Tarsila 07/03/2012Um livro feito por uma fórmulaQuando o meu pai foi comprar livros para mim, a partir de uma listinha que eu tinha lhe dado, a srta. vendedora sugeriu para ele que também comprasse Asas, porque parecia ser um livro compatível com o meu gosto. Bem, ela se equivocou.
Laurel tem 15 anos e há 12 foi deixada em uma cestinha na porta da casa do casal Mark e Sarah, que a criou. Sempre teve aulas em casa com Sarah, mas agora que a família se mudou para uma cidade ligeiramente maior, passa a frequentar a Del North High. Possui um organismo “um pouco” diferente: tem alimentação rigorosamente vegetariana, pois vários alimentos lhe fazem mal; raramente sente fome, é difícil ter frio e o tempo que suporta sem respirar é além do comum.
Todavia nada foi tão estranho para Laurel quanto o caroço que surge em suas costas, como uma espinha – algo que ela nunca teve. O “caroço” começa a crescer e fica cada vez mais complicado esconder, até que certo dia ela acorda e não mais o encontra ali. No local há belas pétalas que compõem uma flor gigante. Assustada, Laurel procura David, o amigo inteligente que conheceu na escola, e conta-lhe a respeito da flor, que ele examina e descobre possuir células vegetais.
“ – Eu não poderia fazer isso aqui passar por fantasia, David. É perfeito demais.
David deu de ombros.
– As pessoas geralmente acreditam no que você diz a elas. – Ele sorriu. – E você acha realmente que alguém vai olhar para você e dizer: “Humm, acho que aquela menina é uma planta”?”
Em visita à antiga propriedade na cidade em que morava, Laurel é abordada por Tamani, um garoto de roupas rústicas e intensos olhos verdes, que lhe revela que ela é uma fada, ou seja, a espécie mais desenvolvida das plantas.
Laurel, sentindo-se incrédula, compartilha tudo com David, que se transformou em seu confidente; ele, através de experiências, descobre que, assim como sua flor, o restante do seu corpo possui células vegetais, e ela não tem sangue nem pulsação. Apesar disso, há um verdadeiro drama para Laurel aceitar que é uma planta e mais outro para aceitar que é uma fada – como se todos os sintomas fossem menos fantasiosos que o diagnóstico. Médicos nunca descobriram isso, claro, porque Sarah convenientemente é uma médica naturopata, que sempre fez seus próprios medicamentos com ervas. A autora parece querer justificar a inverossimilhança dos fatos de várias formas, porém não me senti convencida.
“– Por que não? Ele estava certo sobre você ser uma planta. Talvez esteja certo sobre... sobre você ser uma fada.
– Como você pode dizer isso aqui, onde seu microscópio pode ouvir, David? – perguntou Laurel com uma risada, tentando manter o tom leve. – Ele pode parar de funcionar se perceber que seu dono é tão pouco científico.
– É bem pouco científico ter uma amiga que é uma planta – disse David, recusando-se a adotar seu tom humorístico.”
Em outro encontro, não bastasse essas grandes revelações, Tamani, o elfo com a raiz dos cabelos de cor verde, lhe fala que ela precisa impedir que aquela propriedade seja vendida, algo que seus pais vêm tentando há um certo tempo e pretendem fazer ao Sr. Barnes, homem de aparência distorcida e que terá uma participação previsível.
Laurel mal tem tempo de absorver tudo quando mais revelações surgem, e, acompanhando-as, perigos inimagináveis.
Ela se vê, ainda, em um pouco original triângulo amoroso. De um lado está seu bom amigo David, presença constante em sua vida, e que claramente a adora. Representa um relacionamento mais fácil que torna desnecessárias mudanças bruscas em seu modo de viver. De outro, está Tamani, o elfo de beleza inumana que representa os mistérios do mundo do qual veio, também evidentemente apaixonado.
Asas, primeiro volume da série Fadas, tem uma história que certamente não atrairá leitores interessados em enredos inovadores, mas aqueles que não rejeitam a boa (nem sempre) e velha fantasia em série. Tive a impressão, ao ler, que tudo estava apenas seguindo uma fórmula pronta que já deu certo tantas vezes, e não cheguei perto de sentir empatia ao me deparar com os conflitos da tão linda protagonista. Também não é um livro particularmente divertido, se é o que você procura, nem de personagens impressionantes. Há, sim, muitos diálogos e linguagem fluente, que fazem com que a história seja lida mais depressa.
O que posso dizer que gostei em Asas foram algumas das ideias ainda inexploradas (que eu saiba, pois é o primeiro livro sobre fadas que leio) que compuseram a mitologia tecida por Aprilynne Pike. E da capa, claro. As cores e os detalhes são lindos, contudo não costumo levar isso tão em consideração quando vou comprar um livro, e não pretendo adquirir o próximo volume da série.