spoiler visualizarBrujo 25/02/2023
NÃO ENTRE EM PÂNICO!!!!
"Muito além, nos confins inexplorados da região mais brega da Borda Ocidental desta Galáxia, há um pequeno sol amarelo e esquecido. Girando em torno deste sol, há um planeta praticamente inofensivo, cujas formas de vida, descendentes de primatas são extraordinariamente primitivas" e, diferente do que pensavam sobre si mesmas, eram apenas a terceira espécie mais inteligente do planeta.
Neste planeta, vivia Arthur Dent, e ele não estava tendo um dia fácil: ele acordou com tratores amarelos parados em frente à sua casa, preparados para demolir as paredes ao seu redor para que uma rodovia pudesse ser construída no local. O que ele não sabia é que o fato era praticamente irrelevante: o planeta Terra seria demolido em poucos instantes pelas naves dos Voghons, para que uma rodovia intergaláctica passasse pelo local. Esta é apenas a primeira ironia de um livro cheio de sarcasmo e muito, mas muito humor nonsense.
O livro foi publicado sob o título de The Hitchhiker's Guide to the Galaxy em 1979 mas surgiu de um programa de rádio da BBC transmitido em 1978, ambos (livro e programa de rádio) escritos por Douglas Adams, infelizmente falecido em 2001.
A primeira coisa que eu quero ressaltar é que o fato de eu ter gostado tanto deste livro me pegou de surpresa, pois eu nunca fui ligado ao gênero da comédia, muito menos a inglesa. Já assistiram ao programa inglês chamado Monty Python? Pois é, o humor desse livro segue esta mesma fórmula de comédia. Inclusive, Adams esteve envolvido por pouco tempo com o roteiro do citado programa, bem como do seriado Doctor Who. E não é que há piadas pontuais em uma história séria, TODO o livro foi escrito nessa linguagem. E é por isso que a adaptação de 2005 para os cinemas não fez muito sucesso. A graça aqui está na escrita, na forma inteligente e ao mesmo tempo aleatória com que a história foi escrita. E as piadas, além de muito sagazes, fazem críticas a respeito da "Vida, do Universo e tudo mais". Literalmente! O autor tira o maior sarro da Terra, da raça humana, da filosofia, da religião, da política, da ficção científica e de si próprio, pois muito do que está escrito teve origem na própria vida do autor e de alguns amigos próximos a ele. Eu realmente nunca imaginei que o sci-fi e a comédia poderiam ser tão bem integrados e - pasmem! - me fazer rir durante a leitura - como eu disse, eu não sou o cara mais espirituoso deste planeta praticamente inofensivo.
É de extremo bom gosto a forma como Adams retrata a tecnologia possuindo personalidade. Aqui temos robôs com depressão, portas que gemem quando se abrem e computadores super animados. Até o próprio Guia do Mochileiro das Galáxias, uma espécie de antecipação da Wikipédia e do Kindle, tem personalidade, desde sua capa com os dizeres "Não entre em Pânico" escritos em letras garrafais e amigáveis até seus verbetes e trechos cheios de humor.
E aqui vai um resumo do enredo para o meu já conhecido exercício de memória: um pouco antes da Terra encontrar o seu fim, Arthur é salvo por seu amigo Ford Prefect ( que na minha cabeça é "PERFECT" ), pegando carona em uma das naves dos Voghons. Em pouco tempo são expulsos da nave, apenas para serem resgatados pela nave Coração de Ouro, cujos tripulantes são o presidente da galáxia e primo de Ford, Zaphod Beeblebrox (que nome difícil de escrever ... ) e Trillian, uma terráquea conhecida de Arthur, que tinha uma queda por ela, pra dizer o mínimo.
Zaphod roubou a nave para encontrar o planeta Magrathea, lar dos construtores de mundos, que estavam em animação suspensa há 5 milhões de anos. Lá, ele esperava encontrar o significado para o fato da resposta para a Vida, o Universo e tudo mais ser 42. É..., mais simples e aleatório impossível, no bom sentido !!
Eles chegam ao planeta e lá vemos a cena que pra mim foi a mais memorável do livro: dois mísseis são transformados pelo "Gerador de Improbabilidade Infinita" da Coração de Ouro em um vazo de petúnias e uma baleia cachalote (nonsense, não esqueçam!). Os pensamentos da baleia tomando consciência de si própria minutos antes de encontrar o objeto grande e plano que ela resolveu chamar de "chão" são impagáveis!! E um pouco tristes ... Pobre cachalote...
Bem, em Magrathea nossos heróis tem contato com um membro dos construtores de mundos, que conta que a Terra foi um planeta encomendado por seres pandimensionais que, no nosso universo assumem a forma de ... Ratos... Sim, essa é a raça mais inteligente da Terra, seguida pelos golfinhos ( que tentaram alertar os humanos da destruição do planeta, mas suas mensagens foram interpretadas como duas piruetas e um mortal! ) e depois os humanos.
Os ratos encomendaram a construção da Terra, que na verdade era um supercomputador destinado a responder à questão da resposta "42". E, depois de milhões de anos de processamento, os Voghons destroem a Terra faltando 5 minutos para terminar o processamento da resposta...
No fim das contas, os construtores fazem uma "Terra 2.0" mas não é pra lá que Arthur e companhia vão: depois de toda essa aventura eles estão com fome, e vão comer no Restaurante no Fim do Universo!