Bruno 12/10/2013
Se me dói o fígado, que doa ainda mais...
Talvez o livro mais verdadeiro e doloroso já feito, e talvez até mesmo o mais filosófico. A tonalidade cinzenta, a textura áspera, o gosto amargo é mantido desde o início do livro até o seu derradeiro fim.
Escrito completamente em primeira pessoa e direcionado intencionalmente ao leitor em forma de "meus senhores" (como o autor das memórias chama o leitor, o fato dele dizer "meus senhores" dá um certo tom satírico e eloquente ao monólogo do personagem, como se ele estivesse descrevendo um grande espetáculo ao leitor, no caso, o espetáculo do quanto a existência pode ser cinzenta e pesada).
O autor das memórias, o homem do subsolo, descreve na primeira parte do livro seus ideias e sua forma de ver a vida, insulta os ditos homens-de-ação e pragueja contra tudo que é "belo e sublime" (termo criado pelo filósofo Kant muito utilizado nas círculos intelectuais russos na época em que o livro foi escrito). Um verdadeiro soco no estômago das pessoas otimistas e sempre com um sorriso no rosto.
Na segunda parte o homem do subsolo descreve as tragédias da sua vida, A sua falta de aceitação numa sociedade falsa e hipócrita, até a forma como ele se relaciona com a prostituta Liza.
O livro termina com um belíssimo discurso do homem do subsolo, onde ele descreve o quão pesada pode ser a liberdade à humanidade, e o quanto ele foi corajoso em ter sido um dos poucos homens a enfrentar as consequências dessa liberdade imensa e temerosa de peito aberto.
O livro não é exatamente do tipo que lhe trará um sorriso, a minha sensação ao terminar de ler ele foi uma espécie de confusão orgástica, como se algo tivesse atingido o meu cérebro com força e eu tivesse gostado disso, mas sem dúvida, o livro instigará seu cérebro a parir várias questões sobre a sua existência, e isso é o que o torna tão valioso: o questionamento da realidade, da existência e da sociedade.
E se você ler esse livro (ou leu) e não questionar nada ao seu redor, me desculpe, creio que você não está preparado para ler Dostoiévski, vá ler algum livro de vampiros que brilham no sol!