Itamara 03/07/2021"Ruim com o ruim, terminam as espinheiras por se quebrar."Eu nem sei como começar esse texto.
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Por muito tempo adiei essa leitura. Em incontáveis vezes eu tentei ler as primeiras linhas e achava que não iria conseguir. Iniciada a travessia e vencidas as primeiras 20 páginas, afirmo que foi uma das experiências mais edificantes em minha vida de leitora. Hoje, já não lamento ter demorado tanto para lê-lo: alguns livros esperam o momento certo para entrarem na vida da gente. A maior sensação após a última frase é de que nada do que já foi ou venha a ser escrito sobre essa obra seja capaz de dimensionar sua grandiosidade.
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A vontade que tive ao terminar "Grande Sertão: veredas" foi de voltar ao início e imediatamente começar a ler tudo de novo. É realmente inexplicável...uma obra majestosa em todos os sentidos, não só em relação à linguagem (que de fato é um desafio do começo ao fim), mas também quanto ao próprio enredo. Não é à toa que o universo criado em GSV seja estudado em diversos países e línguas, uma fonte inesgotável para estudiosos. Portanto, tudo que eu tentar escrever aqui soará superficial ou piegas, mas preciso dizer que há muito não sentia tanta beleza em forma de palavras. Assim, quero resumir que a história precisa ser sentida. Não há absolutamente uma palavra ou frase que não cause um efeito de sensibilidade no leitor. É lírica, arrebatadora, violenta e poética. Eu realmente desconheço trabalho mais impecável que esse criado por Guimarães Rosa.
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Deus e o diabo. Amor e ódio. Vida e morte. Acaso e destino. GSV dá infinitas possibilidades de leitura:
pode ser lida como uma história de amor, como material para estudo da filosofia, cultura, religião, geografia. O sertão pode ser visto na sua literalidade ou no mais puro sentido metafórico, afinal "O sertão está dentro da gente".
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"O sério é isto, da estória toda- por isto foi que a estória eu lhe contei- eu não sentia nada. Só uma transformação, pesável. Muita coisa importante falta nome".