Núbia Esther 30/04/2013Avilly e Chantilly são duas cidades do interior da França que tem em comum um estranho surto ocorrido em 2020 que culminou na degradação de ambas as cidades. Em 2020 ambas as cidades foram acometidas por uma estranha doença que além de afetar a memória dos moradores também provocou a morte de muitas pessoas. Catherine de Aragon, moradora de Chantilly, aterrorizada pela perda da memória iminente decide começar um diário narrando à situação vivida por ela e implorando para quem encontrar suas anotações no futuro, tente descobrir a causa para o que está acontecendo hoje e que se ainda for possível encontrar uma solução que os ajude.
É este diário, que dez anos depois cai nas mãos de Ethan Stuart, um cientista que está muito interessado em desvendar os misteriosos fatos envolvendo as cidades. E através de cartas trocadas entre Ethan e Catherine, que parece estar se recuperando dos danos causados pela doença, o interesse do pesquisador só aumenta e ele decide começar uma investigação por conta própria. E como todo Sherlock tem seu Watson, Leon Saiter, um antigo morador de Chantilly com um baita pendor para o alcoolismo, é escalado para o papel. É assim que ambos acabam indo parar na França, conhecem a misteriosa Anabelle e começam a descobrir mais sobre o misterioso acontecimento que ao que parece não foi por causas naturais, mas fruto de um experimento que pode ter envolvido até o governo francês.
A parte inicial da história é composta pelo diário de Catherine e pela troca de missivas entre Catherine e Ethan e entre este e Leon. E, apesar da utilização de cartas (em pleno 2030) ter sido proposital, como confirmado pela autora, não consegui ver uma razão palpável para tal uso. A escolha do meio de comunicação e o ar quase vitoriano (ainda que ela tenha tentado deixá-lo noir) da história nos faz pensar por que ela escolheu contar sua história tão no futuro. Seria muito mais coerente se os fatos ocorressem nos dias atuais ou mesmo em um passado recente. O que, é bom frisar, não impossibilitaria a possibilidade do uso de experimentos genéticos como apregoado por Ethan.
O texto quase telegráfico em alguns momentos também me irritou. A impressão é que a autora tinha uma história para contar, mas não conseguiu fazê-la em sua totalidade. Faltou principalmente uma boa ambientação, pois a história pode até ser mais importante do que o lugar onde ela se desenrola, mas é impossível subestimar a importância que boas descrições de ambiente contribuem para melhorar a história, e diálogos robustos entre os personagens, pois estes em sua maior parte foram bastante mecânicos e superficiais. Outra falha que foi impossível relevar, até porque me fez voltar e reler o mesmo trecho mais de duas vezes para ter certeza de que não era loucura minha, foi e incoerência de algumas datas ao longo da história. Datar os capítulos é uma boa forma de deixar a linearidade temporal da história mais clara. Mas, deve ser feito com cuidado, pois qualquer deslize deixa em evidência datas poucos coerentes com o que é narrado. E infelizmente foi o que aconteceu. Em um determinado trecho Ethan e Leon recebem uma carta de Catherine no dia 18 de junho, após isso os dois a visitaram e em seguida Ethan partiu em uma viagem pela França (inteira como bem salientado pela autora) em busca de informações para sua investigação e pediu que enquanto isso Catherine e Leon se submetessem a testes genéticos e enviassem o resultado a ele. Após fazer isso, Leon decide tirar férias de um mês em Paris, período no qual trocou vários e-mails com Ethan e não, não foram no mesmo dia, ou pelo menos o personagem deixa a entender que alguns dias já se passaram. Até aí tudo bem, agora alguém consegue me explicar como isso tudo pode acontecer em apenas 24 horas, já que no dia 19 de junho uma notícia envolvendo Ethan foi publicada no jornal? Jack Bauer ficaria com inveja. Ela deveria ter continuado a usar datas genéricas citando apenas o mês e o ano, como fez na maioria dos capítulos.
A trama da história é boa, tem um mistério interessante, que possivelmente envolve conspiração (e eu adoro) e tem bons personagens. Contudo, acredito que a obra foi publicada quando ainda estava muito crua. Tinha todo o potencial para ser uma história inovadora, mas acabou ficando enfadonha por causa de suas falhas. Antes da publicação da continuação, acho que vale a pena se pensar em uma reedição do primeiro livro. E sim, apesar dos pesares pretendo ler Copenhague porque fiquei muito curiosa para saber o que aconteceu em Chantilly dez anos atrás.
[Blablabla Aleatório] - http://blablablaaleatorio.com/2013/04/30/chantilly-mare-soares/