Julia Dutra @abibliotecadebabel 03/04/2020
É difícil descrever a contemporaneidade sem que as letras percam sua leveza para o protagonismo de smartphones e redes sociais. Leïla Slimani aborda a falta de tempo, os problemas familiares, a xenofobia e a desigualdade social, nas quase duzentas páginas que compõem a Canção de Ninar, sem que a abordagem psicológica das personagens seja afetada pela falta de sutileza característica da Era.
A história conta-se toda na primeira página, cabendo a assimilação dos detalhes e das motivações ao leitor, ao longo das seguintes. Uma cena trágica é descrita. Uma babá afável e indispensável é apresentada. Sua vida pregressa, seus anseios e sua própria personalidade são suprimidos.
As particularidades da história se desenvolvem a partir da junção das perspectivas dos personagens ali envolvidos: as crianças mimadas, os pais dependentes, o sentimento de culpa e a desumanização do empregado. A partir disso, a autora consegue delinear o perfil da assassina e a motivação de um crime bárbaro, frutos dos problemas sociais mesclados ao longo da obra.
A leitura é rápida e a escrita sem floreios. O livro premiado na França atravessa continentes sem que sua atualidade perca sentido, deixando a desejar apenas na caracterização de um estilo próprio, o que o coloca próximo àqueles que, pessoalmente, são uma leitura entre tantas e pouco mais do que isso.