carlosmanoelt 25/05/2024
?Ele era minha morte.?
?Ele era o portador da memória do meu mundo de origem. Ele concretizava o meu passado. Com ele eu percorria todas as épocas da vida, da minha vida?.
Para além das reflexões sobre a percepção da sociedade francesa acerca do relacionamento entre um homem mais jovem e uma mulher mais velha ? e sobre como o jogo se subverte quando trocam-se os gêneros e as gerações, um homem mais velho com uma mulher consideravelmente mais jovem ? Annie nos diz ainda mais.
?O jovem? discute também sobre as relações de poder e as diferenças de classe que marcam a breve relação. Ela nos diz entender que havia uma espécie de conveniência: em troca do prazer e da possibilidade de reviver experiências que nunca imaginaria repetir, ela lhe possibilitava viagens e lhe poupava a busca por um emprego.
Neste tópico há um ponto interessante: se para ele, o trabalho era uma obrigação à qual não queria se submeter ? mantendo-se, digamos, independente das engrenagens do mundo ? para ela foi justamente o trabalho que possibilitou a independência, uma condição para sua liberdade.
É um contato aparentemente fugaz com a escrita de Annie Ernaux. Mas não se engane, há tanto para formular e refletir em suas poucas páginas, no passeio pela vida e pela obra da escritora francesa, num olhar único sobre o sexo, os afetos, o tempo e a memória.