Gabriela3837 03/02/2024
Destaques favoritos:
?Considerando que Mary Carmichael não era um gênio, mas uma garota desconhecida escrevendo o primeiro romance numa quitinete, sem ter o suficiente do que seria de desejar?tempo, dinheiro e ócio?, ela não se saiu mal, pensei. Dê a ela mais cem anos, concluí, lendo o último capítulo?o nariz e os ombros descobertos das pessoas apareciam sob um céu estrelado, pois alguém havia puxado as cortinas da sala de estar?, dê-lhe um espaço, um teto todo seu e quinhentas libras por ano, deixe que ela diga o que lhe passa na cabeça e deixe de fora metade do que ela hoje inclui, e ela escreverá um livro melhor algum dia. Será uma poetisa, disse eu, colocando A aventura da vida, de Mary Carmichael, no final da prateleira, dentro de cem anos.?
Minha legenda (reduzida) para meu post em Londres kkk
?A indiferença dos pés apressados as teria apagado em meia hora. Aqui vem um menino de recados; ali, uma mulher com o cachorro na coleira. O que fascina nas ruas de Londres é que não há duas pessoas semelhantes; cada uma parece comprometida com seus assuntos particulares. Havia os negociantes com suas sacolinhas; os andarilhos batendo seus bastões nas grades da região; personagens amáveis, para quem as ruas eram um clube, saudando os homens nos coches e dando informações pelas quais ninguém perguntara. Também havia cortejos fúnebres, aos quais os homens, subitamente lembrados da efemeridade do próprio corpo, tiravam o chapéu. E um cavalheiro muito distinto que descia devagar as escadas e parou para evitar uma colisão com uma senhora agitada que havia, de um jeito ou de outro, adquirido um esplêndido casaco de pele e um buquê de violetas-de-parma. Todos pareciam à parte uns dos outros, absortos nos próprios afazeres. Nesse momento, como acontece em Londres com frequência, houve uma completa calmaria e a suspensão do tráfego. Nada descia a rua; ninguém passava. Uma única folha desprendeu-se do plátano no final da via e, durante aquela pausa e suspensão, caiu. De alguma forma, era como se um sinal caísse, um sinal indicando a força de coisas despercebidas. Parecia apontar para um rio que, correndo invisível, contornando a esquina, descendo a rua, apanhava as pessoas e as redemoinhava, como a correnteza em Oxbridge havia apanhado o estudante em seu barco e as folhas mortas. Agora trazia de um lado para o outro da rua, na diagonal, uma garota de botas de couro de montaria, e depois um jovem de sobretudo castanho; também trouxe um táxi, e trouxe todos os três juntos a um ponto exatamente abaixo da minha janela, onde o táxi parou, a garota e o jovem pararam e entraram no táxi, e então o carro deslizou como se tivesse sido varrido pela corrente para outro lugar.?
* O posfácio foi fantástico