Jenifer 15/06/2022
A Sombra do Vento
Existem obras que você sabe que já deveria ter lido, em um momento ou outro da vida, mas que por algum motivo específico, você fica adiando, adiando... Até que um dia decide que já está mais do que na hora de parar de procrastinar e dar início a leitura de uma vez. A Sombra do Vento foi assim pra mim. Sempre existiu a curiosidade, tanto pelo título em si, quanto pela escrita do autor, além das inúmeras indicações de leitura, já que o livro é um fenômeno da literatura contemporânea. Então, finalmente resolvi me aventurar e já adianto que não poderia ter escolhido uma oportunidade melhor. Mas, antes de apresentar alguns dos motivos que me levaram a apreciar tanto obra, vamos ao enredo.
A trama começa no ano de 1945, em Barcelona. Somos apresentados a Daniel Sempere, até então com dez anos, prestes a conhecer o Cemitério dos Livros Esquecidos, uma gigantesca biblioteca que abriga incontáveis livros abandonados. É nessa biblioteca que ele entra em contato com "A Sombra do Vento", um romance escrito por Julián Carax, que logo se torna o seu autor favorito e a principal motivação para o desenrolar dos acontecimentos que permeiam toda a história. Isso porque, já no início da "investigação", Daniel descobre que alguém anda destruindo todos os exemplares de todos os livros que Carax já publicou e que o que ele tem em mãos pode ser um dos últimos volumes ou até mesmo o último restante.
A princípio, o leitor pode imaginar que a partir desse momento teremos o início de uma investigação inocente, ou até mesmo uma simples aventura, já que Daniel descobre-se instigado por esse mistério bem cedo, aos dez, quase onze, anos de idade. E já adianto que não, uma vez que o autor, ao articular as pistas que envolvem a vida de Carax, relata, ao mesmo tempo, os acontecimentos que atravessam a vida de Daniel, seu crescimento, seu amadurecimento, a evolução do seu olhar sobre o mundo e sobre as suas relações, durante todo esse percurso.
O autor desenvolve sua obra apresentando pequenos saltos temporais, e a medida que Daniel cresce, sua busca por mais informações sobre Julián Carax torna-se cada vez mais sombria e dolorosa. Personagens secundários ganham destaque, já que é por meio de suas memórias, seu envolvimento com a guerra (Civil Espanhola) e suas ligações com Carax que conseguimos montar as peças do quebra-cabeças que o autor nos entrega no decorrer da narrativa. São personagens complexos, profundos, que carregam em si um pouco da melancolia que envolve a Barcelona do pós-guerra.
E o que falar sobre a escrita do Carlos Ruiz Zafón? "Bea diz que a arte de ler está morrendo muito aos poucos, que é um ritual íntimo, que um livro é um espelho e só podemos encontrar nele o que carregamos dentro de nós, que colocamos nossa mente e nossa alma na leitura e que esses bens estão cada dia mais escassos.". Fascinante, cheio de reviravoltas, a forma como as tramas de Daniel e Julián se entrelaçam nos faz mergulhar nesse labirinto de lembranças, enquanto o autor discorre sobre a importância da arte, da palavra escrita, da História. Recomendo demais a leitura e apesar de ser o meu primeiro contato com o autor, pretendo ler os demais livros da série, já que esse livro faz parte de uma sequência de romances que estão interligados, mas que podem ser lidos em qualquer ordem ou separadamente.