Baseando-se numa sugestiva frase de Jean Cocteau - Cada pássaro canta melhor na sua árvore genealógica -, Jodorowsky submerge o leitor num delicado relato tão cômico e surpreendente como heróico e lendário sobre a história de seus antepassados, desde seus bisavós até seus pais. Essa reconstrução narrativa de sua árvore genealógica serve para que o autor vá decifrando o sentido de sua própria existência, por meio de uma imensa geografia - Ucrânia, França, Itália, Chile, Argentina.
Em vez de um habitual acerto de contas próprio de quem enfrenta a sua memória familiar, Jodorowsky faz voar as contas e os contos e constrói um romance absolutamente insólito, um autêntico mito fundador em que cada personagem é um herói, um caminho de perfeição, uma busca do absoluto, um poema homérico.
O que Jodorowsky nos conta é uam avalanche de peripécias (desde catástrofes cosmológicas a coitos intensos, passando por sangues sagrados, crônicas sociais ou análises metafísicas), mas que estão devidamente presas às páginas em que o leitor, mesmo espantado, nunca se perde ou, se acontecer de se perder, é com aquele prazer infantil de perder-se num bosque que guarda tesouros ocultos.