Caroline Gurgel 30/08/2014Holocausto contado para crianças?
Quando você lê um livro tão bem recomendado, que vem com aquele
"todo mundo gostou" e já ganhou alguns prêmios é inevitável criar grandes expectativas. Adiei essa leitura por muito tempo para poupar-me da tristeza que ela me traria e pensei que seria um 5 estrelas. Não foi. Ou foi, nem sei. Desde que terminei a leitura fico me perguntando se vale três, quatro ou cinco estrelas - o que é bastante estranho. Mas, vamos lá.
O Menino do Pijama Listrado conta a história de
Bruno, um garotinho de 9 anos que morava em Berlim em uma adorável casa de cinco andares, como o próprio relata. Até que um dia seu pai recebe o
Fúria para um jantar, torna-se comandante e recebe uma nova missão. Para cumpri-la precisará se mudar para
Haja-Vista por um
"futuro previsível" e levará toda sua família - a esposa, a filha mais velha, Gretel, e Bruno. Ao chegar lá Bruno não gosta do lugar, pois fica longe dos amigos e não tem crianças para brincar, até que um dia ele percebe que há, do outro lado da cerca, muitas famílias - com crianças! - e todas vestem um pijama listrado.
O Fúria -
Führer - é, obviamente,
Hitler e
Haja-Vista, por mais tosco que pareça, é
Auschwitz. E é aí que entra o primeiro problema. Por que uma criança alemã de 9 anos não sabe pronunciar Führer ou Auschwitz, mesmo tendo sido corrigido inúmeras vezes por sua irmã? Para deixar o livro mais leve e não citar os "nomes feios"? Talvez. E outra, que criança alemã, repito, de 9 anos nunca tinha ouvido falar em judeu?
Para mim a idade de Bruno é a falha dessa história, ele é inocente demais. Vejo suas ideias, conceitos e dificuldade de fala compatíveis com uma criança de 5 ou 6 anos. Eu poderia esquecer isso e pensar que ele viveu "preso" em casa, sob rédeas curtas dos pais que lhe "pouparam" dos detalhes do Nazismo. Mas não... Bruno tinha amigos e brincava na rua, por isso a minha estranheza.
Afora esses detalhes, o livro é incrível, de uma simplicidade que encanta. A narrativa é em 3ª pessoa, mas como é sob a perspectiva de Bruno não sabemos ou vemos nada além do que o próprio vê. A escrita é singela, quase infantil, mas ainda assim elegante.
Um ponto que o autor quer deixar evidente é de que as crianças são inocentes, puras, não nascem racistas nem com ódio no coração. Elas não veem a cor ou a religião do coleguinha, elas veem uma criança e a oportunidade de fazer um amigo. Os adultos, estes sim, podem transformá-las em pessoas más.
Devido ao tema, pensei que teria uma abordagem mais profunda, mas não, tirando as últimas páginas, é tudo muito "leve", na medida do possível, claro. É como um livro que conta o Holocausto para crianças. E se conta sobre o Holocausto às crianças?!
A pureza da criança torna esse livro triste em uma bonita história, mas ainda assim não sei se recomendo. Recomendaria para crianças, mas não é um livro para crianças. Ou é? Ou as crianças tem que aprender desde cedo os horrores que já aconteceram neste mundo para que se tornem adultos mais conscientes e responsáveis, menos racistas?
Meu livro favorito do autor continua sendo
O Palácio de Inverno, este sim é fantástico, um dos melhores livros que já li. Quanto ao menino do pijama, leiam por sua conta em risco.