Galvis 20/09/2020
Macacos acertam mais sobre fatos do que humanos
Pessoas unidas e bem informadas mudam o mundo e ficam menos ansiosas. Essa parece ser a mensagem final do livro de Hans Rosling, Factfulness. E a primeira meta no caminho de um mundo melhor é a extrema pobreza.
Temos cerca de 1 bilhão de pessoas vivendo em extrema pobreza. Sem acesso a eletricidade, subnutridas, sem possibilidade de estudar. Melhoramos muito se comparamos a taxa de pobreza atual (20%) com a de 1800 (80%), embora o número absoluto de pessoas em extrema pobreza ainda continue o mesmo.
Confesso que li com bastante desconfiança. A visão extremamente positiva que ele tem do mundo e de como ele tem melhorado me incomodou. Porém, a partir do meio percebi o porquê dessa abordagem. Acredito que pra tentar prender a atenção de gente que o julgaria de comunista.
O argumento central de Hans é o de que precisamos atentar para os dados para focar os esforços nos lugares certos. E ainda não estamos bem antenados aos dados. Chimpanzés acertariam mais (33% respostas certas) sobre fatos do mundo em um quiz do que os próprios humanos (cerca de 17% respostas certas). Isso faz parte de um questionário aplicado pelo Gapmind, instituto fundado por Hans com o intuitos acabar com a ignorância no mundo. Um site que vale a pena visitar.
A ideia do livro é mostrar que as pessoas têm certos instintos que as fazem reafirmar suas crenças em vez de analisarem friamente os fatos, e o quanto isso é perigoso pra o progresso da humanidade e, principalmente, para os países em níveis mais pobres.
A mídia, a publicidade e a internet, além de outras instituições usam esses instintos humanos pra atrair a atenção e, claro, fazem isso muito bem. O problema é que a partir daí as decisões podem ser drasticamente equivocadas e ainda assim defendidas por grandes grupos com ?boas intenções?.
Como falei, o livro repete bastante uma visão positiva do mundo (?as coisas melhoraram?) e isso me incomodou de certa forma. Mas ele apresenta dados que mostram o quanto os países evoluíram em nível de recursos básicos e deixa evidente que ainda há uma parcela do mundo sofrendo com a pobreza e que tirá-los de lá é uma missão que todos deveriam cooperar.
O que eu gostei do livro foi a forma como ele pede pra que prestemos atenção e não generalizemos as observações que fazemos. Ele mostra fotos de países pelo mundo e compara 4 níveis de renda. Em diversos deles, que eu imaginava serem pobres e sem acesso a certos recursos, são bem parecidos. As visões românticas de mexicanos com chapelões e baianas rodando saia criam estereótipos e distorcem a realidade.
Ele alerta, por exemplo, sobre a visão generalizada que temos dos países africanos como paupérrimos. Há problemas e extrema pobreza na África, mas essa visão impede que países se desenvolvam porque as pessoas parecem perder a esperança, o que espanta investimentos. Não se deve falar em ?países africanos? como se todos fossem iguais.
Hans Rosling, o autor, foi médico e atuou em epidemias por diversos países, inclusive foi chamado por Fidel Castro pra resolver problemas de saúde pública em Cuba. Ele viu de perto que soluções inteligentes precisam de análises frias e de dados bem relacionados pra serem resolvidas.
Mais uma vez, um livro pra se ler com bastante cuidado, aplicando os próprios ensinos de Hans. O livro foi publicado pela editora Record, que publica vários livros conservadores, o que já é um alerta a se considerar, mas recomendo.