Edu 08/05/2023
Um olhar negro sobre a identidade negra!
Em sua dissertação de mestrado, Neuza Souza
analisa com perspicácia como a violência causada pelo racismo opera na psique do negro brasileiro, expondo as danosas consequências dessa subalternidade em suas autoidentidades. A autora revoluciona ao examinar a saúde mental do indivíduo negro, já que não se havia muitos debates desse gênero no campo acadêmico brasileiro.
Apesar do moledo academicista, a linguagem do livro não se torna de difícil compreensão. Acredito que a leitura seja bastante acessível pois, mesmo eu, como leitor sem base teórica alguma sobre questões psicanáliticas, não me foi um exercício mental maçante ou complexo.
O olhar de Neuza aponta que o negro constrói sua identidade através da identidade do branco, da brancura. Ele não tem um ideal próprio, pois o racismo o faz repudiar toda a sua existência, exigindo-lhe uma metamorfose, uma brancura incapaz de ser realizada. O ódio à cor da pele é o ódio à carne, ao corpo como toda sua representação material no mundo. O negro, ao ver que não pode tornar-se branco, entra em uma profunda autodesvalorização, sucumbindo a alienação, tristeza, escárnio e vergonha.
Tornar-se negro significa entender a condição a qual o racismo constrói para a psique do negro e então renega-la, ir ao encontro de um próprio ideal, curar a ferida narcísica tornando-se negro, encontrando seus próprios contornos, gostos, ideias, jeitos, sonhos, belezas. Sua identidade não fundada em uma ideologia racista provida da brancura.
Acredito que toda pessoa negra já sofreu ou vivenciou os episódios contidos e relatados nessa obra. O que é relatado, descrito, digitado, é tão verossímil. Experiências coletivas de negação e ódio à própria negritude, à própria identidade. É um livro que nos tira da alienação, de seres passivos a ativos, sujeitos/protagonistas de nossas próprias histórias e não coadjuvantes de uma vida a qual o nosso corpo não pertence.
Falando dos outros textos presentes no livro, amei tanto como ela descreve o inconsciente! Um jeito metafórico e poético. Bonita demais essa escrita. Aprendi muito também sobre o papel do analista, me fez refletir sobre as minhas idas à terapia e afins.
Leiam Neuza Souza!