joaoggur 26/04/2024
Os sonhos? os sonhos não envelhecem.
O triângulo amoroso, saturado dilema conjugal que massivamente é explorado pelo mercado ficcional, só pôde ser incrivelmente desenvolvido em Amor nos Tempos do Cólera pela genialidade de Gabriel Garcia Marquez; muito acima da história, há a forma em que os fatos são narrados.
Pois a basta a morte do doutor Juvenal Urbino para os sentimentos de Florentino Ariza pela viúva, Fermima Daza, se reacenderem, - aliás, perdoem-me, nunca estiveram inativos; por cinquenta anos, Florentino esperara por uma resposta.
Indo do presente ao passado, a narração é minuciosa em retratar os sentimentos humanos. Está no título, e é a palavra que define o livro; amor. Tangenciando o Freudiano, Florentino não consegue ficar com sua amada na adolescência; e basta isso para sua vida ser profundamente impactada.
Muito se fala do pedantismo das palavras, do letárgico desenvolvimento das ações; discordo que causem mal a obra. Muito pelo contrário; não querendo dar spoilers, posso dizer que passamos tanto tempo com os personagens que creio ser impossível não começarmos a desenvolver sentimentos pelos tais. E, bem, se tivemos que esperar 400 páginas para sabermos as resoluções? os personagens precisaram esperar cinquenta e um anos.
A poetica da prosa, diferentemente de muitas outras obras, consegue ser ao mesmo tempo única e fluída, não abundando de recursos que travem e/ou demandem do leitor uma atenção excessiva. Qual o nome deste estilo de escrita? Sei lá. Eu chamo de genialidade de Garcia Marquez.