elainegomes 02/03/2023
Ressurreição foi o último romance de Tolstói escrito em 1889, um manifesto sobre o abuso de poder, uma verdadeira denúncia aos absurdos do judiciário russo do século XIX, leniente com os abastados e injusto com os pobres. Retrato fiel de uma sociedade em que suas instituições foram pensadas para atender exclusivamente aos interesses da nobreza mesquinha e medíocre, alguma semelhança com a nossa tão evoluída sociedade burguesa?!?
A crítica social é evidente deste a primeira página, e o grande desconforto do leitor é se reconhecer, reconhecer a própria sociedade, ainda que a ficção tenha sido escrita no século XIX.
Acompanhamos os trâmites processuais, julgamento e execução da pena de alguns personagens, muitos deles marcados pela injustiça, burocracia, indignidade, desprezo humano, degradação, descaso social e principalmente pelo suborno.
Paralelamente, acompanhamos o desenvolvimento pessoal e transformação das vidas dos personagens Nekhliúdov e Máslova.
Em todo o livro temos um processo de expiação da culpa, morte e ressurreição.
Verdadeira jornada espiritual.
Impossível ler sem questionar a finalidade das penas a efetividade da justiça sobre o que é liberdade e a quem serve ou a que serve as penas restritivas de liberdade, a imposição do ócio, humilhação humana, castigos físicos, degradação física e espiritual.
Será que optamos (até hoje) por uma justiça da bestialidade, que justifica a violência e crueldade como meio de controle?
Em nome da legalidade, do devido cumprimento legal, seguimos de olhos vendados a tantas injustiças, tropeçamos nelas diariamente, mas tal como as instituições burocráticas, seguimos nossa vida sem qualquer solidariedade, a vida do outro não nos diz respeito, afinal, não posso mudar o mundo!
Super recomendo!!!