Memórias do subsolo

Memórias do subsolo Fiódor Dostoiévski




Resenhas - Memórias do Subsolo


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Anica 16/01/2011

Memórias do Subsolo (Fiódor Dostoiévski)
Sempre lembro de um momento em O Tempo e o Vento de Érico Verissimo no qual uma personagem dizia que O Capital de Marx era o livro mais citado e menos lido de todos os tempos. Se fôssemos esticar o raciocínio para um autor, tenho certeza que o campeão seria o russo Fiódor Dostoiévski. Por alguma razão que me escapa ele ganhou fama de leitura difícil, e por consequência quem o lê seria automaticamente uma pessoa inteligente. Portanto o autor consta em diversas listas de livros favoritos, muitas vezes mais como uma espécie de troféu ah, eu venci essa leitura! do que como uma indicação de prazer. O nome na lista não significa necessariamente que o autor foi lido, pelo menos não no sentido de imersão na obra.

Bobagem sem tamanho, tanto o medo da leitura (classificando um autor como difícil sem conhecê-lo) assim como usar leituras como troféu. De que adianta dizer que leu Dostoiévski se nada foi absorvido? E claro, isso vale para qualquer autor. Então, antes de descermos ao subsolo, vamos combinar isso: o importante é ler o que você gosta. Leia Dostoiévski sim, mas porque você deseja, e não porque vai parecer mais inteligente para outras pessoas.Até porque tomando Memórias do Subsolo, o estilo de narrativa do autor russo é até bastante simples. A começar, trata-se de uma novela, um texto mais curto que um romance (e portanto com menos espaço para complexidades). Mas o livro está muito bem estruturado, dividido em duas partes e montado em três momentos básicos com os quais é impossível o leitor se perder: o discurso de abertura, o encontro com os amigos e Liza. Talvez o momento inicial, com a verborragia do homem do subsolo precise de um pouco mais de fôlego do leitor (inclusive a sensação que tenho é que essa parte deveria ser lida de uma vez só, sem pausas), mas quando partimos para as lembranças do narrador do encontro com os amigos e de Liza, temos um discurso bem normal, fácil de acompanhar.

Eu insisto nesse ponto porque eu não acredito que a dificuldade em Dostoiévski more no modo como ele escreve, mas do que ele fala. Tomando o protagonista-narrador, o homem do subsolo é cheio de mesquinhez, pequenezas. Sentimentos e pensamentos que já vivenciamos em algum momento, porque somos humanos, imperfeitos, anti-heróis ambulantes. Mas dói reconhecer semelhanças em uma personagem como o narrador. Queremos nos ver em atos brilhantes, no melhor de uma personagem, e não no que ela tem de mais pequeno e perverso.

O comportamento do narrador no encontro com os amigos é onde isso fica mais evidente, especialmente em relação a Zvierkóv. Ele crê-se superior ao conhecido, mais inteligente. Mas ao mesmo tempo falha em um aspecto que esse amigo inferior parece se dar muito bem, viver em sociedade. Com Liza, quando essa o visita em casa, novamente temos o choque do superior/inferior com o narrador humilhando a moça porque ela sente pena dele.

O subsolo constantemente citado pelo narrador fez com que eu lembrasse de Gaston Bachelard em Poética do Espaço: é uma representação da alma. O homem que se fechou tanto dentro de si que desconhece a maneira de agir (e mesmo a necessidade de fazê-lo) em sociedade. É um mergulho, rápido mas denso, ao que temos de negro dentro de nós mesmos.

Por isso insisto novamente no convite inicial: deixe de lado a ideia da leitura a ser vencida e usada como troféu. Leia Memórias do Subsolo pelo prazer de reconhecer como um autor conseguiu fazer essa jornada até o fundo do ser humano, sem medo de retratá-lo com suas imperfeições, pensamentos e sentimentos mais obscuros.

Em tempo: não sei russo, portanto não posso avaliar a tradução desta edição da Editora 34 sob esse aspecto. Mas o texto de Boris Schnaiderman flui muito bem, sem momentos de estranheza, e vem repleto de notas bastante elucidativas sobre o contexto social. A tradução foi originalmente publicada pela José Olympio na década de 60, sendo relançada pela Editora 34 no ano 2000. Um resgate importante de um texto fundamental na biografia de Dostoiévski.
Cheruti 16/08/2014minha estante
Anica, foi um prazer me deparar com sua resenha. Já li dois livros de escritores russos (O. Mestre e a Margarida) e (Guerra e Paz), e foram livros difíceis. Talvez tenha absorvido 20%. Me indicaram Memórias do Subsolo, e espero mudar essa barreira que ficou entre mim e a literatura russa.

Outra coisa, gostei daquele trecho da sua resenha sobre Poética do Espaço: " O homem que se fechou tanto dentro de si que desconhece a maneira de agir (e mesmo a necessidade de fazê-lo) em sociedade"

Me interessou esse livro.


Simone 08/02/2015minha estante
Uau!
Já estou seguindo o seu perfil...
Resenha show!
Quer muito ler esse!!


Reinaldo 19/07/2016minha estante
Sem dúvida, um livro singular. É impressionante como Dostoiévski apresenta o ser humano de viés palpável e muito incômodo. Uma tensão entre o livre-arbítrio e a tendência para a ignomínia (adjetivo mais usado por ele ao longo do livro). A percepção que ele tem da consciência e dos conflitos é notável. Uma resposta ao positivismo de sua época. A beleza está na ênfase que ele dá às atitudes de desonra (o tempo todo o personagem principal chama a atenção para isso) e contraponto com pensamentos simples e nobres. Maravilhoso!


laloarauxo 05/05/2020minha estante
Eu li a versão da L&PM e gostei muito do livro, embora o personagem tenha me dado um ranço... O homem do subsolo é um cara que não dá nem para se ter pena, pois ele certamente irá subverter todo o sentimento de compaixão fazendo com que você o odeie...
#tenso


Douglas 14/09/2020minha estante
Muito legal sua resenha, Anica. Arrisco dizer que este estigma acaba sendo um retrato do Brasil, em que a grande maioria foge de leituras densas e reflexivas. As traduções mais antigas também não colaboravam. Por exemplo, fiquei anos e anos empacado com uma edição de Crime e Castigo, da Martin Claret. Não fluía.


Carol 29/09/2020minha estante
Comentário perfeito!


Felipe 17/01/2021minha estante
No mosca!


srttaherondale 08/04/2021minha estante
Que resenha mais gostosa


Leticia 10/07/2021minha estante
Muito bem pontuado!
Sempre achei irônico esse estigma de qua as obras de Dostoiévski são "densas" ou de "leitura pra determinado público". A maioria dos temas tratados são comuns a qualquer pessoa e de fácil entendimento.
Há também, por parte de alguns leitores, um exibicionismo incoerente. Acredito que qualquer um concordaria que jovens assassinos, prostitutas, aproveitadores e outros tantos perfis de personagens apresentados nas histórias não configuram um cenário de sofisticação, ou seja, sentir - se intelectualmente superior por ler Dostoiévski é no mínimo ridículo.


Douglas 11/07/2021minha estante
Letícia, acho legal ressaltar que a " densidade " depende do " copo " de cada um. Por mais que não seja o monstro que muitos dizem que é, este tipo de leitura ainda é incômoda para certas pessoas, que buscam apenas entretenimento, ao invés da reflexão e aprendizado de vida.


G. Carlos 09/08/2021minha estante
Anica, que resenha perfeita! Eu concordo com você e me sinto menos culpado por não ter entendido muito bem o autor na primeira leitura que fiz - aos 17 anos. Creio que a vida nos leva ao encontro com as questões que Dostoievski trata em sua obra. Talvez aí a nossa compreensão e encontro de si na leitura flua melhor e de forma mais prazerosa.


malu_peres 06/09/2021minha estante
muito boa resenha!!


Lua 26/03/2022minha estante
Excelente resenha. ?????


Paulo Vitor 29/04/2022minha estante
Que resenha espetacular!


Belmunitor 10/06/2022minha estante
E eu achando mais fácil ler Dostoiévski do que Nelson Rodrigues kk


Maria Fernanda 15/01/2023minha estante
Que resenha maravilhosa! Bravo!


André 28/07/2023minha estante
Acredito que quanto algumas pessoas classificam como "difícil", não estariam se referindo a linguagem, escrita, gramática ou estrutura, mas em comparação a literatura "normal" que talvez estejamos acostumados desta lado do ocidente. A começar pela personagem, totalmente diferente do que estamos acostumados. Na minha opnião, o vilão. Isso, por si só, já é algo diferente, e por isso, talvez, tão difícil de digerir. Afinal, quem gostaria de enxergar semelhanças com o vilão da história? ?


Sasa 18/02/2024minha estante
Essa resenha foi certeira! Conseguiu transcrever plenamente o meu pensamento sobre o autor e sua escrita.




Fabio 19/11/2023

"Quem nunca esteve no subsolo, atire a primeira pedra!"
O gênio da literatura mundial, Fiodór Dostoievski, escreveu a novela, "Memórias do Subsolo" em 1864, na capital russa, as vésperas do falecimento de sua esposa, e narra em primeira pessoa um período da vida de um aposentado desconhecido, que escreve em forma de memórias, seus pensamentos e devaneios mais íntimos, desejando a todo custo, agarrar a atenção do leitor a sua "louca" filosofia.

"Memórias do Subsolo", considerado por muitos especialistas como o precursor do "Existencialismo", narra a consequências das escolhas de um personagem-narrador, que, julga ser um indivíduo extremamente fracassado econômica e socialmente, mas que em contrapartida reputa ser intelectualmente superior aos seus semelhantes. Dostoievski com esse importantíssimo texto faz uma crítica velada aos filósofos e intelectuais da época e as correntes filosóficas importadas da Europa ocidental, que estavam se instalando na Rússia no final do século XIX.

A obra, é dividida em duas partes distintas, sendo a primeira, intitulada "Subsolo", o protagonista-narrador por meio de um monólogo extenso e reflexivo, de forma intensa, quase febril, nos apresenta solilóquio repleto de debates íntimos e perguntas retóricas, sua história e o motivo pelo qual se encontra em um estado de "vida inferior" ao demais. A segunda parte, as memórias do narrador, intitulada como "A Propósito da Neve Molhada" é mais longa que a primeira, e nela, o autor expõe de forma pratica o que foi conjecturando na primeira sessão, e somos apresentados a três episódios, que revelam o desconforto do protagonista entre seus pares, incluindo um jantar desastroso entre amigos de infância, um longo dialogo com uma meretriz, e as confidências finais sobre os sofrimentos, as dores e a estigma do protagonista perante a sociedade, diante de sua amada.

Em "Memorias do Subsolo", Dostoievski nos convida a uma jornada moral, psicológica e filosófica, e nos faz depreender sobre o significado da vida humana, as ações mediantes aos interesses próprios e mesquinhos, e principalmente sobre o livre arbítrio e as consequências de se viver sem respeitar os limites morais de uma sociedade, e nos conduz por uma profunda reflexão sobre a nossa existência e o limite de nossas ações.

Em uma narrativa complexa, difícil, repleta de metáforas, hipérboles, e longos discursos, "Memórias do Subsolo", demanda paciência, e perseverança, pois nos faz viajar em um mundo pessimista, cheio de dramaticidade, em que o autor propositalmente nos induz a execrar o protagonista logo nas primeiras páginas, e a ter asco por tudo que é narrado por ele, mas que no final de forma assustadora percebemos que, nos identificamos em partes com o personagem e muitas de suas ações.

Mestre na arte de nos fazer meditar, Dostoievski, nos intriga o tempo inteiro ao apresentar uma história, dura e cruel e ao mesmo tempo redentora, e que nos desafia a avançar pagina após pagina, mesmo nas partes mais execráveis da história, sempre nos incitando a procurar por uma resposta mesmo as perguntas mais obscuras, e esfrega em nossa cara o quão ignorante somos, para logo em seguida, nos encher de esperança, e nos mostrar que somos involuntariamente falhos ao mesmo tempo sábios e ignorantes e que, nossa soberba é o que nos faz cair e chegar ao profundo subsolo.
Aline.Rodrigues 19/11/2023minha estante
Perfeita a sua análise. Apesar de ser um livro curto, é complexo, é nauseante, por muitas vezes. Aquela náusea de identificação com alguém tão ?sórdido?. Este livro é genial, como todos do Dostô, mas este me pegou de jeito?


Mariana 19/11/2023minha estante
Eita! Sem palavras para definir sua resenha!! Esplendorosas palavras! ???????????????????????????. Jamais poderia atirar a primeira pedra, entendo bem de subsolos!


Fabio 19/11/2023minha estante
Muito obrigado Aline!?
Fico lisonjeado pelas suas palavras, ainda mais sendo uma estudiosa assídua dos textos filosóficos!
Na primeira vez que eu li, estava na faculdade e o asco que sentia pelo protagonista era gigantesco. Na segunda leitura eu odiei ele até o fim e me comovi com o final. Nessa releitura, assustadoramente, me identifiquei em vários pontos com o narrador... E isso assusta, pois o quão odiavel ele é ?
Depois de uma meditação sobre a leitura, para poder resenhar, eu cheguei a conclusão que todos nós já chegamos vez ou outra no subsolo, e a diferença entre nós e o narrador, é que ele assumiu suas misérias e permaneceu estagnado no mundo execrável em que se encontrava e não se permitiu sair de lá, por achar que vivemos em um mundo ficcional, e que não vale a pena, os esforço.
Então, daí saiu o título .
Mais uma vez obrigado!?


Fabio 19/11/2023minha estante
Mari, minha querida, fico sem palavras com todo o carinho!???
Muito obrigado pela paciência de ler esse livro textao!??
Acho que todos nós entendemos do subsolo, Mari!


Aline MSS 19/11/2023minha estante
Brilhante como sempre Fabio. ????


Fabio 19/11/2023minha estante
Muito obrigado Aline!
Sem palavras aqui! ??


-Rafaela 19/11/2023minha estante
Uau, que resenha belíssima, Fábio! Continue escrevendo assim ???


Fabio 19/11/2023minha estante
Aaaa Rafinha, querida, muito obrigado pelo carinho e pela presença de sempre!???


-Rachel 19/11/2023minha estante
Parabéns pela resenha perfeita, Fabio! ???


Fabio 19/11/2023minha estante
Rachel, querida, lisonjeado com seu comentário, aqui!
Muito obrigado!?
Sou seu fã!???


Carolina.Gomes 20/11/2023minha estante
Quero muito ler.


Camila Felicio 20/11/2023minha estante
Hoje começo a leitura da obra! Obrigada pela super resenha Fábio, como sempre brilhante!


Fabio 20/11/2023minha estante
Leia sim, Carol!
Vai odiar no incio e logo após, amar!!!


Fabio 20/11/2023minha estante
Fico feliz em saber que vai iniciar a leitura hoje, Camila.?
Obrigado pelas palavras carinhosas querida!?


Regis 21/11/2023minha estante
Eu adorei ler Memórias do Subsolo e gostei muito da sua resenha, Fábio. ? ??


Fabio 21/11/2023minha estante
Obrigado, Regis, pelo carinho de sempre!?
É minha terceira releitura dessa obra, e de tempos em tempos, me pego pensando nela, de tão impactante.


Flávia Menezes 21/11/2023minha estante
Li esse livro esses dias, e foi uma experiência incrível! E quando vi a sua resenha, eu tive que parar um pouquinho pra ler. Que primor, Fábio! Que riqueza de detalhes você traz, porém sem colocar nada além para que quem ler possa viver essa experiência por completo. Suas resenhas tem um nível de conhecimento admiráveis! E que escrita!
Amei ter lido. Foi uma resenha muito Dostô: um mergulho existencial! Parabéns! ?????


Fabio 21/11/2023minha estante
Muito obrigado pelas belíssimas palavras, Flávia!?
Me deixou sem elas por aqui kkk
Fico lisonjeado em receber o comentário de uma resenhista do seu gabarito!!!
Sou seu fã, linda! ???


Jessica 21/11/2023minha estante
Isso não é uma resenha, é uma carta aberta para convencer a ler esse livro. Resenha fantástica, Fábio! Obrigada por isso.


Fabio 21/11/2023minha estante
Nossa, Jessica, muito obrigado!?
Me deixou sem palavras!
Fico feliz que tenha gostado da resenha, e espero vê-la em comentando sobre a leitura


elisa :) 22/11/2023minha estante
Suas resenhas são muito boas!


Fabio 22/11/2023minha estante
Muito obrigado, Elisa!?


Vanessa.Castilhos 22/11/2023minha estante
"Uma jornada moral, psicológica e filosófica." Fabio, foi exatamente assim que me senti com essa leitura! Amei sua resenha!!! ??


Fabio 22/11/2023minha estante
Muito obrigado pelo imenso carinho, Van querida!???
Para mim esse livro se resume a essa jornada, existencial, mas principalmente, sobre olharmos para dentro e não para fora


Uedison Pereira 02/12/2023minha estante
Obrigado pela Resenha, Fabio.

Coloco a obra na minha lista.

Abraço.

Uedison Pereirs


Fabio 03/12/2023minha estante
Uedison, muito obrigado!
Fico feliz que tenha gostado da resenha, e ainda mais por colocar na sua lista de leitura!
Abraços, meu amigo!




Rosangela Max 26/12/2021

É um livro curto, com um conteúdo denso.
O protagonista é um homem egocêntrico, orgulhoso, dramático, que acha que o mundo conspira contra ele.
Acompanhar a narração do homem do subsolo exige calma, porque a intensidade dele chega a dar um nó na cabeça. Aliás, dar um nó na nossa cabeça é uma das características de Dostoiévski.
Me lembrou muito a situação de ouvir alguém que está com com as emoções a flor da pele e que começa a falar de forma descontrolada, emendando um assunto no outro, dificultando o acompanhamento da ?conversa?. Mas, em se tratando da maestria do autor, ele faz isso de forma brilhante.
Recomendo a leitura.
Andre.Vieira 26/12/2021minha estante
Esse será uma das minhas leituras pro ano que vem pelo app Skeelo. Apesar de ainda não ter lido Fiódor, esse e os irmãos Karamazov são meus grandes objetivos.


Rosangela Max 26/12/2021minha estante
São ótimas escolhas. ??




Clio0 10/12/2022

Ler Memórias do Subsolo é ler sobre a miséria do Funcionalismo Público porque aparantemente, não obtante a diferença de século e continente, as características básicas permanecem: um trabalho maçante, improdutivo, estressante pelo atendimento ao público que transforma pessoas educadas e capazes em seres mesquinhos, pobres de moral e ideias, escravos de convenções e expectativas sociais.

O narrador anônimo é um típico exemplar. Esse homem culto revela desde o início sua indecência e hipocrisia, a capacidade manipulativa adquirida ao longo dos anos - mas, que só veremos em ação durante três episódios - para justificar e angariar simpatia. Porém, os atos e pensamentos revelados são tão inquietantes em sua falta de conteúdo, de suporte empático que torna seu caráter digno de desprezo.

Foram, em suas palavras, anos de amargor e ressentimento trazidos por essa conciência de que devido a sobrevivência ou a estabilidade, não fica claro qual, o forçaram a aceitar essa situação de náufrago que está impossibilitado de fugir do inferno que mais tarde irá se tornar o trono cobiçado. Parece familiar? O funcionalismo público brasileiro é igual.

Não é uma obra de difícil ou lenta leitura, porém o gosto amargo de algo tão dolorosamente relacionavel torna tudo um pouco cinza, e muito desagradável.

Não sei se recomendo apenas pelo fato de que nem todo mundo gosta de ler sobre algo tão similar a vida real que mais parece a visão da janela da frente.
eu, eu mesma e os livros 10/12/2022minha estante
Eu literalmente tomei um tapa na cara com o final que Dostoiévski escreveu. A primeira parte do livro é realmente bem maçante, mas quando ele adentra nas suas memórias em si dá uma melhorada.




Regis 19/04/2023

Obra precursora do existencialismo e da psicanálise
Dizem que esse é o livro que funciona como porta de entrada para os livros da maturidade de Dostoiévski, então estou retrocedendo um pouco antes de avançar mais, após ter lido Crime e Castigo no ano passado e amado imensamente.

Memórias do Subsolo é considerado um grande ponto de virada na escrita de Dostoiévski. Escrito em 1864, anos após ser condenado ao regime de trabalhos forçados na Sibéria e após ser atingido por acontecimentos trágicos e dramáticos, com esse livro o autor passou a explorar de forma mais ferrenha a psique humana escrevendo grandes romances filosóficos e psicológicos. Sendo assim impossível algum escritor futuro fugir da influência subjugadora do colosso que se tornou sua obra imortal.

O texto introdutório mostra um pouco do contexto político e social russo à época da concepção da obra.
O livro transpassa um período de muita pressão internacional pela modernização e pelo fim da escravidão, onde a incapacidade russa de absolver o progresso pesava negativamente na balança mundial, causando em vários pensadores e artistas como Dostoiévski a sensação de uma invasão alienígena, visto que as ideias e valores internacionais eram implementados sem a participação da população e de forma completamente autoritária, tornando possível o surgimento de pessoas como o personagem subterrâneo que o autor nos apresenta.

O livro é dividido em duas partes: na primeira nos é apresentado o autor fictício, o homem subterrâneo; um ex-funcionário público aposentado e amargurado que segue falando diretamente ao leitor sobre seus pensamentos mais íntimos, suas fraquezas, suas falhas e a falta de sentido de sua existência. Na segunda parte o narrador relembra dois acontecimentos que foram importantes em sua vida.

O personagem se descreve na primeira parte do livro como um verdadeiro anti-herói, um rato vingativo que se esconde nas sombras remoendo toda sua raiva e insatisfação com o mundo a sua volta e vingando-se com pequenos atos de maldade incapazes de satisfazer seu ego e minorar todo seu rancor.
Ele deixa de se esconder em determinado momento para bradar aos quatro ventos sua insatisfação (mesmo que não surta muito efeito aos ouvidos da mudança) com a contaminação da sociedade russa pela civilização europeia.
Mas ao mesmo tempo o personagem que nunca recebe um nome, dada sua total insignificância, é completamente instável e devastado pela dúvida, assim como outros protagonistas do autor com quem já tive contato.

Com uma linguagem coloquial e clássica, o livro é narrado em primeira pessoa de forma brusca e impositiva por um personagem amargurado e sem relações sociais através do qual Dostoiévski desenvolve sua psicanálise e sua filosofia existencialista pela primeira vez.

Esse é o romance de formação do autor, onde a complexidade da alma humana é mostrada através do labirinto paradoxal dos pensamentos do ex-funcionário público.

Adoraria ter feito essa leitura antes de Crime e Castigo, para acompanhar melhor a crescente na escrita do autor.
Memórias do Subsolo foi uma experiência estupenda para mim como leitora e com certeza recomendo a todos esse livro.
CPF1964 19/04/2023minha estante
????


Regis 19/04/2023minha estante
Valeu, Cassius. ?


mpettrus 19/04/2023minha estante
Que resenha incrível!!! Sensacional a sua maneira de contextualizar a vida do autor, a obra e a sua impressão sobre a história. As reflexões e sentimentos que a leitura da obra em questão lhe causou. Magnífico! ??????????


Regis 20/04/2023minha estante
Obrigada, mpettrus! Seu comentário foi bem fofo.?
Na verdade após acabar a leitura sempre gosto de ler sobre o autor e como o livro foi concebido, me ajuda muito lembrar melhor da história e entender o propósito do autor e sua época.


CPF1964 20/04/2023minha estante
Obrigado Regis e Mpettrus. Aprendo bastante com vocês.


Léo 20/04/2023minha estante
Ótima resenha, Régis. ??


Max 20/04/2023minha estante
Uma verdadeira resenha padrão Regis de qualidade! Excelente!??


CPF1964 20/04/2023minha estante
Esta resenha maravilhosa até a Anna aprovaria sem muitas discussões....???


HenryClerval 20/04/2023minha estante
Quando o livro é cinco estrelas a resenha é sempre maravilhosa. Dá para saber quando você gosta 100% de um livro.
Sua resenha está perfeita, Regina!??


Regis 20/04/2023minha estante
Agradeço muitíssimo, Max! ?


Clay 20/04/2023minha estante
Resenha impactante e impecável.
?


Regis 20/04/2023minha estante
Obrigada, Léo. ?


Regis 20/04/2023minha estante
Qual Anna, Cassius?


Regis 20/04/2023minha estante
Obrigada, Leandro! ?
Estou amando ler os clássicos.


Regis 20/04/2023minha estante
Obrigada, Clay! ?


CPF1964 20/04/2023minha estante
Anna Grigórievna Snítkina


Regis 20/04/2023minha estante
Ahh... sim, Cassius. Rsrsrs
Vi que tem uma biografia dela que gostaria muito de ler.


mpettrus 20/04/2023minha estante
Perfeito, Regis!!! Sempre que puder, faça essa leitura sobre a vida do autor. Não como uma obrigação e sim como curiosidade.

No mais: amo quando rola essas interações nos comentários do Skoob ??????


Souza 22/04/2023minha estante
Livrasso do mestre Dostoiévski vc tem bom gosto guria ?


Regis 22/04/2023minha estante
Farei sim, mpettrus. ?
Também adoro essas interações. ?


Regis 22/04/2023minha estante
Obrigada, Souza. Dostoiévski não decepciona. ?


Lyta @lytaverso 06/05/2023minha estante
Excelente resenha! ??????


Regis 15/05/2023minha estante
Obrigada, Talita. ?


Kássio Meniglim 18/05/2023minha estante
??????


George 18/11/2023minha estante
Obrigado pela resenha acabei de ler o livro, ajudou bastante


Regis 20/11/2023minha estante
Que bom que ajudou, George. ??




m.cIara 02/03/2024

Novelizar a psique humana.
Este é um pequeno romance escrito na primeira pessoa do "homem do subsolo", que ridiculariza os seus contemporâneos pelas suas visões utópicas de que o mal humano poderia ser curado pela adesão à racionalidade e aos avanços da ciência e da matemática. Na verdade, essa é apenas a primeira parte (embora esses temas também sejam demonstrados na segunda parte). "Memórias do subsolo" foi escrito como uma resposta ao romance de Nikolai Chernyshevsky "O que fazer?", que sugere que uma sociedade utópica poderia ser construída com base no auto-interesse racional ou no egoísmo racional. E se tal sociedade fosse construída, a humanidade deixaria de lidar com o problema do mal. Dostoiévski via isso como um profundo mal-entendido. Ele achava que a razão era algo valioso e que deveria ser respeitada, mas negava veementemente que ela pudesse explicar a totalidade da natureza humana. Pretende responder àqueles que sugerem que os seres humanos nunca, no seu perfeito juízo, escolheriam fazer algo que fosse contra os seus próprios interesses. O que Dostoiévski pretende explicar através do "homem subterrâneo" é que não há nada que nos mostre que essa é a verdade. Por exemplo, na história, vemos milhares de anos de atos irracionais do homem. Por que Dostoiévski quer que reparemos nestas partes de nós próprios? É para cairmos no niilismo? Não, muito pelo contrário. Ele incita-nos a reconhecer a irracionalidade de nós próprios, porque é precisamente isso que nos torna humanos. Sem vontade individual ou "capricho", não passamos de "teclas de piano", como ele diz. Temos de nos reconhecer como somos verdadeiramente, diz Dostoiévski. Caso contrário, estaríamos a mentir a nós próprios. E mesmo que não tenhamos livre-arbítrio, Dostoiévski afirma que os seres humanos agem sempre como se o tivessem, independentemente dos princípios racionais. Como se pode ver, são muitos os caminhos e as discussões filosóficas em que se pode mergulhar quando se procura as profundezas do pensamento de Dostoiévski. Mas isso, por razões óbvias, ultrapassa o âmbito desta recensão. Como sempre, é preciso lê-lo por si próprio. Parece ser um fio condutor o fato de as pessoas tirarem lições diferentes da obra de Dostoiévski, e creio que isso é um sinal da sua grandeza. Há muito mais para explicar quando se fala de "Memórias do subsolo", como a "doença" que é uma consciência "elevada" e "lúcida" e a realidade paralisante de não ser capaz de agir e de se afirmar no mundo. E assim por diante. Deixei deliberadamente de fora a discussão da segunda parte porque não queria estragar a história real do "homem subterrâneo".
Mariana113 02/03/2024minha estante
Esse livro é maravilhoso. É um dos melhores que já li do autor.

"(...) Até mesmo nos é difícil ser gente ? gente com seu próprio e verdadeiro corpo e sangue; sentimos vergonha disso, achamos que é um demérito e nos
esforçamos para ser uma espécie inexistente de homens em geral."


Léo 02/03/2024minha estante
Esse livro é incrível e adorei sua resenha sobre ele.




Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

Memórias do subsolo, Fiódor Dostoiévski - Nota 9/10
Um livro denso, escrito por Dostoiévski no leito de morte de sua esposa. Talvez esse momento particular da vida do autor tenha sido uma forte influência para um romance tão profundo e impactante. Partindo de uma temática existencialista, que nega tudo e todos, o autor nos apresenta o fluxo de pensamentos de um protagonista sem nome, narrado em primeira pessoa, e que adentra até o mais fundo dos sentimentos e até o mais controverso dos pensamentos. O romance é dividido em duas partes. Na primeira parte, tive a impressão que Dostoiévski queriamostrar ao leitor a inconsistência do modo de pensar do ser humano. De fato, o protagonista é extremamente contraditório, nega tudo, até mesmo os seus próprios argumentos. Já a segunda parte é menos densa e traz menos dificuldades para o leitor. São relatos de memórias protagonista, em que o subsolo é o refúgio para os seus questionamentos e problemas metafísicos. Além disso, gostei muito do diálogo constante entre o leitor e esse personagem angustiado, reflexivo e amargo. Uma obra de arte perturbadora e essencial!!

site: https://www.instagram.com/book.ster
Aline AS 19/01/2022minha estante
?




Laura.brognoli 03/02/2024

Memórias do Subsolo
Achei o livro perfeito, você tem que ler ele com calma, pois é uma leitura meio complicada.
O livro é dividido em duas partes, a primeira conta suas ideias seus pensamentos que não devo ter entendido certo metade dele, a segunda ele já começa a contar situações da sua vida.
Mesmo sendo uma leitura difícil, ele é muito bom, me fez ficar muito tempo refletindo como todos os livros dele fazem.
?De fato, se a vontade se combinar um dia completamente com a razão, passaremos a raciocinar em vez de desejar, justamente porque não podemos, por exemplo, conservando o uso da razão, querer algo desprovido de sentido e, deste modo, ir conscientemente contra a razão e desejar aquilo que é nocivo a nós próprios??

?Vangloria-se da sua consciência, mas, na realidade, apenas vacila, pois, embora o seu cérebro funcione, o seu coração está obscurecido pela perversão, e, sem um coração puro, não pode haver consciência plena, correta. E que capacidade de importunar, que insistência, como careteia! Mentira, mentira, mentira!?
comentários(0)comente



Luan 05/01/2024

Diário de Impressão de Memórias do Subsolo.
Peguei para ler só um pouquinho. Só pra sentir. Terminei o primeiro capítulo sem perceber. Apresentação de gênio!

23/12/2023 (9%)

Ah, Dostoievski. Como consegue ser tão relevante, tão preciso, tão profético quase 200 anos depois? Sim, o lucro que o homem mais buscar é o mais óbvio de todos: a liberdade. Inclusive a liberdade de ser imbecil e tolo, sem medo de prejudicar a si mesmo. É uma lei natural.

24/12/2023 (22%)

O próprio autor indica que daqui começa a verdadeira história do livro. E, sinceramente, isso é só um artifício literário. Ela já começou há muito tempo, onde o próprio protagonista se construiu diante do leitor. Muito bom. Estou empolgado.

26/12/2023 (32%)

Uma hora você está rindo e se deliciando com as tiradas satíricas sobre a sociedade, em outra está refletindo sobre a improbabilidade do livre arbítrio. É por causa de livros como esse que amo a literatura.

28/12/2023 (70%)

O que posso falar? Quem sou eu para dizer qualquer coisa sobre uma obra de Dostoévisk? Quando peguei Memórias do Subsolo para ler, achei que só finalizaria a leitura em 2024. Mas não. A leitura foi tão fluida e marcante, que não pude parar de ler. Quem não tem familiaridade com autor talvez demore um pouco mais, porém não acredito que será menos impactado. Memórias do Subsolo é, na minha opinião, a obra mais acessível do gênio russo. Tem tudo que fez dele um grande escritor. Drama, originalidade, dúvida existencial, sátira social. Se nunca leu nada do autor, essa é a melhor recomendação que posso fazer. Dostô vive.

29/12/2023 (100%)
ana:) 05/01/2024minha estante
que resenha linda




Flávia Menezes 04/12/2023

SOMOS COMO DR. JEKYLL: SEMPRE ESCONDENDO O NOSSO MR. HYDE!
?Memórias do Subsolo? é um romance curto que foi publicado em abril de 1864 e que, segundo alguns críticos, marca a segunda etapa da atividade literária do escritor, filósofo e jornalista do Império Russo Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski.

Não é por acaso que Virginia Woolf o chamava de psicólogo, já que basta ler um livro como esse para ver como Dostoiévski era capaz de dissecar a psique humana em suas narrativas filosóficas sobre o sujeito social, seus conflitos internos e a culpa que tanto lhe fere a consciência muito antes do surgimento do método analítico que foi desenvolvido pelo cientista e criador da psicanálise moderna.

Construído por seu autor como um anti-herói, o homem do subsolo, com seus ares de filósofo, é um porta-voz no ataque ao racionalismo e à mentalidade positivista da época, e que, através de uma narrativa profunda (capaz de nos emocionar!) denuncia as mazelas que assolavam os pobres e miseráveis daquela Rússia injusta e perversa.

Sem nome, o personagem-narrador vai descrever suas experiências, dividindo-as em duas partes:

1ª parte) ?O subsolo?: um monólogo onde o personagem faz um mergulho profundo nos seus valores fundamentais e suas convicções conscientes que (com muita ousadia) vem rebater teorias científicas, políticas e até religiosas;

2ª parte) ?A propósito da neve molhada?: ele (o personagem-narrador) descreve experiências vividas quinze anos antes, trazendo-nos uma memória sobre suas relações com amigos do passado carregadas de conflitos, remorsos e injúrias que não foram digeridas por ele ao longo dos anos, e que voltam para lhe assombrar, mas também para trazer uma nova oportunidade de superá-las.

Confesso que esse foi um romance que me prendeu desde a primeira linha, quando o protagonista inicia sua narração se apresentando como um homem doente, raivoso e sem graça nenhuma. Essa combinação perfeita de palavras usadas para se autodescrever podem até ter um cunho altamente negativo, mas (para mim) me fez perceber que esse era um homem sem máscaras e totalmente despido dos véus diáfanos da hipocrisia humana que escondem o fato de que todos nós temos (internamente, e mesmo que escondida a sete chaves) uma metade sombria.

Nessa primeira parte, onde o autor nos coloca diante do seu Mr. Hyde (personagem da obra ?O Médico e o Monstro?, de Robert Louis Stevenson), ele nos fala sobre como somos condicionados desde cedo a reprimir os nossos instintos mais primitivos em prol de manter essa imagem imaculada de homens e mulheres perfeitos, equilibrados e adequados. E essa é uma questão que precisamos compreender além das aparência, porque é exatamente essa nossa metade sombria repleta de sentimentos negativos, defeitos e outros ?pecadinhos? que, quando encarados de frente, podem nos tornar verdadeiramente pessoas melhores.

E esse é um protagonista que depois de tanto morar no seu subsolo, não tem medo algum de nos mostrar a sua metade sombria. E foi isso mesmo que senti essa empatia imediata com ele. Até porque chegava a me emocionar ver como muitas das suas convicções eram iguais às minhas. E isso é o que eu achei mais genial nesse trabalho do Dostoiévski: não importa o seu gênero ou orientação sexual, todos nós podemos nos sentir como o ?homem do subsolo?.

Preciso dizer aqui que fiquei realmente tentada a colocar várias frases dessa primeira parte de reflexão do ?homem do subsolo?, porque elas falavam de coisas tão importantes e tão reais, que eu me dei conta de como esse poder da identificação é algo tão libertador! Mas eu penso que esse é um livro para que cada um possa fazer sua própria experiência pessoal, mergulhando nessas reflexões para tirar aquilo que para você é importante e o que vai de encontro às suas próprias crenças.

Mas espero que antes de tirar suas próprias conclusões sobre os pensamentos e divagações do protagonista, você possa escutá-lo e tentar entender o que ele vem a dizer através dos olhos dele. Porque ali existem realidades (e verdades!) que são atemporais. E que tentação de dar aqui um exemplo, mas isso deixaria essa resenha ainda mais longa, então...pararei por aqui.

Sobre a segunda parte, eu gostaria apenas de dizer que foi muito ?à lá Dostô?, porque me trouxe os mesmos sentimentos que experienciei ao ler ?Noites Brancas?, também escrito por ele. Essa parte da narrativa é tão impregnada de paixão, fragilidades e medos que eu cheguei até a ficar sem fôlego! E ao terminar, novamente eu me vi ficando com o coração partido, e com aquela sensação de: ?será que eu posso entrar na história para ajudá-los??

Confesso que não esperava ter me apaixonado tanto por esse livro, e certamente ainda farei muitas releituras dele, porque uma vez só não foi suficiente para absorver tamanha grandiosidade.

E se alguém estiver lendo essa resenha, e se questionando sobre ler ou não essa obra, se me permite dar uma sugestão: leia! Não adie mais e apenas leia! Mas esteja preparado(a) para deixar de lado as suas máscaras e véus diáfanos para se permitir (com muita coragem!) entrar no seu próprio subsolo para libertar dali o Mr. Hyde que vive dentro de você.
AndrAa58 05/12/2023minha estante
Adorei sua resenha! ????? Muito boa ?


Flávia Menezes 05/12/2023minha estante
Muito obrigada, Andrea! Clássicos assim merecem! ?


Fabio.Nunes 05/12/2023minha estante
Excepcional Flávia! Não que eu precisasse de convencimento pra ler um dos meus autores favoritos, mas tenho certeza de que sua resenha inspirará muitos a tal.


Flávia Menezes 05/12/2023minha estante
Como não gostar do Dostô, não é? E esse livro dele? foi simplesmente impressionante! Muito obrigada pelo elogio, Fábio. Esse é um daqueles livros que vale muito a pena ser lido!


Vanessa.Castilhos 07/12/2023minha estante
Flávia, resenha perfeita!! Realmente, é de uma grandiosidade! Li a pouco e favoritei. ? Parabéns, querida!! ?


Flávia Menezes 07/12/2023minha estante
Vanessa, minha querida, que coisa boa ler isso! Muito obrigada pelas palavras carinhosas! ?
E realmente, que história maravilhosa o Dostô nos presenteou. Promove tantas reflexões que não tem como não favoritar e ter nas listinhas futuras para uma boa releitura. Também favoritei, querida! ??


Ana Sá 07/12/2023minha estante
amei (pra variar!). deu pra respirar o ar dos Dostô fácil fácil na sua resenha! ??


Flávia Menezes 07/12/2023minha estante
Aaaah, amiga Ana!!! Que gostoso ler isso! Obrigada amiga! ? E esse Dostô é um danadinho, não é? De nos fazer mergulhar tão profundamente em um livro tão perfeito como esse! ?




Cinara... 28/05/2021

"Sou um homem doente... Um homem mau. Um homem desagradável. Creio que sofro do fígado. Aliás, não entendo níquel da minha doença e não sei, ao certo, do que estou sofrendo. Não me trato e nunca me tratei, embora respeite a medicina e os médicos. Ademais, sou supersticioso ao extremo; bem, ao menos o bastante para respeitar a medicina. (Sou suficientemente instruído para não ter nenhuma superstição, mas sou supersticioso.) Não, se não quero me tratar, é apenas de raiva. Certamente não compreendeis isto. Ora, eu compreendo. Naturalmente não vos a saberei explicar a quem exatamente farei mal, no presente caso, com a minha raiva; sei muito bem que não estarei a "pregar peças" nos médicos pelo fato de não me tratar com eles; sou o primeiro a reconhecer que, com tudo isso, só me prejudicarei a mim mesmo e a mais ninguém. Mas, apesar de tudo, não me trato por questão de raiva. Se me dói o fígado, que doa ainda mais."

Esse é um dos começos de livros mais incríveis que eu já li na vida!
Este ano peguei um amor por releituras, e foi incrível ou até mais do que a minha primeira leitura de memórias do subsolo.
É difícil dizer que seja meu favorito do Dostoiévski afinal escreveu também Crime e Castigo e Os Irmãos Karamazov pra disputar meu coração. Coloco então todos em primeiro lugar!
Eu me vejo no personagem e vejo quase todo mundo nele. As pessoas que o acham tão egocêntrico não enxergam suas próprias egocentridades! Somos todos solitários e sempre pensamos em nós primeiro!

Existe um filme de 1995 Notes from underground bem underground mesmo (como todos os filmes de livros clássicos), como A hora da estrela... escuro e estranho que traz a história pros dias atuais. Não sei se gosto dele... ? Mas o livro sim é um dos meus favoritos da vida! Que espero reler muitas outras vezes.
Dayane.Persil 28/05/2021minha estante
Eu amo esse livro ??


Cinara... 28/05/2021minha estante
Dayane ele é muito maravilhoso mesmo! ?


re.aforiori 16/06/2021minha estante
?Memórias do subsolo? li a poucos dias atrás.
Um livro incrível!
Dostoiévski é um de meus autores preferidos! ?




MatheusPetris 15/02/2024

Uma certa tendência contemporânea (ou nem tão contemporânea assim) busca, a todo custo, um aperfeiçoamento pessoal, uma evolução ininterrupta em vistas a atingir a dita “melhor versão”. Discurso este cooptado (e reduzido a retalhos superficiais) por coachings e seus derivados, já foi base de correntes filosóficas (utilitarismo, por exemplo), onde tudo que importa é o resultado, só se age por alguma razão superior (fim), isto é, a finalidade (individual e social) importa mais do que o meio, o caminho. Essa finalidade é aperfeiçoar e fazer crescer, via razão, a sociedade. É o que o patético ex-funcionário público, autor destas memórias — escritas do subsolo, ou seja, da alienação social, do isolamento e de como foi engolido por ele próprio (acima de como foi engolido pelo desprezo alheio) — critica de forma jocosa. Rubens Figueiredo, ao analisar via contexto histórico-social, consequentemente, político, acredita que Dostoiévski crítica certas correntes filosóficas da época por meio da voz de seu memorialista.

Apesar de começar por essa possibilidade de leitura, não quero me ater a ela, quero pensar mais em termos de composição. Porém, antes disso, aquilo que Figueiredo chama de “a retórica de desafio contra um interlocutor invisível”, servirá de introdução ao ensaio. É possível olhar para essa “ofensiva retórica” em dois sentidos: o externo, isto é, o político, o texto como crítica ao seu próprio contexto; o interno, isto é, a composição de personagem, o texto por ele mesmo.

Esse personagem e narrador (testemunha), que se define como um homem doente — a raiva por todos atravessa pela consciência da sua subjetividade e da sociedade como ela é e pretende ser —, diz que “ter consciência demais é uma doença, uma doença de verdade”. Similar aquilo que Italo Svevo afirma: “A doença é uma convicção e eu nasci com essa convicção.” O narrador vai por outra via: “O sofrimento, afinal de contas, é a causa única da consciência”. Svevo parece ser assertivo no que concerne a este personagem (mesmo que em outro romance, de outro contexto, país etc.), afinal, ele é mais doente que consciente. E é aqui, neste ponto, que implode a refinada ironia de Fiódor Dostoiévski. Afinal, toda essa verborragia do personagem — contra a sociedade e o motivo de seu isolamento — , redunda em sua puerilidade, um verniz sob o excremento.

Apesar do personagem afirmar que suas memórias não são ordenadas, sistemáticas, ele próprio diz mentir (e se contradiz consciente e inconscientemente — contradição que também carrega ironia), então, primeiro, como acreditar no narrador em primeira pessoa (memorialista ainda) e, segundo, como acreditar em quem reiteradamente diz estar brincando? Há algo no contexto de publicação e escrita da novela que nos lança, enfim, a composição dela.

Segundo se sabe, Dostoiévski publicou essa novela em duas partes, pois foi publicada em um periódico da época. Essa necessidade em se dividir a novela em duas partes, fez com que Fiódor a escrevesse estruturalmente em prol disso. Ou seja, tal “restricão”, contribui também aos efeitos do livro e a composição do personagem. A primeira parte é basicamente um manifesto filosófico (barato, insípido) onde o personagem tenta explicitar suas ideias sobre seu isolamento e seu ódio soberano ao meio social. A segunda parte diz respeito a três anedotas de sua vida na juventude, que servem como justificativa para a sua filosofia barata.

A primeira delas, é um simples episódio onde se sente desrespeitado por um guarda/policial por um motivo banal. Nutre um ódio e o plano de uma vingança por dois anos. A grande vingança: trombar com ele sem desviar — ele nunca fora reconhecido pelo guarda, era ignorado. Ou seja, desejava não ser desprezado. A segunda, é um jantar com colegas em que se convida. É humilhado por todos, insiste em continuar, se embriaga, e é alvo de chacotas cada vez mais cruéis. É como se decidisse ser desprezado ainda mais. A terceira, em decorrência desta última, faz com que sua planejada vingança (dar uma bofetada no anfitrião do jantar) acabe com ele na cama de um prostíbulo. Bêbado, se sentindo humilhado, tenta humilhar a prostituta a todo custo. Ela não entende como chacota, ele entrega a ela seu endereço e depois se arrepende. Os próximos dias são a ansiedade de vê-la: por se sentir arrependido, pois ela irá ver a falsidade por trás daquele pseudo discurso moralizante vindo de alguém nobre, é, na verdade, vindo de um pobretão odiado até por seu criado; e a segunda, por sentir desejo por ela, por querer algum outro humano perto dele, que algum pelo menos o respeite.

É o narrador quem fala, “era cada vez mais incômodo e aflitivo”", porém, somos nós, leitores, quem sentimos isso no decorrer dessas anedotas. Aqui, sim, Dostoiévski pode se colocar diretamente no texto (“Olhem, eis aqui meu efeito”) e não na questão política. E eis aqui, nessa convergência entre as partes (a introdução, o ensaio pseudo filosófico e as anedotas), que reside a ironia absoluta. No que parece ser a causa do desprezo do personagem pelo social, se revela como o desprezo dos outros por ele como passível de justificativas. É como se ele alimentasse esse desprezo (e se alimentasse dele também). Sua figura patética não se encontra apenas no homem de meia idade que escreve essas memórias, mas também no jovem desprezado por todos. Esse homem não é respeitado nem pelo próprio criado. Se considera um homem com a inteligência acima da média, acredita que ninguém reconhece sua sabedoria, justifica a si, seu isolamento também dessa forma... Mas, na realidade, a própria estrutura do livro, diz o contrário. E isso é reforçado pelas anedotas individualmente.

A conclusão da última anedota, na qual a visita da prostituta o faz desabafar (em sinceridade mesmo) suas misérias (financeiras, morais, subjetivas), lhe lança, de vez, ao subsolo como um rato. Ser impiedoso com ela — afinal, um alvo fácil, prostituta nova —, como a vida e os outros eram com ele, o faz culpar ela própria pela angústia da visita (que ele próprio induziu), como se a culpa por ele estar onde está, fosse exclusivamente externa. A ironia de um homem tão desprezível quanto ele, tentar salvar uma prostituta (ainda que em tom de ironia por parte dele, não percebendo a outra ironia a que é alvo no final das contas) e conseguir ser ainda mais humilhado, é o cadeado do subsolo.

Essa densidade psicológica delineada até aqui, tão cara a Dostoiévski, é um primor da composição do livro (tanto em sentido macro quanto micro). O efeito estranho de que fala o romancista russo de sua própria obra, o seu “tom brutal”, produz um efeito de incômodo, de perturbação ao longo do livro de forma, sistematicamente, gradativa. A passagem para a segunda parte, às anedotas, principalmente do jantar em diante, provoca uma vergonha, uma pena para nós, leitores, por esse personagem, que chega ser impossível não pausar a leitura e respirar para não ficar enjoado.

Realmente há um interlocutor (mesmo que invisível) sendo referenciado como aponta Figueiredo, embora o personagem assuma que as memórias não foram escritas para serem lidas. A descrença do personagem-narrador no ser-humano (corrompido de forma imanente) parece apaziguar seu ódio, como se fosse também intrínseco a ele. No fundo, é uma metralhadora desgovernada que atinge alvos (mesmo em balas perdidas), mas, na realidade, parece ser uma justificativa para si próprio.

Por mais que essas críticas realmente tivessem alvos — e isso não importa tanto assim —, ela redunda em nada, pois esse personagem anula sua próprias reflexões (pela contradição e pela estrutura do livro), ou seja, se há alguma crítica, ela parece residir muito mais na veia pseudo-intelectual do personagem-narrador — tal como o Machado de Assis contista de Papéis Avulsos, principalmente do conto Teoria do Medalhão, curiosamente, junto de Memórias Póstumas de Brás-cubas, indica também a virada de fases do escritor (num olhar crítico evolucionista), tal como esse livro de Dostoiévski —, ou seja, na intelectualidade de possíveis figuras, nível mais micro, do que em filosofias de época e ideologias, nível mais macro.
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Aline Oliveira 02/05/2023

Terceira tentativa lendo Dostoiévski, desta vez fluiu. Apesar da primeira parte ter sido complicada, densa e filosófica, na segunda me apaixonei pela escrita, não é difícil se indentificar com a leitura em alguns momentos.
Vou precisar de uma releitura com certeza, pra absorver mais desta obra, mas me diverti muito com as loucuras desse narrador humano e real, medroso, inteligente, contraditório, confiante, contraditório, ansioso, contraditório... necessitado de terapia urgente!
Michela Wakami 04/05/2023minha estante
Preciso reler esse, para ver se vou gostar dele numa releitura.
Fico feliz que você tenha gostado.
Gosto muito da escrita do autor, mas tem alguns livros dele, que eu não gostei.?
Mas gostei muito da maioria que já li.


Aline Oliveira 06/05/2023minha estante
Merece uma releitura mesmo, acho que passa muita coisa sem a gente notar. Eu li Noites Brancas e não gostei, comecei os irmãos K. e parei, vou recomeçar.




Rafa 28/12/2020

Existe algo melhor que não pode ser alcançado. FMD
Nesta novela, Dostoiévski exprime o subsolo de cada um de nós. Com isso, nos coloca a par das nossas infelicidades, angústias, ressentimentos e invídias. O que remonta à nossa responsabilidade diante da infinitude que nos cinge.
suellen 28/12/2020minha estante
Estou louca pra ler esse livro, depois da tua resenha irei dar prioridade.


Rafa 28/12/2020minha estante
Recomendadíssimo! Mto bom ???


Daniel 29/12/2020minha estante
5 estrelas! Já vou incluir na lista dos "Quero ler"...


Fabielli.Rocha 29/12/2020minha estante
Quero muito ler, tenho há algum tempo, será o próximo!


Rafa 30/12/2020minha estante
Vale mto a pena. Excelente fonte de reflexão ??




Vanessa.Castilhos 14/11/2023

Meu primeiro Dostoiévski
E num jorro de fluxo de consciência, Dostoiévski desnuda a psique de uma alma infeliz e atormentada. Nos apresentando os seus sentimentos mais profundos e sombrios, que ficam nos subsolos secretos da alma humana.

Um mergulho magnífico, impactante, de cara com a verdade, nua e crua, sem filtro, sem máscaras... a realidade. E também a consciência de estar ciente dessa obscuridade.

"Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos seus amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si próprio [...]." p. 52

E se trouxessemos o nosso subsolo à tona, como ele seria?!

Uma leitura incrível, muito reflexiva, filosófica, densa mas fluida, um verdadeiro tratado da psique humana!

Concluí, pensando na releitura.
Recomendo muito!!

14/11/2023
Michela Wakami 14/11/2023minha estante
Arrasou na resenha, amiga. ???????


Vanessa.Castilhos 14/11/2023minha estante
Muito obrigada, amiga!! ??


Michela Wakami 14/11/2023minha estante
????


Cleber 14/11/2023minha estante
Linda resenha! Realmente, o primeiro Dostoievski a gente não esquece.


Vanessa.Castilhos 14/11/2023minha estante
Cleber, muito obrigada amigo! ?


CPF1964 14/11/2023minha estante
???????


Vanessa.Castilhos 14/11/2023minha estante
Muito obrigada, amigo Cassius!!


Rogéria Martins 14/11/2023minha estante
Resenha impecável, Van! Arrasou, amiga!
Você escreve muito bem ???


Fabio 14/11/2023minha estante
Amei a resenha, Van!?
Parabéns, querida!??


ealveselis 14/11/2023minha estante
Linda resenha Vanessa!! ?. Adorei sua pergunta, para refletir ainda mais!! ??


Vanessa.Castilhos 14/11/2023minha estante
Rô, amiga querida, muito obrigada mesmo!! ???


Vanessa.Castilhos 14/11/2023minha estante
Fabio, fico muito feliz q vc gostou, meu amigo!! ?


Vanessa.Castilhos 14/11/2023minha estante
Muito obrigada, Elis!! É uma leitura muito reflexiva né ?


Débora 14/11/2023minha estante
Resenha impecável, Vanessa! Amei!!!??????


Vanessa.Castilhos 15/11/2023minha estante
Débora, querida!! Muito obrigada!! ???


Thay262 16/02/2024minha estante
Aquela resenha incrível que nos dá vontade de pegar o livro pra ler. Tenho esse aqui e nunca que leio, já folheei e li as primeiras páginas, mas ficou nisso. Mas lendo sua resenha o sentimento é: por que eu não li ainda?




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