completamenteavoada 23/10/2022
O Brasil é um eterno plot twist de desgraças
"Não há, nunca houve, aqui um povo livre, regendo seu destino na busca de sua própria prosperidade. O que houve e o que há é uma massa de trabalhadores explorada, humilhada e ofendida por uma minoria dominante, espantosamente eficaz na formulação e manutenção de seu próprio projeto de prosperidade, sempre pronta a esmagar qualquer ameaça de reforma da ordem social vigente."
Mesmo com a mensagem de esperança deixada ao fim do livro pelo Darcy, é difícil não sair destruído desta leitura. A sensação de que o que é ruim pode ficar pior, só aumenta em cada página. E olha que o autor vai tentando consolar a gente com certa positividade nacionalista, mas é foda, principalmente quando olhamos ao redor e sentimos o fim do poço político que a gente tá. As únicas vezes em que fui minimamente feliz lendo este livro, foi vendo as ironias nas menções ao Gilberto Freyre. Fora isso, foi só tristeza depressão e ódio. Apesar das opiniões "suavizantes" do autor, o livro tem uma narrativa crua, grosseira, no sentido de ir jogando um monte de verdades doloridas na sua cara. Por mais que Darcy tente objetivizar a narrativa -mesmo suas opiniões - é impossível não ser sufocado com a violência colonial descrita.
Tem uma letra dos Racionais MC que diz que "500 anos de Brasil e o Brasil aqui nada mudou" e pqp isso não poderia ser mais verdade. Sempre que leio livros sociológicos/antropólogicos sinto como se as feridas ancestrais se abrissem outra vez. Mudam os rostos, as vozes, os dígitos dos anos, mas é a mesma violência física, histórica, cultural. A gente entra nessa de buscar conhecimento pra tentar rodar as engrenagens de uma forma que não dilacerem mais o povo oprimido e acaba sendo engolido pela desesperança.
É Belchior, "nós ainda somos os mesmos" em relação ao nosso papel social de ser sempre o chão de carne e osso que abriga o peso dos pés do opressor. É difícil manter a fé de que isso vai mudar. Quanto mais aprendo mais me arrependo de aprender, juro.