LuccySwan 19/10/2023
Trata-se de um romance que adentra o terreno sombrio do medo e suas ramificações. O medo da guerra, da imigração, do desconhecido, da autodescoberta e da plenitude na vivência. O medo do fracasso e, por fim, o medo da finitude, da morte. Uma teia de apreensões que se estende ao longo de gerações, enraizando-se no inconsciente familiar.
Contudo, não é apenas uma narrativa de angústias, mas também um conto de redenção, sacrifício e metamorfose. Embora a trama se desenvolva em poucas páginas, a leitura é envolvente e gratificante, embora a sensação de que poderia ter sido mais extensa persista. Gostaria de ter explorado as nuances com maior profundidade, sem desvirtuar o enredo, mas proporcionando um aprofundamento enriquecedor.
Assaad Simão Maluf, oriundo do Líbano e imigrante no Brasil desde a infância, traz consigo uma história marcada por uma tragédia familiar no ano de 1920, época derradeira do império otomano - um contexto que merece, sem dúvida, uma explanação mais detida.
A crua lição que a vida nos ministra é cristalina: o medo, essa sombra protetora que nos oferece uma falsa sensação de segurança, acaba por se tornar o algoz das autênticas experiências. É ele que nos encarcera na cela do egoísmo, moldando-nos em verdugos de nossos próprios anseios e sonhos. Nessa sinistra dança, é a morte que assume o papel de protagonista inconteste.
Assim, nossa família se encontra aprisionada nessa malha de apreensões, reverenciando a vida como uma efêmera divindade, porém a um custo excessivo: o sacrifício das vivências fugidias, o luto pelas oportunidades perdidas, uma homenagem ao medo que nos subjuga.
Para aqueles que anseiam por lirismo e ficção enraizados em uma narrativa habilmente urdida, esta obra se revela satisfatória, deixando na memória uma ressonância marcante sobre o medo, que, em suas diversas facetas, assume o papel principal.