Não é um rio

Não é um rio Selva Almada




Resenhas - Não é um rio


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Carlabknho 16/05/2024

Frágeis e tóxicos: ego masculino
De início parece ser apenas uma história de amizade masculina. Enero, Eusébio e um personagem sem nome, chamado de Negro. Será que seu nome é Negro? Isso sim incomodou no decorrer de toda leitura. Eles são amigos de infância e tem a tradição de pescar no rio. Um dos personagens passa a ter pesadelos envolvendo afogamento, eles consultaram o curandeiro Gutiérrez (tio de Eusébio), sem sucesso e mais tarde o Eusébio morre afogado. Quem passa a pescar com seus amigos é seu filho Tilo, no mesmo rio em que ele se afogou.
Numa viagem de pescaria de final de semana, eles passam a relembrar o passado, a infância, curiosidades, conflitos, outras narrativas surgem e a que mais me chamou atenção foi a de Siomara. Primeiro pelo asco ao personagem Enero por desejar / flertar com uma menor de idade (filha da personagem), posteriormente pela estranha conexão que ela tem com o fogo, como ela utiliza-o para expressa raiva (me lembrou bastante a Luzia de Salvar o Fogo) e pela forma como ela e suas filhas exemplificam a força, esperança feminina e o ciclo de violência as quais as mulheres estão sempre expostas.
Há cortes bruscos na narrativa que levam ao passado ou presente sem muita preparação. Incomoda um pouco, mas dá pra acompanhar sem muita dificuldade. Algumas vezes o trecho parece não ter um tempo definido. Pode ser presente quanto passado. Uma expressão, um verbo, um detalhe revelam o tempo certo, ou às vezes nem releva, fica a incógnita. Essa inexistência/ambiguidade temporal é cativante, deixa aquela pulga atras da orelha, dá vontade de lê até entender o todo.
E no fim das contas, toda violência entrelaçada da narrativa diz respeito ao universo masculino, sua incapacidade de lidar e enfrentar emoções e masculinidades tóxicas.
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Ladyce 28/04/2024

Meu grupo de leitura Ao Pé da Letra, já havia escolhido "Não é um rio", de Selva Almada, com tradução de Samuel Titan, Jr, como leitura para o mês de abril, antes mesmo do livro ter sido anunciado como finalista do prêmio Booker Internacional deste ano.  Há, além disso,  a curiosidade deste livro estar competindo com o livro "Torto Arado" do escritor brasileiro Itamar Vieira Júnior, também finalista para o mesmo prêmio. O grupo leu o livro brasileiro em fevereiro de 2021. Ainda brincamos, no nosso encontro de sábado, que mais uma vez estamos diante de uma competição Brasil x Argentina, já que a autora é natural da Argentina. Mas dessa vez  a rixa não é no futebol.


Todos do grupo gostaram do livro.  Ainda que alguns sentissem a necessidade de mais conteúdo de alguns personagens, mais complexidade na trama. O livro é pequeno, há aproximadas cem páginas de texto, e características de alguns personagens poderiam ser aprofundadas, fazendo o texto mais rico,  mais tridimensional.  Há personagens fortes e herméticos.   As personagens mulheres parecem tão enigmáticas quanto o olhar masculino as julga.

Confesso que gostei do livro como está.  Sem necessidade de aprofundamento dos personagens.  Gosto de textos curtos, impactantes, que marcam pela elipse, por tudo que não dizem.  É uma maneira de engajar o leitor que dá de si ao preencher as lacunas, ao entender o que foi sugerido.  Selva Almada tem uma maneira de escrever lacônica.  Não há uma palavra extra, nenhuma palavra extra para ênfase.  A narrativa mistura passado e presente, e por isso requer atenção. Há muitos personagens.  Há os personagens humanos e há pelo menos dois personagens não humanos: a floresta tropical, e o rio.  Há um tantinho de realismo mágico, na dose certa. Para mim, fiz algumas notas para manter cada personagem no seu lugar, com sua história, algo raro em texto tão curto.  Mas talvez isso tenha sido porque não li o livro de uma só vez, ainda que ele possa ser lido em duas horas. 

Mas há uma característica dessa narrativa que me cativou e a colocou à frente de muitos livros;  Esta é uma história que mostra a violência de pessoas comuns.  Exibe o desprezo de muitos pela vida.  A vida é algo barato.  Dispensável,  Todos morremos e sofremos.  E revela o lugar deprimente das mulheres nesse enclave a que somos apresentados. É o retrato da bestialidade humana, das atrocidades cometidas no cotidiano de um grupo que se reserva um mínimo civilizatório.  Apesar disso, a narrativa é tão precisa, tão pontual e hábil que aceitamos tudo sem espanto, sem choque.  Nesse aspecto, Selva Almada se mostra uma mestre, sem igual.  Não me surpreende que hoje seja conhecida como uma das grandes escritoras argentinas. Recomendo a leitura.
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Maria. 16/04/2024

Primeiro da shortlist do booker prize 2024
Esse ano decidi ler a short list internacional do booker prize, começando por este curtinho, latino americano, de sinopse muito interessante. curti a leitura. acredito que existem livros cujas histórias só podem ressoar com tanta intensidade em leitores de países semelhantes ao do escritor, principalmente quando a localização geográfica é um personagem. leio muitos russos e é de conhecimento geral que são petersburgo sempre configura como um personagem ditatorial do que vai acontecer ao enredo e seus personagens, e tenho ciência de que nunca vou conseguir compreender isso da maneira que um local compreende.
senti que a história poderia se desenrolar facilmente em alguma cidade litorânea deste meu país continental. isso me aproximou da narrativa. me cativou. é muito bem desenvolvido em suas incríveis pouquíssimas páginas, e é dificílimo eu me encantar por um livro curto. requer muito talento seduzir em 96 páginas. em suma, adorei, e agora já não sei se o nacionalismo vai me manter na torcida por torto arado nesse booker prize. feliz da autora ser traduzida aqui em sua obra completa!
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Maria 14/04/2024

Eu peguei esse livro do nada, depois de ver que a autora vai ter outro livro dela lançado aqui no Brasil e uma menina ter retwitado a notícia falando mais ou menos: "esse livro mudou a trajetória da minha vida". As primeiras 10/20 páginas é um grande ??????, mas a história vai ficando tão profunda, tão boa, que é quase impossível parar de ler. Não é uma história tão fácil de entender, por ser não-linear, e ainda acho que não entendi tudo, mas a experiência de leitura foi tão *não tô achando uma palavra que possa definir* que eu dei 5 estrelas, além da escrita maravilhosa.

Ele não mudou a trajetória da minha vida kkkkkkkkkk PORÉM, me deixou com uma leve ressaca, porque nada que eu leio agora me parece bom o suficiente. E quanto mais eu penso, mais eu gosto e me dá vontade de reler. Enfim, tudo é muito bom: a narração, o jeito que o livro foi montado, os personagens, as histórias, a ambientação, a escrita, etc. Virei fã de Selva Almada com 96 páginas.

?Justo nessa hora um vento se mete pelas árvores, e tudo está tão calado, por conta da hora, que o rumor das folhas cresce como a respiração de um animal enorme. Escute só como respira. Um bufar. Os galhos se mexem como costelas, inflando-se e desinflando-se com o ar que se mete pelas entranhas. Não são apenas árvores. Nem arbustos. Não são apenas pássaros. Nem insetos. O jacurutu não é um gato-do-mato, se bem que às vezes pareça. Não são uns preás. É este preá. Esta urutu. Este caraguatá, único, com seu centro vermelho como o sangue de uma mulher. Se espicha a vista, descendo a rua, chega a ver o rio. Um brilho que umedece os olhos. E de novo: não é um rio, é este rio. Aguirre passou mais tempo com ele que com qualquer pessoa. Pois bem. Quem lhes deu permissão??
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Diego Piu 11/02/2024

O livro vai passando ritmado como uma canoa atravessando o rio. Poucas páginas, direto e ao mesmo tempo confuso. Gostei da pegada fúnebre e da não linearidade.
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Consuelo 04/02/2024

É aquele rio
Não é um livro, é esse livro.
Primeiro contato com Selva Almada e que lindeza de história! Daquelas que a gente não consegue parar até terminar. O livro é curtinho e dá pra ler numa pegada só (eu demorei um pouquinho), mas mesmo que o ?convívio? seja breve, ao fim ele deixa um gosto, um cheiro, uma ausência? o pensamento reverbera, ressoa, vai e vem sobre os acontecimentos ainda por um bom tempo.
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Yasmin O. 14/01/2024

Um livro que li em uma sentada, com uma história que se passa em uma ilha em um rio na Argentina rural, que apesar de não ser um rio, mas o rio, poderia ser o rio de qualquer outro lugar, abordando a brutalidade masculina, a devastação do corpo feminino e da natureza e as consequências dessa violação, ao mesmo tempo em que entrega relações de amizade, companheirismo e união entre esses homens, igualmente afetuosas e violentas, em um enredo repleto de simbologias e misticismo, muito masculino e ainda assim com personagens femininas marcantes e imprescindíveis para o desenvolvimento da trama, muito latino-americana, com o real e o fantasmagórico convivendo e confundindo-se no fluir da história, não linear, onírica, poética e também árida. Muito me fez lembrar de Pedro Páramo de Ruflo, de Temporada de furacões de Fernanda Melchor e de Fúria de Clyo Mendoza, o que pode ter minimizado o impacto do livro para mim, apesar de sentir que esses personagens, em especial Lucy, Mariela e Siomara, não serão facilmente esquecidos por mim.
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Raul Maciel 17/12/2023

"Justo nessa hora um vento se mete pelas árvores, e tudo está tão calado, por conta da hora, que o rumor das folhas cresce como a respiração de um animal enorme. Escute só como respira. Um bufar. Os galhos se mexem como costelas, inflando-se e desinflando-se com o ar que se mete pelas entranhas.
Não são apenas árvores. Nem arbustos.
Não são apenas pássaros. Nem insetos.
O jacurutu não é um gato-do-mato, se bem que às vezes pareça.
Não são uns preás. É este preá.
Esta urutu.
Este caraguatá, único, com seu centro vermelho como o sangue de uma mulher.
Se espicha a vista, descendo a rua, chega a ver o rio. Um brilho que umedece os olhos. E de novo: não é um rio, é este rio."

O ponto de partida deste livro da argentina Selva Almada é a ida de três homens a uma ilha próxima ao Rio Paraná. Eles, que moram em um lugarejo próximo à ilha, são Enero e Negro, amigos de muito tempo e que formavam um trio com Eusebio, que morreu afogado, e que agora viajam com Tilo, filho de Eusebio. Esta viagem pode ser vista como uma forma de os amigos oferecerem um suporte ao Tilo, por se preocuparem muito com ele, mas principalmente como uma forma de terem um pouco do Eusebio com eles, o que podemos ver quando Enero observa Tilo e percebe enormes semelhanças entre pai e filho, e também como uma espécie de rito de passagem da adolescência de Tilo.

O principal conflito que logo é posto é entre as pessoas que vão para a ilha e as pessoas que moram lá, tendo em vista as suas diferentes formas de se relacionar com a natureza, o que observamos já desde a primeira cena, em que os homens matam uma arraia. A violência dos homens — contra outros, contra outras, contra tudo — aparece ora de forma destacada, ora como algo do cotidiano, já naturalizada. A questão de gênero é outra que aparece durante o livro inteiro, caracterizando um certo paralelo entre a relação dos homens com as mulheres e com a natureza: ambas podem ser apropriadas, depredadas e descartadas.

Em diversos trechos, a história corre menos nos acontecimentos e muito mais pelos laços e e pelas relações entre personagens — e não apenas entre personagens humanos, mas também com os próprios elementos da natureza, uma vez que Não é um rio os constitui também como espécies de personagens e não apenas parte do espaço em que ocorre a história.

Há muitas simbologias: na água do rio, no fogo, no mato, nas árvores, no ar, no vento, nos sonhos, nas personagens mulheres — sobretudo Siomara, a personagem mais interessante, e suas filhas Mariela e Lucy, também fundamentais para a história. E é também por todas essas simbologias que o livro flerta um pouco entre o realismo fantástico, mas sem adotá-lo ou assumi-lo totalmente, deixando uma dúvida, uma inquietação.

"Esse homem não é desse mato, e o mato sabe. Mas deixa. Que se meta, que que o tempo que precisar para juntar lenha. Depois, o próprio mato vai cuspi-lo, os braços cheios de galhos, de volta para a margem."

Sobre a escrita: chamaram-me a atenção as diferenças nas formas de construção de personagens homens e de personagens mulheres e também de construção dos universos dos homens e das mulheres e dos espaços em que eles se cruzam e os conflitos que se dão. A forma da escrita parece carregar uma oralidade — ou: parece tomar emprestada a comunicação oral. Não há capítulos, apenas parágrafos e quebras do espaço de uma linha que entregam a passagem de uma cena a outra e entre os tempos, sendo que o tempo presente ocorre nos dias da viagem dos três homens e o passado vai a diferentes momentos, como a morte de Eusebio, um antigo trabalho de Enero, um momento da infância dos amigos, entre outros.

Por fim, Não é um rio apresenta uma história muito interessante e com uma escrita muito boa, sendo um livro curtíssimo, mas que consegue apresentar muitos elementos, todos muito complexos, e trabalhá-los de forma poética e direta.

Um adendo: Não é um rio fecha a trilogia de varones, que no Brasil muitos traduziram como trilogia masculina ou como trilogia da masculinidade. Os dois livros anteriores são O Vento que Arrasa (Cosac & Naify, 2012) e Ladrilleros (sem tradução para o português, 2013). Mas eu fui ler sobre e a própria autora diz que foi uma trilogia involuntária e que as histórias podem ser lidas separadamente e em qualquer ordem, pois cada uma tem personagens, tramas e aspectos próprios, sendo o universo masculino o elemento comum entre elas.

site: https://medium.com/@raulmaciel/sobre-n%C3%A3o-%C3%A9-um-rio-da-selva-almada-esse-homem-n%C3%A3o-%C3%A9-desse-mato-e-o-mato-sabe-ea50580d0269
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MachadiAninha 14/12/2023

Livro tão curtinho, mas carregado de uma força que vai se construindo mediante cada capítulo. eu realmente não dava nada pelas longas descrições da vida na pesca ou pros diálogos aparentemente vagos, até que eles vão se conectando em um triunfo que só se soma à adição de novos personagens: LUCY E MARIELA ganharam meu coração demais! achei que poderia ter mais umas 10 páginas de final.
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Melissa 12/12/2023

Escolhi um pouco aleatoriamente na biblioteca e me apaixonei tanto por esse livro. Exatamente o tipo de livro pelo qual eu me apaixono. Uma escrita lindíssima, muito sensível, combinada com um enredo hipnotizante com uma simplicidade de quem sabe que não precisa de prepotência
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Invasão Bárbara 05/11/2023

Não é um rio
Um livro interiorano, com cigarros de palha, pescarias e vinho enterrado para ficar fresco. Com fantasmas, fofocas sobre traição, mortes inesperadas, brigas de família e gente que ficou louca.

Mais uma leitura concluída para o #DesafioLivrada2022 (2/15), esse na categoria “Um autor argentino”. Minha primeira opção era A Débil Mental, segundo volume da trilogia sobre os desprazeres da maternidade da Ariana Harwicz, mas depois do vídeo sobre essa obra no canal que propôs o desafio, troquei na mesma hora.

É incrível como autores da América Latina sabem encaixar bem elementos sobrenaturais e oníricos nas tramas. Borges, Rulfo e Cortázar estão aí para provar isso. A Selva segue essa mesma tradição.

A história se passa durante uma pescaria. Enero e Negro, amigos desde a infância, e o jovem Tilo, filho do Eusébio, companheiro dos dois primeiros que morreu afogado, vão para uma ilha que frequentam há bastante tempo. Lá eles pegam uma arraia enorme e depois jogam o animal morto de volta no rio. Esse fato atrai e também irrita alguns moradores locais, que acharam a atitude desrespeitosa.

Além dos três amigos, outros destaques são alguns moradores locais, como Aguirre e sua irmã, mãe solteira de duas adolescentes, eles foram os únicos dos irmão que permaneceram na ilha e perderam o contato com o resto do mundo. Ela é uma mulher amargurada, que não lida bem com a felicidade e juventude das filhas, e acaba pagando um preço alto por isso.

Enquanto os fatos vão se desenrolando, a narrativa vai sendo intercalada com histórias do passado envolvendo violência, traições, abusos, premonições, paixões e acidentes. Por se passar naqueles vilarejos que pararam no tempo, é cheia de crenças e superstições.

A ilha é um personagem vivo, suas matas parecem reconhecer quem anda por elas. Os elementos água, fogo, terra e ar são muito presentes na narrativa e se aliam aos fantasmas que habitam o local. Tudo aqui parece um sonho, em alguns momento um pesadelo, com ecos do passado envolvendo culpa e pessoas amadas que foram perdidas.

O livro lembrou um pouco Pedro Páramo, recomendo para quem gosta de realismo fantástico, como leitores de Haruki Murakami.

site: https://www.instagram.com/invasao_barbara/
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Ricardo256 02/09/2023

Não é um rio
Primeiro contato com Selva Almada, gostei de conhecer este livro. Sinto que preciso reler este livro rsrs mas gostei da forma como foi tratado os temas.
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Elida Leituras e Historias 04/08/2023

Não é um Rio - por Leituras e Histórias
"Se espicha a vista, descendo a rua, chega a ver o rio. Um brilho que umedece os olhos. E de novo: não é um rio, é este rio. Aguirre passou mais tempo com ele que com qualquer pessoa.”

Essa foi minha quarta leitura junto com o @clubedeficcionistas, mais um autor latino e muito mais aprendizado.

Quando concluí esse livro de apenas 92 páginas, fiquei furiosa. Estarrecida. Irritada. Será que não entendi nada? Eu ainda esperava uma virada. Um "plot". Um grande acontecimento que resumisse a moral da história.
Não teve. Todo o livro é um grande, denso, profundo ensinamento. Espesso. É uma boa palavra. Não há leveza nessas poucas páginas.

Não é um rio foca, essencialmente, em quatro amigos Enero, O Nego, Eusébio e Tilo, os últimos são pai e filho. Os três cresceram juntos e adoravam viajar para um ilha fluvial próxima ao lugar que viviam. Iam juntos todos os verões para pescar e, depois que Eusébio morre - neste Rio - seu filho permanece indo com os tios que o viram crescer. O quarteto, embora adorem o lugar, não demonstram o respeito, a veneração, a intimidade que o nativos da Ilha exibem e esse confronto latente entre eles movimenta uma tensão na narrativa.
A história fala de morte, de dores e conflitos pessoais e não é contada de forma linear, o tempo é trançado, fluido como o fluxo de um rio movimenta-se de um jeito que parece não carecer entendimento, só nosso olhar atento. Afinal, que diferença a contagem dos dias poderia fazer na dores que atravessam as vidas? Há quem diga que ela fale de fantasmas. Isso eu não vi. Eu vi memórias. Lembranças. Mistura do ontem com o hoje. Não é isso que somos? Uma grande e bagunçada mistura de todos os nossos ontens com o agora?

Selva Almada fala da pobreza e das limitações daquelas pessoas tão sem expectativas no interior, das crenças e costumes que embasam e até validam a violência rural, principalmente contra mulheres. Ela nos faz mergulhar em questões intrincadas na humanidade. Emaranhadas. Densas. Trançadas. Coisas difícies de compreender quando começaram e quando vão terminar.
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romulorocha 17/07/2023

Não é um rio, de Selva Almada

Gênero: Romance
País: Argentina
Ano: 2021 / 96 páginas
Editora: Todavia

Autora de Garotas Mortas (2014), a argentina Selva Almada traz neste romance de época toda sua sutileza e sensibilidade. Diferente de Garotas mortas, aqui os personagens principais são homens e a forma como são retratados pela autora é uma singularidade sem igual.

Não é o rio conta sobre a vida de dois amigos Enero e Negro em uma ilhazinha no interior da Argentina. Lugar de hábitos humildes, como pescar, tomar banho de rio, ir à missa na igrejinha da comunidade no domingo e festejar no único barzinho da cidade ao som de lambada, a ilha guarda uma triste história da morte de um amigo de Enero e Negro por afogamento no rio. Após 15 anos, como uma forma de tributo ao amigo, eles decidem levar o filho órfão do falecido Tilo para um passeio no mesmo rio em que ele morreu. O passeio que tem o rio como testemunha, desperta muitas emoções e surpresas.

O livro é narrado em primeira pessoa, possui uma linguagem bem característica da autora, e retrata de forma muito cativante o dia-a-dia de uma comunidade no interior argentino. Regada pelo trabalho matutino, pelos mates nos finais de tarde e festejos à noite, somos envolvidos pela rotina dos personagens e suas emoções.

Para Não é um rio, nota 8/10.

#resenhasdoromulo
#literaturaargentina
#nãoéumrio
#selvaalmada
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FAtima311 13/07/2023

Este rio!
Uma narrativa que te arrasta, como águas profundas de um rio turbulento, onde o leitor tenta se agarrar em qualquer coisa para não submergir.
Li em um fôlego só, muitas vezes duvidando da minha própria percepção do enredo. Mas vibrando com a escrita tão direta de Selva Almada. Fazia tempo que uma história não me envolvia assim!
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