spoiler visualizarTâni Falabello 27/12/2012
Bruxaria com tempero brasileiro!
Quando soube do livro A Arma Escarlate, conversando diretamente com a autora Renata Ventura, em um evento ocorrido aqui em Curitiba julho passado, interessei-me de imediato!
Como a própria autora diz já de cara no livro, J.K. Rowling falou em uma entrevista que não criaria aventuras de escolas de bruxaria fora da Inglaterra, mas deu carta branca para quem quisesse fazê-lo. Renata aceitou o desafio e mostrou que sabia o que estava fazendo!
A Arma Escarlate narra as aventuras de Hugo (Idá), um menino de 13 anos que foge da vida sofrida na favela do Santa Marta, descobrindo-se bruxo. É muito interessante ver o paralelo feito entre a vida entre o tráfico e a nova vida de estudante de magia que aparece para ele. O menino não acredita a princípio, mas apega-se nessa esperança para fugir de sua realidade atual, protegendo sua mãe Dandara e sua avó Abaya.
A escola em si, Nossa Senhora do Korkovado, foi muito bem descrita por Renata, assim como o SAARA e a passagem pelo local chamado carinhosamente pelos alunos de Inferno Astral. Muito bem detalhados, muito bem descritos!
A mescla entre bases culturais foi fruto de uma pesquisa muito bem feita pela autora, que consegue colocar elementos de cultura afro-brasileira, cultura indígena (nomes dos feitiços, achei isso extremamente interessante), bem como elementos clássicos do folclore brasileiro, como a mula sem cabeça. Claro, não podiam faltar fadas, centauros, vampiros... tudo de uma maneira bem equilibrada, sem excessos.
Os pixies são um show à parte! De início, achei-os um tanto metidos, mas com os detalhamentos dos personagens, as explicações dos motivos de cada um, passamos a conhecê-los melhor. Fiquei fã do Ítalo "Capí" Twice Xavier, um personagem extremamente interessante!
A parte 2 do livro começa de uma forma mais sombria, um toque de realidade a um mundo perfeito. Gostei bastante da maneira como Renata colocou a questão do uso/tráfico de drogas e como Hugo não era assim um menino tão bom quanto ele poderia imaginar. É interessante essa discussão de caráter, tanto dele quanto de outros personagens envolvidos na problemática, como o tímido Eimi. Realmente algo a se pensar, como quando Gislene fala "O nosso mundo já não tá ferrado o suficiente, tu tá querendo estragar esse aqui também?"
A linguagem coloquial usada pela autora, com direito a gírias e maneirismos cariocas, ficou muito bem colocada, pois combina com a narrativa, e faz ficar mais real.
Trechinho digno de nó na garganta: quando Hugo descobre no bosque de Capí que poderia ter evitado uma tragédia.
Bom, resumindo, a leitura d'A Arma Escarlate deve ser feita de forma despretensiosa, sem compará-la com Harry Potter, visto que são universos diferentes. Há alguma referência aqui e lá sobre as escolas de bruxaria na Europa, mas sempre indiretamente e sem citar nomes, o que torna realmente uma homenagem velada. Como quando Zô fica sabendo do falecimento de um grande amigo (eu chutaria Dumbledore, tranquilamente, por mais que não tenha sido citado). Renata acertou, mais uma vez!
Recomendo a leitura!