Bruno Araújo 31/12/2022
ENTRE OGROS, SOMBRAS E FEITICEIRAS
Depois de aproximadamente 10 anos, volto a revisitar esta obra que tanto marcou a minha adolescência. Acredito que seja a minha primeira experiência em revistar uma leitura após um bom tempo. Estava apreensivo, ao mesmo tempo curioso em saber se mudaria o meu sentimento em relação à história, já que agora sou um leitor bem mais amadurecido. Eu não recordava de quase nada dos acontecimentos e seria como se fosse o primeiro contato com a narrativa.
O primeiro volume de "As aventuras do Caça-Feitiço" é uma literatura de fantasia no estilo de "As crônicas de Nárnia". Tom é o protagonista que nos é apresentado como o sétimo filho do sétimo filho, condição necessária para se tornar um Caça-Feitiço. Como dever do pai é procurar um ofício para cada descendente e já estava esgotando as possibilidades, Tom acaba se tornando aprendiz de Gregory, um Caça-Feitiço experiente que vivia no condado. Aqui é possível perceber que a mãe, muito parecida com a mãe de Paul Atreides em "Duna", é uma mulher que sabe muito por trás do espetáculo e que desde o casamento até a quantidade de filhos que teria, tudo foi parte de um plano maior, e Tom parece confiar piamente nela.
A narrativa contém boas doses de terror e suspense. Joseph Delaney consegue fazer ótimas imersões no gênero ao descrever bem as cenas. Como por exemplo, temos a passagem da casa amaldiçoada, lugar do primeiro teste do aprendizado de Tom. Um feminicídio cruel e violento ocorrera naquele lugar e tinha deixado marcas assombrosas que ressoavam e que se repetiam durante a madrugada.
Nesse primeiro volume da trilogia, começamos a aprender junto com Tom acerca das criaturas que vivem ali e a maneira de lidar com elas. Além das sombras, vestígios de eventos trágicos, como já mencionado acima, é nos apresentado os ogros e as feiticeiras, que tanto podem atrapalhar, como podem ser bastante benévolas aos nossos personagens.
É uma ótima obra introdutória, extremamente agradável e envolvente. A leitura é rápida e dinâmica, uma boa pedida para um divertimento. Aborda questões importantes sobre família, responsabilidade, respeito e amizade, além da desconstrução imagética da mulher demoníaca que encanta e dissimula. Mesmo com a visão literária que tenho hoje, a sensação que fica é a mesma do leitor que fui há uma década atrás. E por isso, sou grato.
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