L. B. Böer 29/09/2023
?(?) se há futuro a ser cogitado, esse futuro é ancestral?
Comecei a ler essa obra-prima logo depois de concluir a leitura de ?A Ilha das Árvores Perdidas?, (uma história que me tocou demais) e acho que isso agregou ainda mais nessa experiência transcendental que tive com ?Futuro Ancestral?.
Ambas as obras tratam de ancestralidade e do ser humano como sendo intrinsicamente pertencente ao meio natural, mas na obra de Ailton Krenak, a presença desses dois assuntos é técnica, sem deixar de ser extremamente poética.
Essa com certeza foi uma das melhores leituras do ano, e acho que em 120 páginas aprendi mais coisas sobre nossa existência do que em muitas coletâneas extensas feitas por teóricos brancos que tentam explicar a catástrofe humana, e como sobreviver a mesma.
Por pouco não grifei o livro inteiro, mas foi bem difícil. Krenak fala muito sobre nossa sobrevivência no meio do ?capitaloceno? e em como é importante manter a memória viva da ancestralidade pra que a gente saiba como compor o futuro nessa terra.
Acho que um dos meus trechos favoritos foi quando Krenak disse: ?se o colonialismo nos causou um dano quase irreparável foi o de afirmar que somos todos iguais. Agora a gente vai ter que desmentir isso e evocar os mundos das cartografias afetivas, nas quais o rio pode escapar ao dano, a vida, à bala perdida, e a liberdade não seja só uma condição de aceitação do sujeito, mas uma experiência tão radical que nos leve além da ideia da finitude. Não vamos deixar de morrer ou qualquer coisa do gênero, vamos, antes, nos transfigurar, afinal a metamorfose é o nosso ambiente, assim como das folhas, das ramas e de tudo que existe?.
Esse é o tipo de livro que precisa ser lido diversas vezes, em diversos momentos da vida, porque mesmo sendo pequeno em quantidade de páginas, o saber aqui é imenso.