Leila de Carvalho e Gonçalves 18/07/2018
O Hábito Faz O Monge?
A troca de identidade é um assunto recorrente no dia a dia e na ficção. Em pleno século XX, inúmeras mulheres afirmaram ser Anastácia, a filha mais nova do czar Nicolau II, cujo corpo recém-encontrado confirma o massacre de toda família imperial pelos bolcheviques em 1918. Transitando para os contos de fadas, a Bela Adormecida também é uma princesa que, amaldiçoada ao nascer, acaba criada como uma simples órfã por suas fadas-madrinhas.
Mark Twain (1835-1910), um dos mais conhecidos escritores norte-americanos, não passou incólume pelo tema. Inspirado numa viagem à Europa, o escritor resolveu abordar o assunto, realizando uma critica a impiedosa hegemonia da Inglaterra vitoriana. Por sinal, não é de se estranhar sua atitude, a medida que os Estados Unidos, até 1776, foi uma colônia britânica.
Para tanto, o escritor retroagiu ao passado, durante o final do reinado de Henrique VIII, criando uma história baseada na incrível semelhança entre Tom Canty, um menino pobre, e o príncipe Edwad Tudor, sucessor ao trono. Trata-se de um interessante experimento literário, em que Twain flerta com a ficção histórica e meros boatos como já havia feito anteriormente Alexandre Dumas em "O Homem da Máscara de Ferro".
Mediante a perspectiva individual dos protagonistas, se Edward não perde a pompa, apesar de todas as adversidades que padece com a troca, ele reconhece na vida humilde que passa a ter uma solidariedade desconhecida na corte. Em contrapartida, Tom, seduzido pelo poder, não tarda a corromper-se pelas mordomias, apesar de usar de suas prerrogativas para alterar a injustiça de algumas leis.
Seu desfecho, apesar de apontar para o amor, acarreta uma série de atos violentos que aparecem abrandados nas adaptações para o público infanto-juvenil.
Divirta-se!