Claraboia

Claraboia José Saramago




Resenhas - Claraboia


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Toni 06/04/2020

Frestas da vida
Claraboia no sentido denotativo diz respeito a aberturas em tetos de casa, prédios ou paredes com o propósito de trazer maior luminosidade, de preferência, a determinados compartimentos de imóveis menos favorecido pela luz natural. Saramago usou essa palavra pra dar nome a sua obra, talvez pelo sentido conotativo que essa palavra pode emprestar a sua obra.
A luz ou a falta dela que permeia os diversos personagens serve como mote para a narrativa, trazendo à superfície as facetas inerentes ao humano , como a incessante batalha entre a virtude e o vício, revelada nestes diversos contrapontos, a autossuficiência frente ao ciúme, a traição comungando com a amizade, o orgulho sufocado pela humidade até chegarmos ao diálogo fervoroso entre os personagens Abel("O amor é o pregão dos fracos , o ódio é a arma dos fortes. ") e Silvestre ("... A vida sem amor, assim como a descreveu há pouco, não é vida, é um monturo, um cano de esgoto!") sobre o que nos move nessa vida, se o amor ativo e lúcido como defende este ou a utilidade do ódio constatado por aquele.
Enfim, em Claraboia Saramago dá vida a essas diversas histórias que se interligam pelas frestas das portas e janelas como se estivesse a espreitar o cotidiano de nossas almas .
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regifreitas 12/02/2020

CLARABOIA (1953/2011), de José Saramago.

Publicado postumamente em 2011, CLARABOIA, cronologicamente, foi a segunda produção romanesca de José Saramago. Enviado a uma editora nos anos 1950, os originais ficaram esquecidos durante anos, sem que ao menos o autor tivesse um parecer sobre seu trabalho. Já um nome consagrado, Saramago recebe, dessa mesma editora, uma proposta de publicação, à qual recusa. Com o original restituído a suas mãos, deixa para seus herdeiros a iniciativa de publicar ou não a obra após sua morte.

Muito diferente do fraco TERRA DO PECADO – que é renegado até pelo próprio autor –, já vislumbramos uma clara evolução entre a primeira obra e esta. Vemos um autor mais amadurecido no domínio de sua técnica, na qual já se identificam traços incipientes do que será seu consagrado estilo, surgido nas obras publicadas a partir dos anos 1980. Ainda vemos a pontuação e paragrafação tradicionais, mas já se percebe o viés filosófico e crítico, as constantes interrogações sobre as contradições humanas. Destaque para os excelentes diálogos, principalmente aqueles entre o sapateiro Silvestre e seu inquilino, o jovem Abel.

É um trabalho que utiliza a técnica do contraponto: um narrador onisciente nos oferece uma narrativa que passeia pelo ponto de vista de diversos personagens. Estes se situam em seis núcleos, em seis modestos apartamentos de um prédio em uma rua de Lisboa. E algumas das temáticas tratadas no romance talvez indiquem o motivo da sua não publicação na época. Possivelmente fosse demais para a sociedade portuguesa dos anos 1950 ver retratados em uma obra temas como prostituição e independência feminina, lesbianismo e violência doméstica.

Não é o Saramago em sua melhor forma, mesmo assim, já é muito bom!
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Toni 10/02/2012

A primeira mirada
Há muito que se escrever sobre esta obra de José Saramago, extraordinariamente anunciada pela Companhia das Letras como o romance perdido do vencedor do Nobel. Ora, perdidas podem se encontrar muitas coisas: as chaves de casa, o troco da padaria, a vontade de trabalhar em dias muito quentes. Pequeno ou grande, o que se perde, perdido está, e pouco se há de fazer. Salvas raras exceções de que se tem notícia na história da literatura, não são muitos os romances que se perderam, isto é, continuam perdidos pelo fogo, por naufrágio ou por loucura autoral, sem chances de serem reavidos, como sugere uma visita ao vernáculo. Em que pese a nobre tentativa de tornar as vendas do selo Saramago ainda mais volumosas, não será exagero talvez sugerir que a editora do Sr. Schwarcz, dessa vez, precisaria encontrar-se mais a prumo em suas campanhas publicitárias.

Claraboia não é, pois, um romance perdido. Mais duas ou três palavras e dá-se cabo ao assunto: em 1953 Saramago submeteu seu datiloscrito de 319 páginas a uma editora que manteve silêncio a respeito da obra. Mais de trinta anos depois, quando o autor já detinha prestígio nas letras portuguesas um telefonema anuncia a honra de editar o romance. A resposta, que tanto tinha de despeito quanto de dor, foi um peremptório, Que o devolvam. Ora pois! (A exclamação é por minha conta.)

É de se imaginar que esse romance preterido, uma das primeiras incursões do autor no gênero, estivesse aquém da qualidade esperada daquele que escreveu Memorial do Convento, O evangelho segundo Jesus Cristo e Ensaio sobre a cegueira, entre tantas outras obras impressionantes. De que outra forma se justificaria o caprichoso impedimento de sua publicação em vida? Adianto que não é o caso. E foi preciso que a teimosa viúva do autor, Pilar del Rio, em cujo discernimento podemos confiar, o levasse ao prelo para que um novo livro do português chegasse às estantes como obra além da campa teimosia a que somos todos muito gratos.

Vencido o estranhamento com que o leitor de Saramago forçosamente se depara ao folhear as páginas desse romance e encontrar períodos curtos, travessões indicando discurso direto e outras marcas convencionais da prática narrativa, esse leitor estará diante de uma obra que encanta e impressiona, daquelas de que se diz não-ser-possível-parar-de-ler. Claraboia é uma mirada de cima. É a fresta na parede que dá passagem ao ar, é a parte envidraçada de um telhado que deixa entrar a claridade. Através desse óculo, é permitido ao leitor mirar e ver a vida de seis famílias da classe média-baixa portuguesa que ocupam todo um modesto e pequeno edifício em Lisboa na primavera de 1952.

O livro é, portanto, dividido em seis núcleos narrativos que se cruzam ao longo de 35 capítulos. Apesar de ter sido escrito sob a ditadura de António de Oliveira Salazar, ali não há qualquer alusão direta ao ditador afinal pouco provável seria que passasse pela censura. Lê-se nele, não obstante, um mundo em constante inquirição, onde já se vê o mote que será tão caro ao 'Ensaio sobre a Cegueira', como a importância de se conservar os olhos abertos e enxergar de uma certa maneira. Tomando emprestada a ideia de um laboratório do escritor, que o tradutor Paulo Bezerra elaborou no prefácio para O duplo de Dostoiévski, Claraboia revela muitos leitmotiven e formas que irão florescer com a maturidade literária de Saramago, como sua relação com a música clássica e com a poesia de Fernando Pessoa, as cenas de estupro e de lesbianismo, a presença de mulheres fortes, o apelo à enciclopédia do leitor, certa dose de pessimismo inoculada, o velho artesão filósofo e o jovem aprendiz, etc.

O barroquismo tão característico de sua linguagem ainda se apresenta em forma embrionária, sendo raros os momentos em que o discurso parece dar voltas sobre si mesmo para inquirir sobre sua referencialidade no mundo ou sobre seu lugar na memória da literatura. O lirismo contundente, no entanto, já lá está em passagens de bruta força poética e delicada ironia. O narrador/autor passeia como uma câmera de cinema especialmente no capítulo que abre o romance passando de um ponto de vista para outro à medida que as personagens se cruzam nas escadarias, terraços e umbrais do edifício. Como sugere o título do romance, a narrativa escrutina o dia-a-dia dos moradores do prédio, devassando-lhes a vida por dentro e por fora. No sentido contrário ao que se espera de uma claraboia, o resultado dessa leitura-mirada é sairmos nós, leitores, com mais vida nos pulmões, e maior lucidez no tato com o outro.
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Biblioteca Álvaro Guerra 17/01/2020

Um romance com inquestionáveis qualidades, preciso e escrito com perfeito domínio do espaço narrativo. O leitor habituado ao estilo tardio de Saramago tem a oportunidade de reconhecer nesta obra de juventude as origens de numerosos procedimentos ficcionais consolidados em outros de seus livros.

Empreste esse livro na biblioteca pública.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788535919837
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HonorLu 29/10/2019

Literatura é processo
Aqui temos Samarago em seus primeiros passos como escritor. Ainda uma semente. O livro é bom, mas lento. Demorei para ler.
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Bruna 03/02/2019

Jovem Saramago...
Livro encantador. São claras as diferenças do jovem que o Saramago um dia foi e do escritor que se tornou ao fim de sua vida. No entanto, isso não diminui de forma alguma a qualidade do livro. A mim, na verdade, a engrandece.

1. Silvestre diz a Abel: "[...] o que eu queria é que a sua preocupação de fugir a prisões não o levasse a ficar prisioneiro de si mesmo, do seu ceticismo..."
2. "[...] a experiência, não sendo aplicada, é como o ouro imobilizado: não produz, não rende, é inútil. E de nada vale a um homem acumular experiência como se colecionasse selos."
3. Silvestre: " - [...] Cortar tentáculos não basta. O Abel vai-se embora amanhã. Desaparece, cortou o tentáculo. Mas o tentáculo ficará aqui, na minha amizade por si, na transformação da vida da dona Lídia.
- É o que eu lhe dizia há pouco. O simples facto de existirmos pode ser um mal.
- Para mim foi um bem. Conheci-o e fiquei seu amigo.
- E que ganhou com isso?
- A amizade. Acha pouco?
- Não, decerto..."
4. Silvestre: "- Vivemos entre os homens, ajudemos os homens.
- E que faz o senhor para isso?
- Conserto-lhes os sapatos, já que nada mais posso fazer agora. O Abel é novo, é inteligente, tem uma cabeça sobre os ombros... Abra os olhos e veja, e se depois disto ainda não tiver compreendido, feche-se em casa e não saia, até que o mundo lhe desabe em cima!"
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Ricardo 16/01/2019

Vidas Simples Tornam-se uma bela História.
Saramago é o mestre da narração e do romance! Nesta obra ele trás o cotidiano de famílias simples de Portugal, vai contando essas vidas e entrelaçando pequenos acontecimentos e torna o que parecia uma história monótona em um grande livro que a gente não consegue largar até saber o próximo acontecimento no pequeno universo dos personagens! Saramago mostra que nos pequenos acontecimentos do cotidiano há muito história pra contar! E faz isso de forma majestosa! Se você ainda não leu nenhuma obra deste romancista Prêmio Nobel não perca seu tempo, escolha uma e apaixone-se por Saramago!
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giovana 13/01/2019

digressões
do começo da carreira do saramago (mas só publicado mais tarde) esse livro traz as características que o autor desenvolveria e tornariam-se suas marcas.
antes mesmo da ?janela indiscreta?, ?claraboia? cria uma vida dentro de um prédio ? e nós somos os espectadores imparciais de dentro de cada um desses lares.
as histórias em si trazem temas polêmicos e ótimas reflexões para época (1952), mas eu acho que a força do livro está nos momentos em que o narrador adentra a cabeça dos personagens, contando minuciosamente seus pensamentos e raciocínios.
a melhor parte é, sem dúvida, o final, no qual abel e silvestre tem uma conversa sobre a natureza humana que, a meu ver, é atemporal.
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Clio0 06/04/2020

Chamar esse livro de versão portuguesa de O Cortiço ou de Caminho Cruzados é uma injustiça com todas as obras supracitadas, mas não sei como melhor defini-lo.

Claraboia faz uma abordagem crítica da sociedade lusitana a partir da vida de um grupo de vizinhos em uma cidade qualquer. A história retrata mais os conflitos íntimos e intrapessoais do que os sociais (embora sejam abordados também).

Como um livro póstumo, o que mais impressiona aqui é o otimismo e até mesmo a ternura que se lê. É uma obra que poderia ser agressiva e pessimista, mas que no fim se revela gentil.
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L&S 01/07/2018

Primeiramente, devo começar dizendo que Claraboia, apesar de ter sido escrito na década de 50, ficou perdido por décadas após a recusa de um editor e por isso Saramago não deixou o exemplar ser publicado enquanto estivesse vivo.

Ambientado em um prédio na cidade de Lisboa, Claraboia apresenta o dia a dia e os dramas familiares dos diversos personagens que estão presentes, sem dar muito enfoque nos deveres da vida lá fora. Com isso, ele explora as atitudes e o psicológico dos personagens, nos fazendo refletir sobre a importância dessas ideologias e rotinas, além das críticas sociais demonstradas na época, como tabus sexuais, preconceitos e conservadorismo.

"- Não tenha medo. Só quero dizer que aquilo que cada um de nós tiver de ser na vida, não o será pelas palavras que ouve nem pelos conselhos que recebe. Teremos de receber na própria carne a cicatriz que nos transforma em verdadeiros homens. Depois, é agir...

Página 259.

Como todo ótimo livro de Saramago, mensagens internas e filosóficas são tragas entre as conversas de Silvestre e Abel, como o questionamento sobre a forma em que se deve levar e aproveitar a vida, para que não fique à deriva (Claraboia).

site: livroseriados.com.br
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Dani Ramos 21/01/2018

Amei!
?Que tinham elas a dizer todo o santo dia, que não estivesse já dito mil vezes??
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O livro mostra a história dos residentes de um prédio em Lisboa e conta a partir daí, o contidiano desses vizinhos um pouco peculiares. Cada família com seus problemas, segredos e atitudes, fazem o enredo ser equilibrado e coerente no que transmite ao leitor. Os personagens são muito bem desenvolvidos e interessantes, cada qual, com seu valor e profundidade.

A história começa com a conversa do inquilino Silvestre com sua esposa Mariana, sobre como eles conseguiriam uma renda extra. E o resultado foi a escolha de alugar o quarto que estava vago em sua casa. Com esse início, o livro se desenrola sobre as perspectivas dos outros vizinhos, cada um monstrando ao leitor seu íntimo mais profundo e pensamentos. A cada capítulo, ficamos curiosos e ansiosos para desvendar o desfecho de cada família e como eles conseguiram ultrapassar cada obstáculo que apareceu em suas vidas.

A escrita de José Saramago é incrível, e com essa segunda experiência com o autor, começo a me apaixonar pela sua forma de enxergar as coisas e como consegue com tão pouco esforço, expressar em palavras o que pensa sobre moralidade, sociedade e frustações daquela época. E devo até admitir, que com esse segundo livro, José Saramago realmente é um escritor autêntico e único, que mesmo com o passar dos anos, continua com uma escrita transcedendo gerações.
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?Há palavras que se retraem, que se recusam ? porque significam de mais para os nossos ouvidos cansados de palavras.?
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Estou super animada com esse projeto e afirmo que jamais esperaria gostar tanto da escrita e história como estou. As opiniões sobre seus livros são bem relativas (uns amam demais, outros odeiam demais), mas em relação à mim, estou a amar!
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Andreia Santana 09/05/2017

Um Saramago iniciante e atual
Claraboia é um livro póstumo, mas foi escrito no começo da carreira literária de José Saramago. Concluído em 1953, é o segundo romance do autor, escrito logo após o lançamento da sua obra de estreia, Terra do Pecado (1947). O livro ficou perdido por décadas, após um editor recusar publicá-lo e sequer responder ao autor ou devolver-lhe os originais. Quando Saramago consagrou-se, nos anos 1980, com os romances Levantado do Chão e Memorial do Convento (este último, na minha modesta opinião, sua obra-prima), foi procurado para a publicação de Claraboia, mas respondeu que enquanto vivesse, o livro não seria publicado. O lançamento aconteceu em 2011, um ano após a morte dele, em junho de 2010.

Claraboia é um Saramago atípico para quem conhece a produção da maturidade do autor. O estilo inconfundível de narrativa, com longas digressões filosóficas e o sistema de pontuação peculiar, privilegiando vírgulas ao invés de pontos, não existe aqui. Mas há um vislumbre, uma semente de vir a ser. São os primeiros passos do autor que ele se tornaria no futuro. É lindo! Porque se em Alabardas, Alabardas…, outra obra póstuma e a última que ele escreveu e deixou inconclusa, vemos detalhes do seu processo criativo após décadas de experiência; nesse quase recém-nascido Saramago de Claraboia, percebemos o florescer de um grande talento não só da escrita, mas do humanismo.

Ambientado em um prédio de apartamentos de classe média baixa, na Lisboa de 1952, Claraboia apresenta diversos dramas pessoais e familiares. O edifício é o fio que une as histórias particulares e coletivas de seus moradores. Tudo de interessante se passa nesse microcosmo. Para fora do edifício existe a cidade e as rotinas de cada morador, como ir ao trabalho, à escola, à mercearia; mas elas são apresentadas de forma difusa, de propósito, porque o que interessa é mostrar-lhes a vidinha cotidiana e as mesquinharias guardadas entre as quatro paredes de casa.

As digressões filosóficas aqui aparecem em forma de diálogos entre os personagens Silvestre e Abel, moço misterioso que aluga um quarto no apartamento onde o velho sapateiro vive com a mulher Mariana. As longas conversas dos dois revelam um Saramago já familiarizado com as lutas operárias e com a rotina dos trabalhadores pobres. O próprio autor foi serralheiro mecânico, não cursou o ensino superior, apenas escola técnica, mas era leitor ávido e frequentava diversas bibliotecas, onde formou seu pensamento crítico e as convicções políticas e sociais.

Silvestre é uma espécie de alter-ego mais velho do autor (Saramago estava com 31 anos quando concluiu Claraboia), que coloca na boca do sapateiro as suas ideias sobre a humanidade. Mas é também uma das muitas recriações do avô Jerônimo, figura icônica na vida e na formação do jovem José. Quando o escritor recebeu o Nobel de Literatura, em 1998, iniciou seu discurso de agradecimento louvando o avô. Ficou célebre o trecho inicial, em que ele diz que o homem mais sábio que conheceu, ‘não sabia ler nem escrever’, referindo-se a Jerônimo.

Os outros moradores do edifício são: a bela e sedutora Lídia, que por seu estilo de vida livre e por ser sustentada pelo amante Paulino Morais, enfrenta os julgamentos velados da vizinhança; as costureiras Adriana e Isaura, as sonhadoras irmãs solteiras que vivem com a mãe Cândida e a severa tia Amélia; o caixeiro viajante Emílio e a esposa Cármen, espanhola da Galícia, junto com o filho deles de seis anos, Henriquinho; o linotipista Caetano e a mulher Justina, em luto fechado após a morte da única filha; e, por fim, o empregado do comércio Anselmo, com a mulher Rosália e a filha Claudinha, que é fascinada pelo glamour da vida da vizinha do andar de cima, Lídia.

As mágoas e ressentimentos dos personagens entre si e pelos vizinhos, o que faz com que alguns deles tenham atitudes eticamente condenáveis, demonstram a crítica social incutida nas páginas de Claraboia. Os anos 1950 e seus muitos tabus sexuais e sociais, são representados nesse microcosmo do edifício, com seus moradores cheios de preconceitos e do conservadorismo típico da cultura do período, seja na histórica Lisboa, no Brasil colonizado pelos portugueses ou nos Estados Unidos do american way of life.

Ler Claraboia é como transpor para a Europa do pós-II Guerra aquele cenário das donas de casa entediadas e fofoqueiras, com seus maridos hipócritas e metidos a baluartes da moral e dos bons costumes, que vemos tão bem representados nos filmes de época. No entanto, embora seja a crônica de uma geração, muito do que o livro mostra, principalmente sobre o provincianismo da classe média mundo afora, persiste nesse avançar do século XXI.

Como as demais obras de José Saramago, Claraboia, com seus 64 anos, não envelhecerá enquanto a humanidade, lamentavelmente, for do jeito que é!

site: https://mardehistorias.wordpress.com/
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do subsolo 21/04/2017

No livro a sensação é essa, que você é um observador.
Na verdade parecem mais cronicas misturadas em capítulos.
Os moradores que mais me agradaram foram o Abel e o Anselmo. De resto achei vulgar.
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Cho 26/12/2016

Vidas que se ligam por claraboias
Diferente de tudo que já li de saramago, a obra surpreendeu. Escrita em 1953, sob o pseudônimo de Honorato, Saramago nos apresenta um texto de estilo completamente diferente das suas obras: parágrafos e diálogos bem definidos. Não só o estilo é diferente como também a maneira de abordar o tema. Nada alegórico como em Ensaio sobre a cegueira e também nada místico como em o Homem duplicado, Saramago surpreende ao tratar do tema da vida quotidiana com tamanha maestria e sem se apoiar em surrealismos ou universos apocalíticos. O livro perdido de José Saramago aborda a vida de seis famílias que vivem num mesmo prédio, cuja a vida parece mudar com a chegada, coincidência ou não, do andarilho Abel que aluga um quarto na cada do Sr. Silvestre. As vidas dessas pessoas serão narradas e interligadas pelas claraboias do prédio, que nada mais são que as janelas, portas e paredes e os ouvidos, bocas e olhares dos próprios vizinhos, é claro. A história deixa-nos ainda alguns mistérios e dúvidas que podemos deduzir até facilmente, mas que sempre vão nos intrigar. Saramago realmente encanta! E soube sabiamente dividir as atenções e capítulos a cada personagem ou cada morador desse prédio que vamos também nós nos familiarizando. E cada história que ele conta não tem uma resolução ou mesmo um final concreto é apenas a vida no seu correr, corriqueira.
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Wagner 14/09/2016

NOSSA DOSE DE MORFINA...

(...) Todos nós ingerimos diariamente a nossa dose de morfina que adormece o pensamento (...) Histórias mil vezes repetidas: ele, ela e o amante, Ela, ele e o amante, e, pior do que isto, o primarismo com que se reproduzia a luta entre o bem e o mal, entre a pureza e a depravação, entre a lama e a estrela (...)

In: SARAMAGO, José. Clarabóia. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. pp 254/255.
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