Craotchky 19/12/2023O prelúdio das cinzas ou Uma "resenha" em versos Primeiro a fagulha.
Depois a chama.
Finalmente o incêndio.
É a véspera das cinzas.
Há o peso da vida;
Há as nuances do viver;
Há a correnteza dos entes humanos;
Há o comprometimento do ser no devir;
Há o rasgo do útero;
Há a agressão das horas;
Há as sequelas dos dias;
Há os vestígios dos anos;
Há a corrosão e a deformação;
Há o crepúsculo e o declínio.
Diante da escolha e da imposição;
Diante da tentação e da transgressão;
Diante do crime e da punição,
Não pode haver imunidade.
Há a impossibilidade da indiferença;
Há a impossibilidade da inocência;
Há a impossibilidade da omissão.
E de repente o susto da queda;
O assombro do vácuo;
A vastidão do abismo.
É assim que o fruto cai
E o verbo se faz corpo.
Audaz, atrevido, intrépido,
O texto se arrisca a se expor
E assim precipita a descida
Até o domínio do fundo,
Sem medo de se demorar ali,
Onde contracena-se o cotidiano;
Onde revela-se a inanição da rotina;
Onde flagra-se a nudez da vida.
Existir, ainda assim, é inabortável.
Pois a vida, que é muito mais que viva,
Resiste, insiste, prossegue e se perpetua...