Lygia 26/02/2012O Livro Selvagem - Juan VilloroJuan poderia ser o personagem principal de 'O livro selvagem'. Mas não é. Tal como o nome da obra sugere, as figuras predominantes na narrativa são os livros. Como boa apreciadora dos livros que sou, já deste ponto de partida fiquei envolvida pela trama de Villoro, tão brilhantemente narrada.
Após a separação de seus pais, Juan é enviado para a casa de seu tio durante o período das férias escolares. Isso parece um pouco injusto a seus olhos, uma vez que a irmã ficará na casa de uma amiguinha e ele, preso com o tio meio maluco, que tem pelos saindo pelas narinas e toma chá várias vezes ao dia, não conseguindo encerrar um diálogo inteiro porque precisa ir ao banheiro. Mesmo sendo ainda um adolescente, Juan sente, no fundo, que esse tempo é necessário para que sua mãe faça uns 'ajustes' em sua vida pessoal. E, afinal, tio Tito sempre fora legal com ele, apesar de morar em uma casa grande, sem um telefone e outras atividades, a não ser a leitura. Ler, para Juan, não é um problema: ele até aprecia a companhia de um bom livro que fale de aranhas, por exemplo.
As primeiras semanas são de adaptação, e Juan sente-se bem, não tendo mais os pesadelos noturnos que estavam usualmente ocorrendo. Tio Tito apresenta-o a sua biblioteca, que é gigante ao ponto de Juan se perder entre os corredores e prateleiras e ter que utilizar um sino para seu tio localizá-lo. Além disso, ele encontra em seu sobrinho a possibilidade de achar o livro selvagem, aquele que foge quando alguém tenta encontrá-lo. Tal livro só pode ser lido por um leitor especial, e tio Tito acredita que Juan seja esse leitor. Mas como achá-lo em uma biblioteca gigante que, além da quantidade exorbitante de livros, parece que os mesmos mudam constantemente de lugar? Coisas diferentes começam a ocorrer na casa de Tito, e tudo leva a crer que a presença de Juan é o que desencadeia essas ações. Resta ao menino, agora, a responsabilidade de achar o tal livro, descobrir o seu conteúdo e motivo de ele ser o escolhido para lê-lo, se esse for o caso. E ainda tem a adorável Catalina, garota que trabalha do outro lado da rua, numa farmácia, e que acabará se envolvendo de forma extremamente curiosa na aventura de Juan. Além de deixar o coração do menino acelerado cada vez que a vê.
Preciso dizer que a narrativa desse livro é maravilhosa e nem é exagero. O sentimento que tive foi de ter sido jogada em um universo fantástico, com toda a magia que os livros trazem quando eles são o ponto focal de uma trama. Acompanhei toda a experiência de um adolescente com a leitura e a excentricidade do seu tio que, em vários momentos, me lembrou um pouco Dumbledore (Harry Potter), devido à sua genialidade e hábitos estranhos. Apesar de inseridos em situações e universos totalmente distintos, não pude deixar de fazer a associação entre esses personagens. Tito trata os livros como se fossem seres vivos e, muitas vezes, eles o são nesta narrativa, chegando ao ponto de mudar seu próprio texto quando lido por pessoas diferentes, escolher o seu leitor, mudar de lugar nas prateleiras, entre outros.
Foi muito bom sair da rotina de livros 'mais-do-mesmo' e me aventurar na trama de 'O livro selvagem'. O livro é fininho, lê-se fácil e de maneira rápida, devido a sua ótima diagramação. Tem tantos quotes geniais e engraçados, que daria para marcar o livro inteiro! Super recomendado.