Gabriela 08/10/2023Casa VelhaPode-se dizer, de certa forma, que sou uma fã do Machado rs. Já tenho uma vasta experiência com contos dele, entretanto, 99% dos que eu já li eram de sua fase realista, então ler esse conto que traz tanto da fase romântica dele foi parte de mais uma das grandes surpresas que eu encontro nas obras dele.
Eu, muito honestamente falando, comecei esse conto esperando algo muito macabro. Principalmente depois daquele início sinistro. Mas encontrei um estilo de narrativa MUITO diferente do que eu esperava.
E falando em sinistro, apesar de não conseguir encontrar uma justificativa que endosse totalmente isso, passei boa parte da história sentido uma vibe muito de terror, no estilo de suspense daqueles filmes com iluminação ruim, cheio de jumpscare e com um assassino super sádico. Acho que veio muito do jeito que o Machado narra a descrição da Casa Velha em si, mas apesar disso a história não tem nada mórbido assim KKKKKKKKKKKKKKKK.
E sendo sincera, eu achei bem água com açúcar. Mesma ladainha clássica de briga de família, onde até mesmo o "plot" eu já saquei de cara logo nas primeiras páginas. Tá muito mais pra um novelão mexicano recheado de intrigas familiares, com direito a traição e briga por herança.
Ainda assim, é sempre muito louco ver como o Machado guia o leitor pelo caminho que ELE escolheu, e você pobre coitado só basta acompanhar cegamente enquanto ele te leva exatamente por onde ele queria.
Em MUITOS momentos o autor faz você se questionar a respeito das suas capacidades de interpretação. Várias vezes eu via o Padre falando algumas coisas e ficava: "hmmmm... Isso é meio... errr... Mas é um PADRE que tá falando. Não faz sentido isso, Gabriela, para de ser maluca. Você tá vendo coisa onde não existe!!"
E no fim das contas a coisa existia sim.
Pelo cara ser PADRE, é maravilhoso o jeito que esse narrador traz com ele muitas questões a respeito de religião, política e os dramas familiares da época. Obviamente tudo muito parcial, pela visão de mundo dele, e isso torna tudo ainda melhor.
Pro autor, a ambientação não era nada mais do que o dia a dia, mas pra Gabriela lendo isso 2 séculos depois da publicação original, me fez sentir como se eu tivesse assistindo uma série de época da Globo. Como se eu tivesse sido transportada diretamente pro período regencial, com direito filtro sépia e 500 camadas de roupa num calor tropical.
Em suma, foi uma leitura muito prazerosa. Quanto mais eu conheço sobre a escrita e os trabalhos do Machado de Assis, mais eu entendo o porquê desse mano ser o melhor escritor que já passou por esse país e cada vez mais acredito nisso também.
Unicamp sempre mandando muito bem com as listas de leitura e não poderia estar mais contente em ter tido contato com essa história!!