maitecoropos 18/01/2023
A VIDA NÃO É ÚTIL
Acabei de revisitar minha resenha de "Ideias para adiar o fim do mundo", escrita há poucos dias. Percebo que termino minha segunda leitura de um livro do Krenak com outro olhar, e começo a escrever esta resenha partindo de um lugar muito diferente. A "presença pungente da esperança" é substituída pela dor da experiência do desastre. Ler "A vida não é útil" logo após a leitura de "Ideias para adiar o fim do mundo" é como reviver a sensação de desamparo trazida pela pandemia de Covid-19. Durante a leitura, em diversos momentos, fui invadida pelo sentimento de desesperança - principalmente nos trechos em que Ailton fala sobre a verdadeira transformação da maneira como os humanos existem na Terra, que a pandemia deveria ter despertado. Não há nada mais triste do que a constatação de que, enquanto coletivo humano, ainda que diante de uma catástrofe, não somos capazes da simples revolução de ouvir o comando de parar de comer a Terra. Em outros momentos da leitura, porém, as palavras escolhidas pelo autor nascem em solo de pura esperança - como quando ele dá ênfase à resistência do povo Krenak, e de outros os povos originários espalhados pelo mundo. Acredito na frustração como propulsora da esperança, e no medo como propulsor da coragem. E me parecem cada vez mais tangíveis as principais ideias que dão contorno ao pensamento de Ailton Krenak: a de que o "sobrenatural" está na natureza, a de que o futuro é agora, e a de que a transcendência é aqui.