrenatural precisa fazer sua própria investigação para saber o que aconteceu com ele.
"Às vezes, fazia perguntas um tanto invasivas, mas, quando percebia que havia ultrapassado o limite, voltava atrás, pedindo desculpas por ter se esquecido de que pessoas de carne e osso não eram como personagens literários aguardando para revelar seus segredos."
Ryu é, bem... um vampiro. Um ser que me arrancou suspiros e que começa a apresentar Jane a um mundo do qual ela sempre fez parte, sem suspeitar disso. Ela descobre, então, que é apenas meio-humana, como Peter. E recebe a má notícia de que alguém está caçando meio-humanos por aí.
Antes desse livro ter sido lançado, eu nunca tinha ouvido falar do gênero Urban Fantasy. O mesmo estranhamento que a Jane tem ao começar a conhecer o mundo sobrenatural (que está muito mais perto do que ela jamais imaginou), eu tive também.
"- Sinto muito - disse ele, registrando minha frieza. - Eu preferia que você não tivesse sido confrontada com nada disso. Não ainda, pelo menos. - Procurou pelas palavras certas. - Nossos modos não são humanos - disse, após um momento. - Alguns de nós são mais... generosos no uso de nossos poderes do que outros. De forma bem simplificada, alguns são o que os humanos considerariam monstros. Mas não podemos julgar pelos padrões humanos e, aos poucos, você vai entender. Você é uma de nós, Jane, quer goste de tudo o que diz respeito à nossa comunidade, quer não."
Alguns seres descritos pela autora eu já conhecia, mas outros não. E ficava pensando: "ok, qual será o próximo ser com que terei que me acostumar?". rs... Mas, assim que eu comecei a conhecê-los melhor, fiquei ávida por mais informações. Elas chegaram, e me deixaram encantada por esses seres únicos que a Jane passa a conhecer. A leitura se tornou muito gostosa quando eu me acostumei à loucura que é essa história. Tudo fluiu bem.
O trabalho de diagramação, mais uma vez, está lindo e mais que perfeito. Eu adoro a capa, capas desenhadas estão entre as minhas preferidas, com certeza. Cada elemento que está presente nela tem um motivo para ter sido colocado lá, e acho isso fantástico. Só tem um probleminha: alguma pessoa desavisada pode achar que o livro tem algo de infantil, e decididamente não é o caso. Tem algumas (muitas, aliás) cenas de sexo nele e, talvez, apenas por esse motivo, a capa não seja totalmente adequada.
A série é formada por 6 livros, e este faz bem o papel de introduzir a história. Estou bem curiosa para saber as aventuras que viveremos ao lado de Jane, e como ela vai conduzir sua vida dupla a partir do próximo volume.
Postada originalmente em: http://entrepalcoselivros.blogspot.com.br/2013/03/resenha-garota-tempestade.html