Anselmo.Silvino 31/05/2016Moribundo "Tudo é apenas ilusão no final das contas, e ilusões só parecem reais a distância. A nossa terminou, meu amor perdido e sonhador terminou, e isso é o melhor de tudo, porque é a única coisa que o faz ser bom."
Não é só em Westeros que uma longa noite se aproxima. A Morte da Luz é ambientado no “planeta errante” Worlorn (um planeta que vaga pelo espaço, não orbitando uma estrela), que, após alguns anos passando próximo a um grande sistema estelar de sete sóis, está fazendo seu caminho de volta à escuridão. Essa sua proximidade momentânea com uma fonte de luz e calor permitiu a povoação do planeta, que foi feita de uma maneira bastante peculiar: um grande Festival, no qual cada um dos 14 planetas próximos construiu uma cidade. Mas o livro não se ocupa dos tempos de prosperidade de Worlorn.
Agora se afastando do calor, o moribundo planeta só continua sendo habitável graças ao escudo que o envolve — tecnologia implantada por um dos povos que o colonizou. Mesmo assim, Worlorn foi abandonado quase que totalmente, com apenas algumas pessoas que ainda não debandaram. E são essas as poucas personagens do livro.
Há sete anos Dirk t’Larien se separou da mulher que ama e desde então passou a viajar por muitos planetas, com muitos destinos, mas nenhum rumo. Quando a joia sussurrante (um cristal trabalhado para conter emoções/pensamentos) que trocara com sua amada Jenny — contendo uma promessa de voltarem um ao outro — o chama de volta para ela, Dirk embarca para Worlorn sem pensar duas vezes.
"Envie esta lembrança, e eu virei. Não importa onde eu esteja, ou quando, ou o que tiver se passado entre nós. Eu virei, e não farei perguntas."
Mas as coisas em Worlorn não estão como ele pensava. Gwen (nome real de Jenny), tem uma relação — que na cultura de Dirk seria equivalente ao casamento— com outros dois homens. Essa relação típica da cultura kavalariana espanta pessoas de outras culturas pela posição submissa ocupada pela mulher (algo que lembra muito os Dothraki n’As Crônicas de Gelo e Fogo).
Assim, Dirk passa a acreditar, induzido por Arkin Ruark, amigo kimdissiano de Gwen, que ela lhe enviou a joia como uma forma de pedir resgate, para se libertar da vida a que se submeteu com os kavalarianos Jaan Vikary e Garse Janacek.
O choque entre as culturas diferentes é um dos pontos fortes do livro, sendo ressaltado diversas vezes. Até mesmo a cultura dos oriundos de Alto Kavalaan diverge muito entre os quatro grandes grupos que a compõem. Comparado aos Braiths, Jaan e Garce, pertencentes ao grupo rival Jadeferro, são muito mais flexíveis, pois não caçam pessoas como se fossem animais nem tratam as mulheres como objeto.
Nesse contexto pouco amistoso, Dirk se envolve em tensões tanto com os Jadeferro, quanto com os Braiths, o que leva à expansão do cenário para algumas outras cidades de Worlorn. Cenário este que, embora fascinante, é perpassado pelo abandono, o que torna o livro todo meio que modorrento.
As poucas cenas de ação, que só existem na segunda metade do livro, não funcionaram comigo de modo a causar ansiedade e avidez pela leitura. Os personagens, mesmo sendo bem construídos, não me cativaram, devido a imensa apatia que o decadente planeta exala. O ponto positivo fica a cargo das revelações que transformam o cenário da trama, oferecendo uma nova visão dos acontecimentos que motiva a leitura.
Comecei A Morte da Luz com grande expectativa, afinal trata-se de (ninguém menos que) Martin escrevendo ficção científica espacial. A premissa do livro o vendeu como uma leitura que “prende o leitor” e “nunca fica maçante”, onde “caçador e presa trocam de lugar a todo momento”. Mas o que li foi uma história tão moribunda quanto o planeta em que se passa, que apesar de bem escrita é impassível de agradar a quem procura pela intensidade característica da obra aclamada do autor.