Tamirez | @resenhandosonhos 02/08/2018O Prisioneiro do CéuO Prisioneiro do Céu é o livro mais diferente entre os quatro que compõem essa série. Contado por Fermín, um personagem descontraído e que possui o melhor vocabulário para trocadilhos já existente, não havia como ser diferente. Ele também não mantém o tom de mistério que tenta se entrelaçar com o sobrenatural que é característico de Zafón e presença marcante em A Sombra do Vento e O Jogo do Anjo.
O que encontramos aqui é um forte elo de ligação para vincular as história dos dois primeiros livros de forma ainda mais forte do que só a presença da família Sempere. Muito mais aconteceu que não nos foi contado e é através do conhecimento de Fermín que passaremos a olhar muito da trama de O Jogo do Anjo com outros olhos. É quase como se fôssemos capaz de pôr a trama sobre uma nova perspectiva, e compreender várias das coisas que podem ter passado despercebido.
“No fundo nunca fomos o que éramos antes, que só lembramos o que nunca aconteceu…”
E, apesar de termos o toque de suspense, sabemos que a pessoa em questão está viva e aquele senso de que algo horrível pode acontecer a qualquer momento também fica mais quieto. Tudo isso é ressaltado pelo já mencionado bom humor do personagem. Fermín tem uma forma muito peculiar de se expressar e, para quem, assim como eu, curte ele, o livro é um prato cheio para se aproximar um pouco mais de sua história.
Eu vejo como algo sensacional a forma como a escrita diferenciada do autor dá espaço para a personalidade desse personagem e o mix das duas coisas unidas resulta em frases que sempre me fazem sorrir, por mais caótica que seja a situação.
“Os homens são como as castanhas que vendem na rua: quando você compra estão quentinhas e cheiram bem, mas esfriam assim que saem do saquinho e você logo descobre que a maioria está podre por dentro.”
Uma das coisas que achei interessante foi ver as mudanças em Daniel. Aquele garoto iluminado ainda está ali, mas não parece mais andar sozinho. Há uma sombra que se aproxima dele e que se amplia ao encontrar o bilhete do ex-noivo de Bea. A dúvida sobre como seu futuro será o corroem e as descobertas que ele vai aos poucos fazendo sobre sua própria história, ajudam a moldar um personagem bem mais denso e profundo do que o jovem esfuziante que acompanhamos em A Sombra do Vento. O que permanece é a o desejo pela descoberta, por chegar ao fim do mistério, por compreender tudo até o fim. Ele agora também é pai e há mais em jogo do que havia antes.
Além dos conflitos pessoais, mais uma vez teremos ressaltadas as questões que envolvem a política local e a forma como essas autoridade usavam o poder em benefício próprio, visando o ganho pessoal sem escrúpulos. Enquanto o autor parece nos querer apresentar um bela Barcelona, também esforça-se a criticar essas vertentes com o sentimento de que a justiça raramente é feita.
O Prisioneiro do Céu também é o mais curto dos livros, mas mesmo assim teremos a inserção de novos personagens que serão muito importante para o contexto geral dessa trama e peça chave em O Labirinto dos Espíritos, volume final da série. Como eu já mencionei, a diagramação dessas novas edições está bem mais confortável por trazer uma fonte e espaçamento maiores. A única coisa que posso ressaltar é como acho que as capas não valorizam a história em geral. Já houveram muitas mudanças, mas a capa sempre se manteve, mudando levemente a posição dos textos. Por mais que de certa forma a primeira representa a trama, as outras são bem mais genéricas e não tem tanto apelo de venda.
Esse terceiro livro é, portanto, uma leitura diferente, mas muito recomendada para quem está acompanhando a narrativa. Porém, diferente dos outros dois que se sustentam como história separadas e únicas, O Prisioneiro do Céu fará bem pouco sentido no âmbito geral, se lido isoladamente. Então, mantenho minha indicação de sempre ler essa série pela sua ordem de publicação e aproveitar a história e suas conexões da melhor forma possível.
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