Quando a Novo Conceito liberou a capa e a sinopse fiquei curiosa porque quase nunca vemos um livro falando estritamente da relação de mãe e filha. A maioria desenvolve duas tramas, mas um foco mais específico pelo menos por aqui é mais raro, ainda mais nacional. Maria Fernanda Guerreiro construiu uma história curiosa, que por vezes parece uma auto-análise. Não sei qual foi o objetivo da autora, mas mesmo com essa cara de autobiografia é uma história boa.
Mariana ao contrário do que a sinopse diz não decidiu a partir da descoberta que vai ser mãe fazer uma revisão e melhorar sua relação com a mãe. A história começa com ela descobrindo que estava grávida. É como um prólogo e logo após a narrativa começa com os primeiros problemas de Mariana com a mãe ainda criança e acompanhamos capítulo a capítulo o crescimento dela. Assim como a distância, as mágoas e tudo o que esse convívio mal resolvido causa na vida das duas. Situações cotidianas com uma análise onisciente da própria Mariana em outro tempo. A preferência da mãe pelo seu irmão Gustavo, os problemas que a mãe teve com a família, os sofrimentos que a transformaram na pessoa seca e defensiva que é. E no foco de tudo o ciúme que a mãe sente da filha com o pai. Como Mariana nunca teve a atenção e o carinho da mãe sempre correu para o pai. E esse gastava muito tempo com a filha, negligenciando a relação com a esposa. O que gerava mais mágoa e mais problemas. Toda a reviravolta e clímax da trama ficam por conta dos segredos obscuros que a família guarda. Os problemas que eles causam e suas soluções.
A narrativa é simples, direta e composta a partir de personagens bem embasados. O foco como o título mesmo disse é explorar a relação mãe e filha ao longo de uma vida. O papel que a mesma pessoa pode assumir porque simplesmente não consegue se comunicar com uma pessoa ou porque não tem a chance de se fazer entender. A protagonista passeia na tênue linha que separa um personagem pouco expressivo de um personagem forte. Foi interessante ler e perceber como cada pequeno acontecimento na vida familiar pode significar manias e decisões de uma vida toda. A autora trabalhou bem a parte que entrelaça os personagens, dizer o psicológico seria um pouco demais, mas posso dizer que ela destrinchou de forma bem crível a vida de uma família comum.
A mãe é a personagem mais interessante. E apesar de ter gostado dela em uma parte do livro me senti estranha pensando em certas coisas que ela fez. O motivo de ela preferir o outro filho e algumas das suas atitudes na infância da Mariana não casa. Era simplesmente crueldade, maluquice ou qualquer outra coisa. Uma coisa é você dar mais atenção a um filho por causa de um segredo, outra coisa é abusar psicologicamente da filha por razões duvidosas. Por isso acredito que seria mais interessante se a narração fosse dividida entre as duas. O final satisfaz fechando todas as pontas e tendo as alterações já esperadas entre mãe e filha.
Leitura rápida, de ritmo agradável e diferente. A edição (...)
Termine de ler o último parágrago em: http://www.cultivandoaleitura.com/2012/08/resenha-filha-da-minha-mae-e-eu.html