-Louie 28/02/2024
"A Cachorra" foi um livro... estranho.
Bom, tive curiosidade de ler por conta da capa, afinal não é todo dia que vejo um cachorro amarrado pelo pescoço de onde saem galhos em vez de uma cabeça! Para minha maior surpresa, a sensação de ler essa história era a mesma de observar a capa: estranha, sombria, enigmática, desconcertante.
Essa é uma leitura de uma sentada (se você for esse tipo de leitor, ao contrário de mim). Li bem rapidinho e ainda assim o livro teve um certo impacto em mim, já que as personagens são complexas, mas (propositalmente) pouco explicadas. Dessa forma, algumas ações ou falas delas ficavam na minha cabeça por bastante tempo após ler. A protagonista Damaris vai mudando gradualmente e o leitor pode acabar nem mesmo percebendo, isso faz com que suas ações fiquem cada vez mais imprevisíveis e alarmantes, contrariando a si própria em muitos momentos.
Confesso que o tema maternidade (e a impossibilidade dela para a protagonista) não ressoa muito bem comigo, já que realmente não dou grande valor à possibilidade de ter filhos, mesmo assim com uma boa ambientação do local onde Damaris vive assim como a narração de alguns de seus traumas passados conseguiram me fazer ter um pequeno entendimento da questão para essa história. Além disso, me ajudou a interpretar a cachorra não só como uma "filha" para Damaris, mas no fim das contas a representação da própria Damaris e ela agindo para com o animal como a sociedade a vê.
Não acredito que seja um livro para pessoas sensíveis, mas é uma leitura rápida e que prende nossa atenção. O desfecho é meio abrupto e gostaria que tivesse mais páginas, mas no geral é um bom livro.
Por fim, gostei bastante da tradução com algumas notas do tradutor contendo explicações sobre coisas que podem ser desconhecidas a outras culturas. E vale a pena dar atenção a termos como "prenha", "macho" e "fêmea" que são comumente utilizados para animais, mas a autora usa para pessoas!