Andreia Santana 17/10/2011
Viagem nonsense pelo universo
O escritor britânico Douglas Adams morreu em 2001. A série Guia do Mochileiro das Galaxias deve ter chegado as estantes de Bobbie uns dois ou três anos depois que o seu autor foi morar nas estrelas para sempre. Eu só parei de enredar e peguei os livrinhos para ler em meados de 2009. A leitura trouxe reflexão sobre a vida, o universo e tudo mais muita diversão, gargalhadas que faziam minha mãe erguer uma sobrancelha e questionar se eu estava no meu juízo perfeito e a sensação de que, como diz minha irmã, nem que eu tente vou conseguir explicar o que é a saga do Guia do Mochileiro das Galáxias (devorei os cinco livros em questão de um mês). Só dá para saber o que é lendo. Ainda assim, eu me arrisco a tentar explicar o inexplicável e, talvez, por uma das leis do gerador de improbabilidade infinita, eu consiga.
A coisa mais importante que preciso deixar clara para quem por ventura (ou aventura) cair nessa página via buscador da internet, é que eu não entendo nada de física, geofísica, astrofísica, física quântica, ou qualquer outra área correlata. Não me peçam para explicar o que é o gerador de improbabilidade infinita, porque Douglas Adams até tentou me fazer entender em cinco livros. Mas, o mais perto que a leitura da série fez, foi me deixar com a sensação de que ele estava sacaneando a tal da Lei de Murphy. Ou ainda, que tentou explicar o que é o acaso.
Douglas Adams nasceu em Cambridge, Inglaterra, em 1952. Antes de transformar o Guia do Mochileiro das Galaxias em livro, ele era autor de um programa de rádio com o mesmo nome. Foi roteirista do Monty Python's e era apaixonado por tecnologia e ecologia. Colecionava todo tipo de parafernália. Também era macqueiro (fissurado em Macintosh). Sofria de asma e morreu aos 49 anos, dizem que muito bem vividos.
A série Guia do Mochileiro das Galaxias começou a ser escrita nos anos 70 e o último livro ficou pronto nos anos 90. O intervalo entre os quatro primeiros títulos e o último revelam que Adams cresceu tanto como autor quanto como filósofo do acaso ou da improbabilidade infinita que rege nossas vidas num universo cujo tamanho não somos capazes de imaginar nem se multiplicarmos o tamanho da Terra vezes dez trilhões, somados a cinco bilhões elevados a máxima potência que algum tarado por matemática provavelmente vai tentar calcular. Boa sorte!
Ironia é a palavra de ordem em cada um dos livros. Uma capacidade infinita de rir de si mesmo, da sociedade a qual pertencia, das outras culturas estranhas a sua sobretudo a norte-americana -, da ciência, das instituições, do governo, do autoritarismo, da xenofobia Adams era um anarquista, talvez venha daí minha idenficação imediata com ele. "Outros autores também tem essa capacidade", algum leitor da resenha deve estar resmungando. Verdade. Mas não conheci nenhum ainda que tenha criado todo um universo, com centenas de planetas, estrelas e constelações de nomes esquisitos só para dizer: ei, terráqueos, é com vocês que estou falando!.
Ecologia é outro tema presente em todos os cinco volumes e o desfecho, já naquele tempo, é o total apagamento, ou demolição da Terra, excluída para sempre do resto do cosmos. Fico me perguntando o que ele escreveria se estivesse vivo. Porque em sete anos desde sua morte, a coisa está mais caótica. Adams não viu o tsunami na Indonésia, os terremotos na China ou no Paquistão, ou os ursos polares sob risco iminente de morrerem afogados
Para quem gosta de sinopses, abaixo um pouco do que cada livro trata
1 - O Guia do Mochileiro das Galaxias: A série conta as aventuras dos amigos Arthur Dent, um terráqueo que está prestes a ter a casa demolida para que uma via expressa passe pelo local; e Ford Prefect, um E.T que vive disfarçado na Terra e sabe que o planeta será demolido para a passagem de uma via expressa hiperespacial. Nesse primeiro episódio, os dois saem do planeta, de carona em um disco voador, segundos antes da Terra ser vaporizada. Conhecem o ex-presidente da Galáxia Zaphod Beeblebrox, primo de Ford; Trillian, uma terráquea que vive um esquisito romance com Zaphod e o robô Marvin, um andróide maniaco-depressivo. O Guia em si é um livro com dicas de viagens, de como conhecer todo o universo gastando apenas trinta dólares altairianos por dia, mas que na verdade não ensina nada de útil e mete todo mundo que tenta botar em prática suas orientações, em enrascada. No caminho dos aventureiros estão os Vogons, uma raça de alienigenas que são idênticos a funcionários públicoscom todo respeito aos funcionários sérios.
2 O Restaurante no Fim do Universo: Aqui a cabeça do leitor começa a dar um nó. Porque esse segundo episódio brinca com as viagens no tempo. Nossos aventureiros Dent e Prefect, junto com seus novos amigos, vão esbarrar no restaurante mais caro e chique da galáxia, situado justamente no fim do universo. Todas as noites, clientes vips gastam uma nota para assistir a uma supernova que irá destruir toda a criação, o contrário do big bang, a grande explosão que teria dado origem a tudo. As reservas para ver o grande espetáculo são feitas com anos luz de antecedência. O raciocínio rápido do autor e sua narrativa veloz exigem atenção para acompanhar as idas e vindas da história
3 - A vida, o universo e tudo mais: O terceiro livro começa com uma busca frenética pelo sentido da vida. Arthur Dent, que agora não tem mais casa e nem planeta, sente-se um estranho em meio a tantos mundos e ETs desconhecidos. Junto com Ford, Zaphod e Trillian, além de Marvin, eles precisam encontrar a grande pergunta para a resposta que explica a origem da vida. A resposta, que levou 10 bilhões de anos para ser calculada por um super computador anos luz à frente do tempo em que nossos companheiros de jornada vivem (mais viagem no tempo e nós de marinheiro no cérebro do leitor) é o número 42. Resta aos aventureiros encontrarem uma grande pergunta que se encaixe em resposta tão estapafúrdia. E se você, espertinho, andou tentando multiplicar 7×9, esqueça, a pergunta suprema para a resposta universal não está nem perto de ser um simples cálculo da tabuada
4 Até mais, e obrigado pelos peixes: O quarto livro mostra que Arthur Dent, após oito anos vagando pelo universo, acorda um belo dia em sua própria casa, sentindo-se tonto e de ressaca. A primeira ideia é de que tudo não passou de uma alucinação, que a Terra não foi destruida e que ele andou bebendo mais do que devia. No entanto, Arthur descobre que todos os golfinhos desapareceram do planeta, não sem antes deixar um presentinho de despedida para cada pessoa no Terra. O mochileiro precisa encontrar um ecologista que entende tudo sobre comportamento de golfinhos e que é o único que talvez possa explicar o que está realmente acontecendo Aaah, nesse volume eles não encontram a pergunta suprema, mas se deparam com uma mensagem deixada pelo Criador do Universo, para toda a sua criação. Não posso contar qual é a mensagem, senão tira a graça para quem não leu, mas estou rindo até agora
5 Praticamente Inofensiva: A série termina com Arthur Dent de volta ao espaço sideral, vivendo uma vida pacata de fazedor de sanduiches em um planetinha desolado e escondido nos confins da galáxia. Enquanto isso, Ford Prefect descobre que a sede do Guia do Mochileiro, ou seja, a editora que publica o guia e no qual ele trabalha, foi vendida para um grupo esquisito de burocratas que chefiam os vogons, aqueles ETs que parecem maus funcionários públicos. Já Trillian, numa das suas incontáveis viagens no tempo como apresentadora de TV, acabou pegando amostras do DNA de Arthur, que trocava pedaços de pele, unhas e cabelos por passagens de primeira classe em naves espaciais para conhecer o universo, e usou para fazer uma inseminação artificial. O mochileiro terráqueo, que não sabe nem cuidar de si mesmo, terá de se virar para cuidar de uma filha adolescente rebelde, enquanto finalmente encontra, na Terra (mas ela não tinha sido destruída?) a bendita pergunta suprema cuja resposta é 42 Praticamente Inofensiva, por sua vez, é a definição que consta no Guia para o verbete Terra. Lindo!