Nicolas523 14/04/2023
"É estranha a diferença que um rabo faz"
Por meio de um gato sem rabo, uma biografia da "irmã de Shakespeare", entre outras digressões, a autora expõe uma ideia simples (porém nada óbvia): a de que é preciso uma renda estável e um teto todo seu para escrever ficção (ou qualquer produção artística). É fascinante acompanhar o desenvolvimento das dúvidas de Woolf (por que existem tão poucas mulheres escritoras? por que existem tantos homens escritores? por que, entre as exceções de escritoras, o formato do romance sempre se sobressaiu?) até suas conclusões. A fatal descoberta de que nós matamos nossos gênios, por falta de oportunidades, por falta de um espaço, de renda, de educação. Temos condenado todo e qualquer gênio, que não tenha nascido no corpo de um homem branco, a enlouquecer dentro de sua própria genialidade.
"Quando, porém, lemos sobre o afogamento
de uma bruxa, sobre uma mulher possuída
por demônios, sobre uma feiticeira que vendia ervas ou mesmo sobre um homem muito notável e sua mãe, então acho que estamos diante de uma romancista perdida, uma poeta subjugada, uma Jane Austen muda e inglória [...]"