Fê 13/10/2012Desde que eu vi que este livro era a continuação de A Sombra do Vento, eu estava louca para ler. Estava ansiosa para rever Daniel e Fermín, e retornar ao Cemitério dos Livros Esquecidos. Apesar de ser parte de uma trilogia, junto com O Jogo do Anjo, e A Sombra, o próprio autor adverte que eles podem ser lidos separadamente, em qualquer ordem. Realmente, eles tem histórias independentes, completos me si mesmos. Mas eu recomendo ler os outros dois antes deste, em qualquer ordem (eu li primeiro A Sombra do Vento e depois O Jogo do Anjo), porque vários acontecimentos deste remetem aos outros dois.
Ester começa quase dois anos depois do final e A Sombra do Vento. Daniel agora está casado com Bea, e tem um filho, Julián. Fermín trabalha na livraria Sempere e Filhos e está todo preocupado com os preparativos do casamento com Bernarda. A vida segue tranquila e sem grandes acontecimentos no Natal de 1957 em Barcelona. Isso até que aparece na livraria um sujeito esquisito, interessado em um dos itens mais valiosos da loja:um exemplar raríssimo de O Conde de Montecristo. Fica ain da mais estranho quando o sujeito escreve uma dedicatória misteriosa para Fermín. Daí o marasmo se transforma em uma missão para Daniel, que tenta desesperadamente ajudar o amigo.
Fermín, por sua vez, anda cabisbaixo e emagrecendo muito. O que preocupa Daniel, e obriga o garoto a esconder a estranha visita de Fermín. Só que ele também não pode manter o segredo por muito tempo, e assim, ele descobre muito mais de Fermín, bem como a verdadeira razão de sua aparente apatia.
Como nos outros dois, este tem uma história dentro de outra história. E desta vez, a história é do próprio Fermín. E sua história está intimamente ligada à de Daniel, e pode revelar coisas que era melhor deixar o tempo esquecer. Verdades que podem colocar a própria existência de Daniel em xeque. mas Daniel, impaciente e ávido por ajudar o amigo, ouve mesmo assim, e descobre que sua vida jamais será a mesma depois de saber a verdade.
Como eu já havia dito antes, Fermín sofreu um bocado na vida. Foi injustamente trancafiado na pior prisão de Barcelona. Lá, ele vencia horrores e desgraças dignas das piores masmorras. Ainda assim, Fermín consegue se manter lúcido e de coração puro, se agarrando à um último fio de esperança. A prisão não mudou seu jeito peculiar de ver a vida, e ele consegue manter um certo otimismo, mesmo frente aos tormentos da prisão.
É na prisão que ele conhece um personagem já nosso conhecido: David Martín, o herói de O Jogo do Anjo. David passa muito tempo com Fermín, e elabora um plano engenhoso para a fuga de Fermín, à la Conde de Montecristo. David também sofre horrores na prisão, até mais do que Fermín, graças à indisposição do diretor da cadeia, Mauricio Valls, um sujeito ambicioso e capaz de tudo para se dar bem na vida. David, que antes de ser preso já era recluso, só faz piorar, e agora é ainda mais pessimista do que era. De certa forma, ele e Fermín se completam. David não é só preso na cadeia, mas também de seus próprios demônios. Mas está disposta a tudo para ajudar Fermín, que na verdade é a chave para sua salvação.
Há ainda Salgado, outro preso companheiro de cela de Fermín. Salgado cumpre pena por ter supostamente roubado um tesouro, tesouro este que Valls ambiciona, e não hesita em usar Fermín para consegui-lo. Salgado é rabugento e nunca dá para saber se está falando sério ou não. Prestem atenção nele ao ler. Não posso falar muito dele, porque senão dou spoiler. O mesmo vale para Valls. Basta saber que eles são importantes.
Daniel, agora mais maduro, não perdeu a curiosidade, e o fervor ao proteger quem ama, e também mostra um lado mais esquentado, e desconfiado, que ele não tinha antes. Ainda é movido pela paixão, o que o faz agir impulsivamente às vezes. O que pode não ser bom para ele, e pode colocar em perigo tudo que ele mais preza.
Ambientado na mesma Barcelona chuvosa e fria dos outros, o clima também é sombrio. Mas a história é envolvente, e não dá vontade de largar. A narrativa se divide entre o passado (1940) e o presente (1957), e leva a gente num passeio fascinante pela Barcelona franquista, num retrato fiel da época. E ele acaba com um gancho para um próximo livro com Daniel Sempere e cia. Uma leitura apaixonante e deliciosa, de se perder nas páginas.
Trilha sonora
Silent lucidity, do Queesnryche é perfeita (I- will be watching over you, I- am gonna help you see it through, I- will protect you in the night, I- am smiling next to you, in Silent Lucidity). Eleanor Rigby (ah! Look at all the lonely people), Hey Jude (essa é a cara do Fermín) e Yesterday, dos Beatles (aliás, algumas músicas dos Beatles me lembram muito a melancolia dos livros do Zafón).
Se você gostou de O prisioneiro do céu, pode gostar também de:
•O Jogo do Anjo – Carlos Ruiz Zafón;
•A Sombra do Vento – Carlos Ruiz Zafón;
•Marina – Carlos Ruiz Zafón;
•A menina que roubava livros – Markus Zusak;
•O Conde de Monte Cristo – Alexandre Dumas.