Felipe.Siqueira 07/06/2020O que dizer deste livro?A narrativa de Gabo, sem dúvidas, é uma das melhores que já tive o prazer de entrar contato. A forma como ele poetifica o que parece ser trivial é fabulosa!
O Amor nos tempos do Cólera nos revela um sentimento (digo assim porque em partes do livro parece obsessão) nutrido por Florentino Ariza, que permeia os séculos XIX e XX, e esbarra em Fermina Daza. A reciprocidade entre os dois existiu, mas foi impedida pelo pai de Fermina, que não via em Florentino o esposo ideal para sua filha, que, posteriormente, num choque abrupto de realidade vê caindo por terra toda a idealização que havia feito até então de seu amado. Fermina se aproveitando disso, e do desejo de seu progenitor, se casa com o doutor Juvenal Urbino, conceituado médico e influente personalidade social. Disto surge o hiato vivido por Florentino, que não consegue ter outro norte na vida que não seja sua amada. Para ela, exclusivamente, é que ele vive e consegue, mesmo em meio a muitos casos amorosos que destoam do perfil romântico do ser apaixonado, se estabelecer socialmente e economicamente. Passados os mais de 50 anos, Fermina fica viúva e, aos poucos, abre espaços para a concretização do sonho de Florentino e, finalmente, se deixam amar.
O final do livro me fez mudar algumas concepções a respeito do amor que Florentino nutria por Fermina, uma vez que ele abria mão de si, do apego às mulheres que se envolvia, para viver pela amada, o que me pareceu doentio. No entanto, o fim me fez perceber que ele só seria ele de fato ao lado dela, o que faz do amor um caso de cólera, muita das vezes.
Algumas colocações me deixaram desconfortáveis, como a forma como ele se refere às pessoas pretas e a pedofilia que ele retratou de uma forma normal. Por muitas vezes os discursos saírem de sua narração me fez crer que sua intenção não foi essa de causar incômodo, mas prefiro pensar que sim.