Ramiro.ag 24/11/2023
"O mundo é uma incessante luta entre a memória de quem está de um lado e a memória de quem está do outro."
"A única máxima que a História parece nos revelar, de suma importância, é que 'naquela época, ninguém sabia o que estava para acontecer'."
Como eu já tinha dito, quero a sequência nas minhas mãos urgente!
O livro tem uma premissa interessantíssima por si só, o que já é um dos grandes motivos por eu ter me interessado tanto. Mas além disso, a narrativa desse livro é espetacular, quase mágica, digo com propriedade que é um dos livros com a melhor escrita e narrativa que eu já li.
A prosa do Murakami é bem simples e calma, no entanto, é extremamente cuidadosa, onde tudo é dosado na medida certa. Somos apresentados, várias e várias vezes, a cenários paralelos, lembranças de infância, acontecimentos importantes na vida dos personagens que culminaram o seu desenvolvimento, este, muito profundo. É muito satisfatório ir ligando todos os pontos entre os personagens, entre as suas vidas e entre os seus mundos, e ir percebendo, pouco a pouco, as peças se encaixando.
" 'O escritor não é uma pessoa que soluciona problemas. É uma pessoa que os propõe.' Sábias palavras que Tchekhov soube aplicar não somente a suas obras, mas também a sua vida."
Em relação aos pontos de fantasia, nesse primeiro livro é bem sutil, temos a introdução de um novo mundo e de alguns seres fantásticos, mas ainda nada muito claro. Algo que eu achei magnífico, é que aparentemente os protagonistas não escolheram entrar nesse "novo mundo", mas parece que esse mundo os está atingindo aos poucos, causando mudanças quase imperceptíveis ao seu redor, e realocando um pedaço por vez. Além de que, nós como leitores também não sabemos nada sobre esse novo mundo, e somos introduzidos junto com os protagonistas, mantendo o suspense. Gratificações a Aomane, que foi esperta o suficiente para começar a notar essa mudança.
A história é cheia de alegorias e referências, principalmente ao '1984' de George Orwell, onde ao mesmo tempo que traça um paralelo, destaca grandes contrastes.
"Em 1984, como você já deve saber, George Orwell criou a figura do Grande Irmão.[...] Mas em nossa realidade do ano de 1984, o Grande Irmão é famoso demais, uma existência óbvia demais. Se ele aparecesse aqui, nós imediatamente apontaríamos o dedo e diríamos: 'Cuidado! Aquele é o Grande Irmão'.
Em outras palavras, neste mundo em que vivemos não há mais vez para o Grande Irmão entrar em cena.
Em compensação, eis que surge esse tal Povo Pequenino. Você não acha interessante o contraste entre as denominações?""
Enfim, um livro com L maiúsculo, não vejo a hora de ler toda a trilogia e desvendar essa maluquice toda.
"Como se pode diferenciar uma da outra? Ao fechar os olhos, Tengo não tinha mais certeza em qual dos mundos ele se encontrava naquele momento."