Priscila Romaica 17/01/2017
" A arma escarlate"
VENTURA, Renata. A arma escarlate. São Paulo: Novo Século, 2012.
A arma escarlate de Renata Ventura por,
Priscila Romaica
Idá Aláàfin (Hugo Escarlate) é o protagonista de “A arma escarlate” o primeiro volume da ficção brasileira que teve como inspiração o universo criado por J.K. Rowling, autora da série Harry Potter.
Idá é um garoto de 13 anos que vivia na comunidade Santa Marta dominada pelo tráfico no Rio de Janeiro, com sua mãe e sua avó ele tem uma vida com muitas dificuldades e desafios comuns à quem vive nas periferias esquecidas do Brasil. Falta de saneamento, coleta de lixo, morava em um contêiner em condições precárias e para piorar era perseguido por um dos traficantes do morro, Caiçara. Seus únicos refúgios eram: Admirar a visão privilegiada que tinha dos pontos turísticos da Cidade Maravilhosa, seu livro favorito “O Corcunda de Notre Dame”, carinho e conselhos de sua avó e a proteção incisiva de sua mãe, que tentava a todo custo mantê-lo na escola e longe do tráfico e perigos da comunidade.
Se você está acostumado com personagens quietos, dotados de pouca coragem ou que pensam infinitamente antes de agir, esqueça! A característica principal de Idá, é a inquietude. Imagine, em meio a infinitas dificuldades, ele não tem perspectiva. Para ele, melhorar de vida é ser chefe do morro, e aí quando ele menos espera, em meio a uma confusão que poderia custar sua vida, uma carta é entregue a ele e assim o personagem descobre que é bruxo. Meio incrédulo, mas sem muitas alternativas, o menino segue as informações da carta e vai em busca da escola Nossa Senhora do Korkovado nos Arcos da Lapa, número 11.
É assim que começam as aventuras de Hugo Escarlate que adota esse nome quando encontra o caminho da escola, com a intenção de esconder o seu nome verdadeiro, que a princípio sem conhecer a origem, sente vergonha e insegurança. Chegando a escola, Hugo descobre um universo totalmente novo e inesperado para ele, afinal, já era difícil acreditar que poderia existir uma escola de magia e bruxaria no Brasil e mais difícil ainda, era imaginar que ele poderia fazer parte desse mundo. Hugo faz amigos, e enfrenta conflitos internos intermináveis, muitas vezes ele tem que lidar e lutar contra ele mesmo para vencer tudo que lhe é imposto na vida nova.
Com muita genialidade e originalidade a autora traz a construção de uma história que faz parte do mundo em que vivemos no Brasil, escola que enfrenta dificuldades para manter-se em funcionamento, preconceito entre os alunos, conflitos internos comuns a adolescentes e o mais marcante, traz também nossa cultura, folclore e lendas contadas como partes essenciais para todo o andamento da história dos personagens.
É incrível como é possível se identificar com o que nos é entregue no livro, não só por se passar em um lugar inteiramente nosso, mas também pela sensibilidade que Renata traz a tona, nos fazendo refletir e nos sentir aflitos para desvendar todos os mistérios que envolvem não só o personagem principal, mas também todos os outros que foram igualmente bem construídos.
Para Hugo a vida sempre lhe doeu, mas foi lhe dado uma nova chance, vale muito a pena conferir.